sexta-feira, 30 de setembro de 2011

FINALMENTE UM ROTEIRO PARA O POP DAS EMPRESAS CONTROLADORAS


Custou, mas conseguimos. Tenho sido bombardeado para escrever um post sobre o tal do POP – Procedimento Operacional Padronizado – um documento formal exigido pela RDC 52, a Portaria que rege as atividades das empresas controladoras de pragas em nosso país (até segunda ordem). Fui pesquisar esse tema e achei que deveria solicitar o auxílio de uma especialista, a bióloga Lucy Ramos Figueiredo, Diretora Técnica da ABCVP, que tem larga experiência no assunto. Depois de muito insistir, ela conseguiu encaixar entre seus 4.812,5 afazeres, um tempo para escrever um post exclusivo para o Higiene Atual, pelo que agradecemos em nome de nossos leitores e deste Editor. Aí vai, portanto, um ótimo post sobre o POP.

DIZEM QUE O PAPA É pop ... MAS O QUE É UM POP???
O papa é pop. Assim dizia uma letra de música, referindo-se a um papa popular. Daí, ouvimos algumas pessoas perguntando o que é um POP. Outro assunto! POP, pop, muita confusão, muita informação... Então, vamos esclarecer?
POP é uma abreviação para Procedimento Operacional Padronizado.
PROCEDIMENTO- modo de fazer, técnica
OPERACIONAL- que contribui para a obtenção de um resultado pretendido, método
PADRONIZADO- resultado com tendência à uniformização

O POP é um documento exigido pela RDC 52, por meio do qual as empresas de controle de pragas sinantrópicas devem apresentar os procedimentos realizados para realização dos serviços prestados. É necessário lembrar que o serviço não envolve tão somente a parte executiva. Assim, temos um vasto conjunto de POP’s que compõem um Manual de Boas Práticas, o qual descreve os diferentes procedimentos adotados pela empresa e que se relacionam, direta ou indiretamente, com a execução propriamente dita. Os POP’s englobam “o modo de fazer” para vários temas: controle por praga, controle por técnica de aplicação, gerenciamento de risco, uso de armadilha para monitoramento por praga, segurança de trabalho, perfil das instalações, guarda e descarte de embalagens vazias, transporte de produtos químicos e por aí em diante, ou seja, todo e qualquer procedimento executado por uma empresa prestadora de serviços de controle de pragas deve ser documentado em forma de uma instrução técnica, detalhada passo a passo, visando dar suporte a todo e qualquer executor da tarefa a seguir “o mesmo caminho”. O POP deve ser claro, objetivo, assertivo, ter instruções sequenciais, sem deixar de conter a instrução completa. A grosso modo, o POP é uma receita de bolo a ser adotada para que não haja desvio significativo nos procedimentos, evitando não conformidades. O POP, como ferramenta de segurança, deve garantir a não ocorrência de variações indesejáveis no resultado final, podendo gerar riscos. Tendo como comparativo a referida receita de bolo, esta tem como objetivo dar a base de procedimento para que um bolo tenha sempre o mesmo resultado, seja elaborado por A, B ou C. Assim como na feitura do bolo, ocorrerão desvios aceitáveis por conta de uma eficiência maior ou menor (por conta de um forno, no caso do bolo) ou por conta de um equipamento mais novo ou mais antigo, no caso de uma pulverização. Ainda que estes desvios devam ser minimizados por medidas mitigadoras, podem efetivamente ocorrer, mas dentro de níveis toleráveis. Assim, um POP tem como meta a padronização de cada procedimento, sendo um material de conteúdo a ser utilizado para o treinamento de equipes técnico-operacionais ou gerenciais.
A elaboração de um POP, em forma de uma instrução de consulta e treinamento, é de responsabilidade dos RTs - Responsáveis Técnicos. A confecção de POP’s é trabalhosa e o RT precisa disponibilizar uma carga horária diária específica para a produção e finalização da tarefa. Um POP deve ser atualizado, minimamente, a cada ano, mas o ideal seria atualizar sempre que um procedimento for alterado, incluído ou excluído, por força da evolução dos conhecimentos. O POP representa o backup escrito das ações da empresa. É um processo dinâmico, que exige o envolvimento e o conhecimento da empresa por quem o elabora. Reforçando, o RT é a pessoa legalmente responsável pela feitura, atualização, verificação e monitoramento aplicação dos POP’s. Em caso de contratação de um consultor externo para confecção de POP’s, este deve estar informado sobre os procedimentos da empresa, acompanhando execuções, visitando instalações, enfim, conhecendo a rotina detalhada para ser fiel aos procedimentos adotados pela mesma ( “passeio ambiental”, segundo Lucia Isabel Araújo ). O POP, como ferramenta de treinamento, é um documento-guia que tem como alvo a passagem de informação, a rigor, da mesma informação para toda a equipe. Um POP não pode ser copiado, como alguns supõem, pois são criados mediante uma realidade executiva de cada prestadora de serviço de controle de pragas sinantrópicas. Os processos de certificação e auditorias têm como exigência a apresentação destes documentos, associando o que está escrito com a prática. O POP, como ferramenta de rastreabilidade, deve ser checado pela fiscalização para ver se o que está no papel é o que realmente ocorre na empresa.
Segundo as RDC 275 e a RDC 216:
Os POP’s referentes ao Manejo Integrado de Pragas devem contemplar as medidas preventivas e corretivas destinadas a impedir a atração, o abrigo, o acesso e a proliferação de vetores e pragas urbanas. No caso de adoção de controle químico, o estabelecimento deve apresentar Comprovante de Execução de Serviço fornecido pela empresa especializada contratada, contendo as informações estabelecidas em legislação sanitária/ambiental específica.
Então? Esperamos ter contribuído e ter tornado o tema POP um pouco mais pop, quer dizer, um pouco mais popular e acessível a todos aqueles que desejam, acertadamente, elaborar estes documentos de grande valia para as empresas.
Faça seu POP como uma receita muito especial, que será suporte e referência para os funcionários de sua empresa. Cada empresa tem sua política, suas técnicas e seus procedimentos. Retrate estas características de forma simples e fiel. Padronização significa QUALIDADE, mas com atendimento aos desejos dos clientes. A racionalização de tarefas aumenta a eficiência operacional, ou seja, tem um potencial de impacto nos lucros. Anexar FISPQ, Fichas de emergência, Fichas técnicas, Manuais de equipamentos e outros que auxiliem na operação e gestão agrega valor aos POP’s. Referências bibliográficas são parte integrante dos POP’s.
Escrever POP é buscar a qualidade através da capacitação. E qualidade não é um estado, é um processo.
Autora: Lucy Ramos Figueiredo

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

26 DE SETEMBRO: DIA DO PROFISSIONAL CONTROLADOR DE PRAGAS


Pela segunda vez neste blog, comemoro o dia do profissional controlador de pragas. Fiz um belo almoço comemorativo (mini paella valenciana) e abri uma garrafa de meu vinho italiano preferido atualmente (Malvazia Nera, safra 2008). Enquanto isso, outra vez rememorei passagens interessantes de minha vida profissional, incluindo um hilário encontro de um de meus operadores (sim, eu tive uma empresa controladora há tempos atrás) com um solerte esqueleto armado em pé, aguardando uma palestra médica que iria acontecer na manhã seguinte. Era um congresso médico em um dos hotéis atendidos por minha empresa e, tarde da noite, meus três operadores que estavam executando o tratamento, decidiram se dividir para cobrir todas as áreas. Um para cada andar e coube ao Geraldinho (aquele mineirinho que era especialista em inventar novos vocábulos da língua portuguesa, tais como "desimpossível") tratar as salas de conferências todas já preparadas e prontas para receber os palestrantes. Em uma sala, sobre a mesa, uma réplica de um coração em ponto grande; Geraldinho entrou na sala, olhou a peça e me chamou perguntando o que era aquilo. Expliquei, ele ficou admirado e comentou que ao ver a peça, pensou que deveria ser o coração de uma avestruz, pois notara a semelhança com coração de galinha que ele saboreava nos churrascos da vida. Achei inteligente e decidi acompanhá-lo nas demais salas, pois certamente haveria outras surpresas e situações, era só uma questão de tempo. Contando com isso, chamei os outros dois operadores e formamos um grupo de espectadores acompanhantes, enquanto Geraldinho seguia em frente abrindo e entrando em novas salas. Na sala seguinte, sobre a mesa, uma grande réplica plástica de um olho humano com todas as estruturas expostas. Geraldinho ficou espantado e, enquanto trabalhava, não tirou o olho do olho, especialmente depois que um dos colegas disse brincando que esse olho movia-se acompanhando o movimento da pessoa que passasse em frente (um efeito ilusório que frequentemente parece existir em quadros pintados, quando o pintor coloca os olhos mirando bem em frente). Pelo sim e pelo não, Geraldinho terminou rapidinho o tratamento daquela sala e saiu pressuroso. Sala seguinte, Geraldinho, deixado por nós propositalmente à frente do grupo, abriu a porta e acendeu a luz. Bem à sua frente, coisa de um ou dois metros, surge um esqueleto humano (de plástico) preso a um suporte e em posição ereta, com o crânio coincidentemente voltado para a porta. O susto que Geraldinho tomou foi tamanho, que o pulverizador que ele levava ao lado do corpo escorregou e caiu, enquanto ele literalmente pulava para uma distância que ele julgou segura, sob nossas gargalhadas. Pálido, ele nunca havia visto um esqueleto ao vivo e a cores, olhos esbugalhados, murmurava alguma coisa que nunca saberemos o que era. E quem disse que algum de nós conseguiu fazer com que ele retomasse o trabalho naquela sala? Nervoso, dizia que ali ele não entraria mais, pois ele não conseguia sequer imaginar o que iria ter na sala seguinte! Cena muito engraçada! Parabéns, Geraldinho e colegas, pelo seu dia de hoje, estejam onde estiverem!

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

A RATAZANA É FIEL À SUA VIZINHANÇA (Rattus norvegicus)


Um estudo publicado na revista Molecular Ecology e citado pelo Science Daily de 27/5/2009, nos conta que, embora as ratazanas (Rattus norvegicus) pareçam que andam sem destino pelas ruas, esgotos e terrenos baldios, na verdade elas são fiéis às suas vizinhanças onde passam a maior parte de suas vidas. Esse estudo foi feito na cidade de Baltimore compreendendo 11 áreas residenciais de onde foram capturadas 300 ratazanas as quais foram estudadas geneticamente para observar possíveis graus de parentesco entre elas. Vale dizer que a cidade de Baltimore nos últimos 50 anos tem conduzido caros programas de controle da população murina, mas o número de ratos aparentemente continua o mesmo, sem grandes mudanças. Os pesquisadores da Escola de Saúde Pública Johns Hopkins Bloomberg capturaram os espécimes para o estudo, nos dois lados do largo rio (Jones Falls) que corta a cidade em dois e em cada lado separaram duas comunidades de ratos de 11 quarteirões infestados cada; cada uma dessas áreas Cada comunidade foi então dividida em territórios equivalente a uma rua de área. Em cada território os ratos residentes foram examinados quanto a seu código genético para estudar possíveis parentescos. Os pesquisadores descobriram que essas ratazanas tipicamente permaneciam sempre próximas a seus territórios, raramente se aventurando fora de seu quarteirão, embora observassem que em caso de necessidade, algumas delas podiam percorrer quatro ou cinco quilômetros de distância para repovoar áreas abandonadas. Os estudos sugeriram que ratazanas embora raramente emigrem, os esforços de combate podem fracassar devido a essa tendência a repovoar áreas vazias, razão pela qual os pesquisadores recomendam maior abrangência geográfica das campanhas de controle dos roedores.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

ÓRA ESSA! BARATAS PREFEREM DOBRAR À DIREITA!


Tem cada coisa sendo descoberta todos os dias! Um grupo de pesquisadores (todos muito sérios) da Universidade do Texas decidiu estudar a lateralização do cérebro de... baratas de esgoto (Periplaneta americana). Queriam saber se as baratas têm predominância de lado em seus cérebros, como os humanos. A lateralização é bastante estudada em vertebrados, mas poucos estudos existem em insetos. Os pesquisadores decidiram estudar o comportamento das baratas americanas em seu processo de decidir para que lado ir quando lhes é dada a opção de escolha. As baratas eram colocadas em um tubo de vidro em forma de Y e tinham que decidir para que lado ir, esquerda ou direita. Nas extremidades do tubo era colocado baunilha e etanol ao acaso, para atrair as baratas e as posições dessas substâncias eram constantemente trocadas de posição. Em seguida, uma das antenas das baratas (de forma alternada) era parcialmente amputada para verificar se isso influiria na decisão de caminhar para a esquerda ou para a direita (como sabemos, as antenas das baratas são responsáveis pelos sentidos do olfato e do tato). Uma simples análise estatística do ensaio mostrou que o etanol e a baunilha não interferiram significativamente na escolha de para qual lado a barata caminharia. O dano a uma das antenas de fato influiu na decisão da barata, mas quando ambas as antenas eram parcial e igualmente amputadas, houve uma clara tendência de optar por dobrar à direita. A conclusão que os pesquisadores chegaram é que a barata P. americana têm uma dominância à direita quando se trata de olfato e tato.
E o que é que isso nos ajuda, aos controladores de pragas. Sei lá, mas fico imaginando que se dispusermos iscas ou armadilhas colantes sempre no lado direito das quinas, quem sabe não aumenta nossa margem de sucesso em combater baratas de esgoto?

(post baseado e adaptado da revista Journal of Insect Behavior – Vol 24, Número 3, 175-185)

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

SOBRE OS PIOLHOS DE GALINHAS (Dermanyssus gallinae)


Recebo de um amigo e leitor, uma consulta sobre o piolho de galinhas (Dermanyssus gallinae) em ambiente urbano. Relata que deparou com um caso de alta infestação em galinhas criadas no quintal de uma residência e que estariam já invadindo até a casa do proprietário, criando uma situação bem séria. Então, vamos aproveitar a oportunidade para darmos um passeio (como sempre faço) sobre esse tema.
Piolho de galinhas, ácaro das galinhas, ácaro vermelho, piolhinho, bicho de galinha, carrapato de galinha e outros nomes populares e regionais deste país continente. Na avicultura industrial, torna-se uma temível praga que afeta fortemente a aves de postura, principalmente, porque espoliam a ave, sugam-lhe o sangue podendo levar à anemia, causam enorme stress com conseqüente queda na produção de ovos. De fato, no sistema de criação em gaiolas, a galinha poedeira mal consegue virar-se para poder remover com o bico os ácaros que se alojam em sua cloaca; há granjas que usam o sistema de colocar até duas poedeiras por gaiola, prática que impossibilita qualquer movimento que a ave possa executar para remover os ácaros de sua cloaca. Eu, particularmente, embora entenda a busca pela produtividade, abomino essa prática. Mas voltemos ao tema.
Duas espécies de ácaros se confundem sob o nome de ácaro vermelho das galinhas: o Demanyssus gallinae (prevalente) e o Ornythonissus bursa (menos frequente). Como ambos têm ciclos biológicos e ações daninhas muito parecidos, vamos nos ater ao mais comum que é o D.gallinae. O ácaro vermelho (assim chamado porque ao se alimentar fica ingurgitado com o sangue da pobre galinha) é um ectoparasita de galinhas e de outras aves (pombos, pardais, etc). Costumam passar o dia escondido em fendas e gretas das instalações onde as aves estão alojadas (onde cruzam e põem seus ovos) e à noite, buscam-nas para se alimentar. Em condições ideais, seu ciclo biológico pode se completar em apenas sete dias (adulto, ovo, larva, ninfas e adulto novamente). Embora precisem de uma ave para completar seu ciclo, os ácaros vermelhos podem infestar mamíferos incluindo os humanos, causando dermatites e lesões de pele. Além da espoliação, os ácaros vermelhos podem transmitir doenças às aves como a salmonelose e a espiroquetose aviária. O dermanissus pode sobreviver em um galpão vazio de aves, por até 10 meses.
O combate aos ácaros vermelhos passa pelo tratamento das aves, mas principalmente pela desinfestação das instalações. Claro que ideal seria tratar as instalações quando estivessem vazias, sem a presença das aves. Na avicultura industrial esse período se chama “vazio”, mas em uma criação doméstica, as galinhas estão sempre presentes, de forma que ao planejarmos o combate, temos que tratar as aves e as instalações ao mesmo tempo. Antes de tudo, é preciso ter em mente que as infestações por ácaros vermelhos são muito persistentes e um tratamento isolado dificilmente resolverá o problemas, tendo que ser repetido algumas vezes com intervalos relativamente curtos (máximo de um mês); todavia, não deve ser muito curto (mínimo de uma semana), pois as aves podem se intoxicar.
Se não estivermos lidando com cepas já resistentes a certos acaricidas, até que o tratamento é relativamente simples, uma vez que os ácaros são sensíveis à maioria dos biocidas. Bons piretróides, carbamatos (como o propoxur) e até organofosforados rápidos (como o DDVP), em dosagens leves, podem ser utilizados quando pulverizados ou polvilhados brevemente nas aves. Quando o número de galinhas é relativamente pequeno, pode-se executar o tratamento uma a uma, colocando o acaricida diretamente na cloaca por gotejamento ou polvilhamento (se o produto for um pó seco). Mas, como os ácaros concentram-se nas instalações e não nas aves, é ali que devemos priorizar a aplicação dos acaricidas. Frestas, reentrâncias, gretas, desvãos, além das próprias gaiolas (ou galinheiros) devem ser pulverizadas (ou polvilhadas) rigorosamente, incluindo as estruturas mais próximas que possam estar servindo de esconderijo diurno aos ácaros. Experimentei com muito sucesso um produto microencapsulado, certa vez, que sequer influiu na postura do plantel. Não esqueçamos que ninhos de aves silvestres nas proximidades do galinheiro, pinteiro ou galpão, devem ser removidos e evitados.

domingo, 4 de setembro de 2011

OUTRA VEZ FALANDO SOBRE PERCEVEJOS DE CAMA (BED BUGS)

A julgar pelos insistentes pedidos de informação que recebo sobre os percevejos de cama (Cimex lectularius), mundialmente conhecidos como Bed Bugs, esse problema deve estar acontecendo com grande freqüência e de forma preocupante, especialmente para os controladores profissionais de pragas a quem, em última análise, espera-se que saiba o que fazer. Vamos dar uma volta nesse tema evitando detalhes da biologia já abordados em post anterior.
Por volta dos anos 50, 60s e 70s, os percevejos atacavam rijo e eram considerados uma das principais pragas principalmente de hotéis, hospedaria, pensões e assemelhados em muitos países e regiões do globo. Já na década de 50 começou um intenso uso de DDT (seguido do uso sucedâneo do malation) para combater esses percevejos e os resultados foram ótimos. Esses compostos não só eliminavam as infestações, como davam um efeito residual que perdurava por muitos anos. O DDT, um inseticida clorado considerado o “pai” de todos os inseticidas modernos, foi apontado, na época, o “inseticida perfeito” para controlar os percevejos de cama. Porém, exatamente essa “qualidade” do DDT é que foi sua ruína, tal o volume de intoxicações agudas e crônicas que causava em pessoas que entravam em contato direto com esse poderoso inseticida, até que ele acabou sendo banido para uso urbano e finalmente também na lavoura. Além do que, o intenso uso do DDT de 1945 a 1955 no combate aos percevejos de cama, acabou por disparar o surgimento de percevejos resistentes, por sorte, sensíveis ao malation. Seja como for, essa praga praticamente desapareceu, ou era isso que se pensava. Nos últimos anos, contudo, os cimicídeos (nome que engloba todas as espécies de percevejos) retornaram e com força total. Nos Estados Unidos, por exemplo, mais de 30% dos hotéis e assemelhados encontram-se infestados por percevejos de cama, causando grandes prejuízos econômicos à rede hoteleira e riscos aos usuários. Um conhecido meu hospedou-se recentemente em um hotel quatro estrelas próximo ao centro de Nova York e lá ficou apenas por uma noite, tendo até sido trocado de quarto porque foi picado por vários percevejos. Essa praga também já chegou ao Brasil (eu particularmente suspeito que nunca tivesse ido embora) e está se disseminando com rapidez.
Como ocorre essa dispersão? Como um percevejo pode ir de um local a outro com facilidade? Na maioria das vezes, de forma passiva, sendo levados de um local a outro no interior de móveis, bagagens, caixas, roupas, etc. Eventualmente podem ser transportados por morcegos, pássaros e até roedores, seus hospedeiros naturais. De qualquer forma, fazem de hotéis e assemelhados, abrigos, complexos de apartamentos, dormitórios e congêneres seus habitats urbanos. Os percevejos têm clara preferência a se alojar próximo de suas fontes de alimento, ou seja, onde existam seres humanos, um suprimento precioso de sangue. Mas, se um incauto percevejo se meter a picar uma pessoa desperta, vai ser pronta e rapidamente esmagado com um solerte tapa da quase vítima. De forma que os espertos percevejos esperam que a pessoa durma para só então buscar sua próxima refeição. Picam à noite, quando estamos dormindo, os bandidinhos. Se a vítima tiver sono pesado, azar! Essa é a razão pela qual os percevejos se alojam preferencialmente nas dobras de colchões ou mesmo no seu interior, entrando por rasgos que possam ter. Alojam-se também na fendas e gretas das estruturas das camas ou dentro delas em camas tubulares de metal. Abrigam-se atrás de painéis e outras estruturas do quarto, embaixo de tapetes e outros locais onde possam se esconder durante o dia.
E daí? Como faço para combatê-los? Bem, não posso usar mais nenhum daqueles poderosos inseticidas clorados ou mesmo fosforados devido aos agora conhecidos riscos de intoxicação das pessoas que possam fazer uso das instalações tratadas. O combate aos percevejos hoje em dia envolve muitos fatores ambientais, tanto quanto o uso de algum biocida, se quisermos zerar a infestação em um dado local. O profissional controlador tem que ser metódico e detalhista, enquanto que o contratante tem que entender a extensão do problema, ser cooperativo e ter paciência até que os resultados finais apareçam. Quase nenhuma infestação será erradicada com apenas um tratamento isolado; essa meta poderá ser atingida, mas vai requerer uma série de tratamentos intervalados, além de mudanças ambientais (Manejo Integrado de Pragas - MIP lembram-se?)
Um guia passo a passo do controle de percevejos da cama (bedbugs) poderia ser, a grosso modo, assim delineado:
• Rigorosa inspeção das instalações infestadas incluindo áreas adjacentes de possível infestação. Ex: todos os quartos do mesmo andar onde se situa um quarto infestado em um hotel. Talvez até de andares próximos.
• Cuidadosa localização dos pontos onde os percevejos possam estar se abrigando.
• Detalhado planejamento do “modus operandi” no combate a ser executado. Lembre-se que um hotel, por exemplo, dependendo da época do ano, não pode manter muitos quartos interditados por longos períodos de tempo.
• Apresentar e discutir o planejamento com o contratante, procurando sempre explicar as razões biológicas que serviram de base para seu plano. Obter sua cooperação a qualquer custo.
• Implementar as ações de combate, de correção ambiental e de prevenção (estou novamente falando de MIP, certo?).
• Estabelecer um programa de monitoramento periódico para surpreender novas infestações ainda quando iniciais.
E como proceder para o tratamento com biocidas (eliminação das infestações já existentes)? Pelo menos por enquanto, há poucas notícias no mundo inteiro sobre o surgimento de linhagens de percevejos resistentes a certos grupos químicos dos biocidas, o que é um ponto a nosso favor. Como posso tratar?
• O ideal é o expurgo dos colchões, boxes e mobiliário infestados, fazendo uso do gases apropriados, como o brometo de metila. Não recomendo esse método para o profissional que não o domina, por ser de alto risco. Trata-se do emprego de um gás letal se inalado por seres humanos e, portanto, só com conhecimento de causa e medidas adequadas e apropriadas de segurança. Vai requerer uma câmara de expurgo ou uma envelopagem da pilha de colchões rigorosamente vedada com lençol plástico e exposição ao gás por 72 horas. Nada resiste a esse tipo de tratamento, mas, repito, é um procedimento técnico de grande risco e não vai ser nesse blog que o profissional controlador vai encontrar a metodologia operacional do expurgo.
• Não sendo ou não podendo expurgar, podemos pensar no uso de vapor de água para eliminar os adultos, as larvas e os ovos dos percevejos. Aplicar vapor com um desses equipamentos portáteis pode ser uma alternativa ecológica e eficaz, pois a temperatura do vapor atinge 100˚C que é letal para as diferentes formas do percevejo.
• Entre as medidas não químicas que poderão ajudar a erradicar infestações, podemos citar o uso apropriado de aspiradores de pó, a selagem dos colchões em sacos plásticos resistentes, o fechamento de gretas, pequenos desvãos e outros possíveis esconderijos dos percevejos.
• O emprego de biocidas deve ser fortemente considerado ao lado de medidas alternativas não químicas. Embora os percevejos de cama sejam sensíveis à maioria dos inseticidas, no mercado brasileiro não há muitos produtos que tenham no rótulo a indicação de uso contra essa praga. Em princípio porque as indústrias produtoras desses biocidas não estavam muito atentas para esse nicho de mercado e não se dedicaram a testar seus produtos contra os cimicídeos; consequentemente, não têm essa indicação nos rótulos. Dessa maneira, os profissionais controladores de pragas devem ser muito criteriosos na escolha dos biocidas que vão utilizar.
• A meu ver, formulações em pó, pós molháveis e microencapsuladas seriam as mais indicadas para o controle químico dos percevejos de cama, desde que correta e adequadamente aplicadas, sem expor os seres humanos a maiores riscos. Lembrem-se que uma pessoa vai passar pelo menos oito horas deitada em um colchão a cada noite.
O assunto é vasto e poderíamos abordar ainda muitos aspectos do tema, mas isto aqui é apenas um post. Quem sabe nossos leitores mais atentos possam ter tirado alguma informação útil desta nota. Quem sabe!