sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O “CAUSO” DO REI DOS RATOS


Faz um tempão que não conto um dos “causos” de minha vida profissional, então vou voltar a contar um deles neste post. Trata-se do “causo” do Rei dos Ratos. Corria o início da década de 70 e, na época, eu trabalhava (entre tantos empregos) na Prefeitura de São Caetano do Sul/SP, desenvolvendo e chefiando a Seção que se tornaria a atual Vigilância Sanitária Municipal. Um dia, recebi a visita de duas pessoas interessadas em promover um raticida, um dos primeiros a surgir no mercado brasileiro à base de warfarina (cumafeno). Tratava-se do representante comercial de uma empresa campineira e de Dr. J.J. (omitiremos o nome por razões éticas e mesmo porque esse senhor já deve ter falecido. Se não faleceu, já deve estar para lá de Bagdad com uns 130 anos talvez!). Era um biologista canadense de língua francesa que mal falava português, contratado pela empresa distribuidora para assessorar tecnicamente as vendas. Estou falando de uma época onde bem poucos profissionais neste país entendiam alguma coisa de roedores, assunto então praticamente desconhecido; eu já havia me interessado por esse tema e já havia começado a estudá-lo meio na raça e com grande dificuldade, pois não existiam as facilidades incríveis que a Internet trouxe, décadas depois.
Pois bem, na entrevista, começou o tal de J.J. a discorrer sobre roedores, sequer imaginando que estava conversando com outro profissional que talvez já conhecesse um pouco do assunto. À medida que palrava, ia se entusiasmando e eu mais me mostrava interessado, posto que os disparates que ele contava como se verdade fossem, muito me divertia. Em um dado momento, ele começou a falar da existência de diversos reis dos ratos, afirmando que ele próprio havia sido testemunha ocular do encontro de alguns desses reis. Ao final da divertida entrevista recebi, das mãos do representante comercial da empresa, um verdadeiro tesouro: uma pequena cópia impressa de uma palestra do Dr. J.J. sobre ratos, a qual sempre guardei como preciosidade até a presente data. Vou reproduzir fielmente alguns trechos desse opúsculo, apenas corrigindo um pouco o português para torná-lo mais compreensível:
Dizia Dr. J.J.:- "... e nós mesmos tivemos a ocasião de encontrar em uma cova na Província de Quebec no Canadá, exatamente em Granby, uma corte do rei dos ratos. Assim chamamos a um conjunto insólito de uma vintena de ratos atados todos pelas caudas e vivendo assim por anos. A que se destinava essa corte, nós perguntávamos. À reprodução? Seus aparelhos genitais eram particularmente desenvolvidos. À comandar? Seus cérebros eram muito mais volumosos que os ratos normais. Não temos respostas” (nessa altura, interrompi o relato perguntando se ele havia tirado uma foto dessa corte ao que ele negou).
E J.J. continuava explicando com cara séria:- “... eu vos descrevo esses indivíduos: eles medem 72 cm de altura, em média pesando 2,800 a 3kg, com pelos longos de 6 a 7cm, embranquecidos pela idade (caramba, pensei, se eu um dia me visse diante de um rato desses, ia sair correndo!).
Acrescentou ele, percebendo meu interesse: “... Essa corte de 20 ratos estava deitada em um leito de lã picada e ao redor dela encontramos cerca de 800 cadáveres mais ou menos de ratos enormes, os quais, ainda que menores, não pesavam menos de 2kg cada um. Alguns desses ratos tinham um aparelho digestivo um tanto especial: eles tinham um estômago de refluxo... pensamos que esses ratos deveriam comer primeiro o alimento destinado aos seus senhores e devolviam o deglutido a seus mestres que, assim, não tinham nenhum esforço a fazer. Seria isso uma espécie de geléia real? Pensamos que sim, pois esses ratos deitados tinham, segundo nossos exames, 35 anos de idade.” (A essa altura, eu já estava sem fala!)
E J.J. arrematou com voz grave e expressão séria, em tom de ameaça quase:- “... eu penso que existe em todas as cidades do Brasil, um rei dos ratos” (Pronto, pensei! Eu estava frito. Minha pequena São Caetano com um rei e sua corte de 20 ratos!). Mas, para meu alívio, aduziu: “... a confirmação ainda não foi feita, pois eles são extremamente difíceis de serem achados. Aquele de Granby, estava a 16 metros do nível da terra embaixo de um segundo porão de uma casa, em uma cova de 1,80m de altura e 3m de diâmetro, com condutores de ar que mediam até 65m de comprimento e com sifões que impediam a inundação da cova”. (Mas que imaginação tinha o gajo! Desde aquele momento até hoje, acho que essa apostilazinha daria em um excelente roteiro para um filme de ficção e terror)
Essa entrevista durou umas duas horas, se lembro. Talvez um pouco mais, pois eu me mostrava propositalmente fascinado. Com certeza eles já estavam dando como certa a venda de um zilhão de toneladas do tal raticida para minha Prefeitura. Ficaram até hoje de mãos abanando, ainda que eu renda minhas justas homenagens póstumas ao Dr. J.J. por sua extraordinária capacidade imaginativa. Nunca encontrei em toda minha vida profissional, alguém com criatividade parelha a daquele senhor. Bem, na verdade encontrei, mas sobre esse honroso segundo lugar, falarei algum dia, depois que ele falecer, obviamente!
E nesse ritmo a entrevista continuava com o J.J. acrescentando novas e incríveis pérolas de conhecimento sobre roedores. Mas, volto ao assunto outro dia e lhes conto. Aguarde.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

SOBRE OS INSETICIDAS – PARTE III


Terceiro capítulo dessa emocionante novela “Os inseticidas”. No capítulo anterior, vimos que os IGRs (Insect Growth Regulators), também conhecidos como Reguladores do Crescimento dos Insetos, entravam em cena à galope, desfraldando a bandeira dos inseticidas politicamente corretos, auto sustentáveis, ecológicos, entre tantas bandeiras da modernitude.

IGR (inibidores do crescimento dos insetos):- constituem um moderno grupo de inseticidas, único por afetarem unicamente os processos metabólicos dos insetos e não de mamíferos. Um tipo de IGR, os Juvenóides, interfere no crescimento de insetos por imitar a presença do hormônio natural juvenil (JH), cuja ausência deflagra, na Natureza, o crescimento (e mudança) para a fase seguinte. Os insetos afetados pelo hormônio juvenóide sintético, podem apresentar retardos no desenvolvimento, mudanças de coloração da quitina, efeitos ovicidas (ovos não eclodem), adultos estéreis, asas atrofiadas e impossibilidade de mudança de fase acarretando a morte. Formam um segundo grupo de IGRs, os inibidores da síntese da quitina (a proteína essencial para formar o exoesqueleto dos insetos). Esse grupo interfere na formação de uma enzima sintetizadora da quitina, necessária para a formação de nova cutícula que ocorre a cada mudança de fase do inseto na Natureza. Resulta uma quitina mal formada, incapaz de suportar a pressão atmosférica e de sustentar a musculatura do inseto que, assim, morre na próxima mudança de fase. Ambos os grupos apresentam baixa toxicidade para mamíferos, pássaros, peixes e outras espécies não alvos. Alguns IGRs disponíveis no mercado são:
• Metoprene: um juvenóide que foi o primeiro IGR a ser comercializado, introduzido em 1975 para o controle de mosquitos. Apresentava rápida degradação na água e luz solar, problema contornado através de formulações mais resistentes e de lenta liberação (brickets). Usado em focos larvários com sucesso, mas não afeta pupas. Usado em aerossóis contra pulgas, apresenta longa vida residual.
• Hidroprene: muito ativo contra baratas e pragas de grãos. Introduzido na metade dos anos 80s, o hidroprene permite que as ninfas das baratas atinjam a idade adulta, mas esses adultos geralmente apresentam asas malformadas e são incapazes de se reproduzirem. Não afetando ninfas, o hidroprne destina-se a um controle a médio e longo prazo (entre quatro e seis meses), razão pela qual geralmente o hidroprene é empregado em associação a algum inseticida de efeito mais rápido.
• Fenoxicarb: introduzido no mercado nos final dos anos 80s, esse juvenóide foi utilizado para controlar baratas, pulgas e formigas fogo. Hoje é mais empregado apenas contra formigas.
• Piriproxifen: é um juvenóide de amplo espectro, ativo contra grande variedade de insetos (cupins, moscas, baratas, pulgas, mosquitos, etc). Tem longa vida residual. Pode ser associado a outros inseticidas quando se deseja um efeito mais rápido.
• Diflubenzuron: um inibidor de quitina, começou combatendo pragas agrícolas em 1976, é praticamente não tóxico para aves, mamíferos peixes e abelhas, mas é muito tóxico para invertebrados aquáticos. Hoje é muito utilizado na forma de iscas contra cupins.
• Hexaflumuron: outro inibidor da síntese de quitina, da família da benzoil-ureia descoberta em 1981 pela DowElanco. Não tem odor e apresenta alta solubilidade em água. Baixa toxicidade para mamíferos, aves e peixes, mas afeta invertebrados aquáticos. É empregado com sucesso contra cupins subterrâneos.

Neonicotinóides (ou clorocotinis): é um grupo moderno de inseticidas com mecanismo de ação diferente. No final dos anos 70s, químicos da Shell investigavam compostos denominados nitrometilenos que pareciam ser inseticidas potenciais e já em 1979, cerca de 2.000 compostos nitrometilenos estavam sendo estudados como inseticidas. Em 1985 a Bayer japonesa sintetizou a imidacloprid que mostrou-se ativa contra uma série de insetos. Na esteira, vieram outros neonicotinóides como o thiametoxan, o acetamiprid, o tiacloprid e o nitempiran.
• Imidacloprid:- essa molécula tem registro em mais de 120 países e é usada tanto em ambientes urbanos como agrícolas. Afeta grande variedade de insetos como moscas, besouros, cupins, pulgas, formigas e baratas. A imidacloprid é muito solúvel em água, não é volátil e é estável quando exposta à luz solar em terreno seco. É virtualmente sem odor nas formulações e atua nas sinapses nervosas do inseto, impedindo a acetilcolina de atuar no transporte do estímulo nervoso. No Brasil, foi introduzida no mercado na forma de isca contra moscas.
• Thiametoxan:- com mecanismo de ação semelhante ao imidacloprid, mas ocupando os dois sítios de acoplagem da acetilcolina que transporta o estímulo nervoso de neurônio para neurônio, esse composto apresenta resultados formidáveis no combate a moscas principalmente, embora possa ser empregado contra baratas. No Brasil já está sendo introduzido em diferentes formulações inseticidas com ótimos resultados, pela Novartis/Syngenta.

Sulfonamidas fluoralifáticas: por enquanto só há um composto representante desse grupo, muito utilizado contra formigas, baratas e iscas de cupins.
• Sulfluramida:- tem ação retardada o que permite que o biocida seja transferido de um inseto para outro na colônia (efeito dominó). É um inibidor metabólico para os insetos, de toxicidade oral e dermal baixa para mamíferos e levemente tóxico para peixes a artrópodes aquáticos.

Amidinohidrazonas: grupo representado pela hidrametilnona, sintetizada em 1977 pela American Cyanamid.
• Hidrametilnona:- entrou no mercado do controle de pragas em 1980 em várias formulações para o controle de baratas, formigas e cupins na forma de isca. Atua inibindo a formação do ATP (trifosfato de adenosina), responsável pela produção de energia dentro das células. Foi descoberto que a hidrametilnona encontrada nas fezes das baratas que ingeriram o produto, é capaz de eliminar outras baratas que ingerirem essas fezes (coprofagia é coisa corriqueira na Natureza). No mercado há formulações em pasta e gel.

Fenilpirazóis: outro grupo que tem apenas um representante já comercializado e que tem mostrado bons resultados contra mais de 500 espécies de insetos e ácaros (urbanos e rurais). Descoberto em 1987, começou a ser produzido comercialmente em 1993 e tem registro em mais de 100 países.
• Fipronil:- age por contato e/ou ingestão, afetando o sistema nervoso ao bloquear os canalículos de sódio do sistema nervoso central. Não sendo repelente aos cupins, o fipronil pode ser transferido a outros membros da colônia. Fluidos produzidos por baratas afetadas podem matar outras baratas que os ingerirem (efeito dominó). Também é bastante eficaz contra formigas e mesmo carrapatos. Disponível na forma de iscas de pronto uso, géis, pastas e líquidos para pulverização.

Avermectinas: são inseticidas derivados do fungo Streptomyces avermitilis, um microorganismo que vive no solo.
• Abamectina:- o fungo que a produz foi isolado em 1970 por pesquisadores da Merck a partir de solo coletado no Japão e dele foram isoladas quatro avermectinas de composições diferentes; a chamada abamectina tem 80% de avermectina A com 20% da avermectina B. Vida bem curta (24 horas) quando exposta ao sol, apresenta toxicidade baixa para animais não alvos e paralisa os mecanismos de alimentação do inseto, provocando-lhes a morte. É usada para controlar baratas, mas ainda não há nenhum produto domissanitário com esse i.a. disponível no mercado brasileiro.
Há outros compostos e outros grupos de menor importância no controle urbano de pragas que nao serao abordados neste post.

Não se pode falar de inseticidas sem abordar a questão das formulações, já que um determinado i.a. pode apresentar perfil bastante diferente conforme a formulação em que seja apresentado. Mas, isso será tema de outro post, OK?
Dá um tempo, meu!

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

SOBRE OS INSETICIDAS – PARTE II

Seguindo o que estávamos comentando na primeira parte deste tema, vamos falar um pouco sobre o grupo dos inseticidas orgânicos.
Inseticidas Sintéticos Orgânicos: é o maior grupo de inseticidas usado por controladores de pragas profissionais em nossos dias. Compreende: os organoclorados, os organofosforados, os carbamatos, os piretróides, os IDIs (Inibidores do Desenvolvimento dos Insetos), a sulfonamida fluoralifática, a amidinohidrazona, os fenilpirazóis e as vermectinas. Um pouquinho sobre cada classe.
Os organoclorados:- na molécula de todos eles há carbono, cloro e hidrogênio e foi o primeiro grupo dos inseticidas orgânicos sintéticos, ou seja, produzidos artificialmente pela indústria, marcando o ponto de virada na nossa eterna luta para controlar pragas (urbanas e agrícolas). Vejam a matéria que publicamos sobre o DDT aqui neste blog. Em boa parte dos países, a maioria desses compostos já está proibida, especialmente em zona urbana, como o próprio DDT, o aldrin, o BHC, o dieldrin, o lindane, o clordane e o heptaclor).
Os organofosforados:- na molécula há átomos de carbono, de hidrogênio e de fósforo. Comparados aos clorados, os fosforados são menos estáveis, mais voláteis e de ação mais rápida; outra característica: têm odor mais desagradável (problema resolvido nas formulações microencapsuladas). Atuam nos insetos inibindo a colinesterase, uma enzima responsável pela transmissão do estímulo nervoso nas conexões das células nervosas. Intoxicações acidentais podem ser tratadas com sucesso através de antídotos como o sulfato de atropina. Alguns organofosforados estão sendo alvo de preocupações ambientalistas e estão sendo banidos em muitos países do uso urbano ou em recintos fechados, como é o caso do diazinon e do malation. O clorpirifós foi muito utilizado por apresentar ótimos resultados em um amplo espectro de pragas. Atua por contato, ingestão e ação de vapor, com moderado efeito residual. A Dow Química introduziu vários produtos da linha Dursban no Brasil, à base de clorpirifós. Atualmente o clorpirifós tem seu uso restrito a áreas abertas. O diazinon, outro organofosforado muito empregado anteriormente e com muito sucesso, hoje também está sofrendo restrições e caminha para a proibição de uso, assim como o propetanfós. Dos organofosforados, o que tem vida comercial bem longa é o diclorvós (DDVP) porque sua meia vida é muito curta e se degrada no ambiente após ser aplicado, em não mais de 72 horas.
Os carbamatos:- a extinta Ciba-Geigy foi a empresa que no final dos anos 50 sintetizou os primeiros carbamatos que eram igualmente inibidores da colinesterase nos insetos, mas tinham caráter de reversão em caso de intoxicação acidental. O melhor exemplo desse grupo foi o carbaril, hoje em desuso, seguido do bendiocarb. Ainda em uso está o metomil desde 1966, ainda muito empregado contra moscas em diferentes formulações. O propoxur tem características interessantes, especialmente empregado na forma de aerossóis em produtos de uso doméstico.
Os piretróides:- sintetizados a partir dos piretros (hoje com poucas semelhanças), o primeiro deles foi a aletrina e o grupo tem algumas características interessantes que o tornou muito empregado nos tratamentos profissionais contra pragas em ambiente urbano, embora apresentem certos problemas: têm ação rápida e efeito desalojante, são tóxicos para insetos mesmo em pequenas concentrações de uso, têm baixa toxicidade para mamíferos, têm odor relativamente baixo, são relativamente fotoestáveis e pouco voláteis (exceto os primeiros que surgiram) o que lhe concede uma meia vida relativamente longa em torno de algumas semanas, têm baixa solubilidade em água, podem causar irritações cutâneas nos operadores que trabalham desprotegidos, são tóxicos para peixes e podem causar repelência em certos insetos sob determinadas condições de emprego. Depois da aletrina (primeira geração de piretróides) veio a segunda geração (tetrametrina, resmetrina e bioaletrina). Seguiu-se a terceira geração (fenvalerato e permetrina) e a quarta (beta-ciflutrina, bifentrina, ciflutrina, cipermetrina, deltametrina, esfenvalerato, lambdacialotrina, para citar os i.a. já comercializados no Brasil). A cada nova geração, o perfil do grupo foi sendo aperfeiçoado em determinadas características. Os piretróides estimulam o sistema nervoso dos insetos que passa a produzir repetidas descargas elétricas nas células nervosas, provocando paralisia e morte (ação sobre os canalículos de sódio da bainha das células nervosas)
Os IGRs (Insect Growth Regulators ou Reguladores do Crescimento dos Insetos): vamos parar por aqui e retomamos no próximo post, OK?

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

SOBRE INSETICIDAS – PARTE I


Já faz algum tempo que tenho vontade de escrever um post sobre os inseticidas em geral. Ensaio, postergo, me preparo, adio e nunca começo. Hoje, resolvi escrevê-lo. Não esperem nenhum tratado científico sobre o assunto, posto que isto aqui é um mero blog cuja intenção é a de trazer aos leitores um pouco de assuntos técnicos de forma leve e abrangente. Pretendo muito mais relembrar certas matérias, discuti-las, repassar e dar um passeio sobre os temas que posto (será que em bom português já existe o termo postar no sentido de colocar no ar via internet alguma coisa?).
Nenhum ramo do fértil e complexo campo do conhecimento humano sobre o controle de pragas caminhou mais rápido e mais fundo do que os inseticidas, nestes últimos 50 anos. Novos compostos químicos tornam-se rapidamente conhecidos devido à agilidade da Internet, com sua sempre crescente rede de “sites da web” (cada vez mais temos que engolir esses galicismos porque se tornam termos universais até mesmo antes de ganhar alguma tradução), sejam das indústrias, das universidades, dos distribuidores, das agências governamentais, sejam mesmo de blogs como este. Ao lado dos novos compostos que vão sendo disponibilizados de forma comercial, outros se vão, descontinuados por seus produtores ou proibidos por decisões regulatórias das agências governamentais. Vocês sabiam que de cada 10.000 novas moléculas químicas pesquisadas apenas uma chega à fase comercial e que, de sua sintetização até sua comercialização, leva um tempo médio de oito a 10 anos?
Já percebi que este post vai longe e que vamos ter que dividi-lo em partes para publicação! Mas, vamos lá!
Gosto do termo “biocida” para designar uma substância ou composto capaz de eliminar pragas; gosto e o uso com freqüência. Acho melhor que praguicida (um tanto agrícola para meu gosto). Para mim, o termo biocida compreende tanto os inseticidas (e outros específicos como acaricidas, mosquicidas, pulicidas, fungicidas, escorpionicidas, etc), como os rodenticidas (ou raticidas). Portanto, inseticida é um biocida específico destinado a eliminar insetos, embora possa ser empregado (com sucesso) contra outros artrópodes como aranhas, escorpiões, carrapatos, milípedes e ácaros (todos não insetos).
Os inseticidas são definidos por sua fórmula química e ganham nomes comuns quando na fase de comercialização. Por exemplo: um composto cuja fórmula química é ciano (4-fluoro-3-phenoxifenilo) metil 3 (2,2-dicloroetenil) -2,2- dimetilciclo –propano -carboxilato ganha o nome comum de apenas... ciflutrina! Ainda bem!
Há várias classificações e grupos que podem juntar moléculas do mesmo tipo ou que tenham alguma similaridade. Por exemplo, podemos agrupar os inseticidas quanto à rota de penetração nos insetos; dessa forma teremos inseticidas de contato, de ingestão ou de inalação. Cada inseticida pode penetrar no inseto por uma ou mais rotas, sendo a mais comum, o contato. Ou podemos classificá-los pelo tempo de ação: fulminantes ou residuais. Há alguns que devido sua alta tensão de vapor, volatilizam-se com facilidade e o vapor gerado já é letal para o inseto se inalado; ex: DDVP (ou diclorvos) que atua em minutos. Entre os residuais, posso citar aqueles que são formulados como microencapsulados (CS), com longa duração de meses.
Para efeito deste post, vamos agrupar os inseticidas em cinco grandes tipos: Os inseticidas inorgânicos, os botânicos, os orgânicos, os bioinseticidas e um grupo de miscelânea.
Inseticidas inorgânicos: muito em voga antes da Segunda Grande Guerra (1939-1945), esses compostos eram quase todos de origem mineral e não tinham nenhuma molécula de carbono em suas fórmulas. Os mais conhecidos eram os compostos de Bóro, destacando-se o ácido bórico. Seu interesse está longe de ter morrido, pois além de sua baixa toxicidade para mamíferos, não induz resistência em insetos. Sua desvantagem é que leva um tempo considerável para atuar (de sete a 10 dias) no inseto que com ele se contaminou. É usado na forma de pó e age por contato e ingestão. A Sílica Gel e a Terra Diatomácea são outros inseticidas inorgânicos ainda utilizados no controle de pragas urbanas sob certas circunstâncias. Ambas são derivadas da sílica amorfa (a sílica gel é fabricada a partir da areia e a terra diatomácea provém de depósitos de diatomita, forma fossilizada de uma pequena planta denominada diatoma). Em tempo: como disse há muitos posts atrás, adoro cultura inútil!
Inseticidas botânicos: derivados de plantas. Os mais conheci dos são os piretros que geraram, sinteticamente, os piretróides(sobre os quais falaremos mais adiante). O ácido crisantêmico, a origem desse grupo, foi isolado a partir de certas linhagens de crisântemos, flores sobre as quais, foi observado, nenhum inseto se atrevia a pousar. Mais cultura inútil: essas flores foram usadas para repelir insetos (especialmente voadores) na Pérsia e na Dalmácia (atual Iugoslávia) em priscas eras. Os piretros são ainda hoje, muito utilizados em todo o mundo para controlar insetos profissionalmente. Sabem de onde vem a maior produção de piretro contido nos crisântemos? Do Quênia e da Tasmânia. Mas há grande produção de crisântemos também na Tanzânia, em Ruanda, na Nova Guiné e até no Equador. Como alguns piretros podem produzir apenas um efeito de choque em certos insetos que após um lapso de tempo se recobram, passou-se a adicionar aos produtos à base desses compostos, algumas substâncias sinergistas (aumentam o efeito) como o butóxido de piperonila, por exemplo. Os piretros são inseticidas de contato de baixa toxicidade para mamíferos e quase não têm efeito residual, porque se degradam rapidamente sob ação da luz. Contudo em áreas escuras e protegidas, seu efeito pode alcançar até duas semanas. Geralmente seu efeito fulminante é forte, além de serem irritantes para insetos como baratas, produzindo o chamado efeito desalojador.
Temos que falar agora dos inseticidas orgânicos sintéticos, mas vamos fazê-lo no próximo post, OK?

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

E ATENÇÃO, ATENÇÃO: JÁ SÃO 40.000 VISITAS A ESTE BLOG!


Assim de mansinho, como quem não quer nada, chegamos à casa das 40.000 visitas a este blog. Nada mal, nada mal! Neste mundo de dupla troca, sempre quisemos as visitas de nossos leitores, posto que o blog do Higiene Atual foi criado com esse intuito. Em troca, oferecemos posts sobre assuntos de interesse dos profissionais controladores de pragas e outras variedades, sempre em linguagem informal e tom leve. Foi assim que caímos no gosto de nossos leitores e a exatamente dois anos de sua criação, nosso blog comemora sua quadragésima milésima visita, com muito orgulho. Os novos leitores podem acessar na coluna da esquerda uma relação enorme de diferentes palavras chaves e por ali buscar os posts já publicados sobre o tema que lhes interessar, rápido e rasteiro. Os antigos leitores, já sabem disso. Há também uma coluna à esquerda de perguntas e respostas, mas ambas com um número limitado de espaço. Portanto, perguntas concisa e respostas idem. Todavia, nessa coluna tem um monte de entradas de visitantes que não têm nada o que fazer e enviam mensagens “papo furado” em inglês ou em suas línguas natais. Não querem dizer nada e apenas ficam enchendo lingüiça e nada podemos fazer contra essa perda de tempo, pois a coluna é aberta. De qualquer forma, essa coluna ali está para que nossos leitores realmente interessados possam se comunicar conosco. Façam uso quando desejarem. Complementando esse lado esquerdo do blog, há uma coluna de visualização “on line” dos visitantes que acessam o blog, de onde são e o que buscam. Praticamente todos os dias esse contador mostra que há acessos até de outros países mesmo que não sejam lusofônicos. Interessante!
Então, por aqui vamos comemorando a marca das 40.000 visitas prometendo outra comemoração quando chegarmos às 50 mil. OK?
O Editor