quinta-feira, 29 de março de 2012

ESTRATÉGIAS PARA IMPLANTAR UM BOM PROGRAMA DE CONTROLE DE MOSCAS Parte III


Estávamos examinando um programa de controle de moscas urbanas que seja eficiente e eficaz. Vimos vários aspectos de um MIP (Manejo Integrado de Pragas) voltado para moscas e chegamos a iniciar as considerações sobre a eliminação física das moscas já infestantes, começando por sugestões (importantes) do que fazer externamente às instalações a serem protegidas. Precisamos agora examinar o que pode ser feito para eliminá-las dentro das instalações.
Como dissemos, apesar de todas as medidas que podem (e devem) ser tomadas do lado de fora contra as moscas, algumas podem adentrar nas instalações onde desejamos que não estejam. Será preciso, então, combatê-las e eliminá-las ali mesmo. Posso começar pela instalação de armadilhas antimoscas luminosas. Algumas considerações:
• Disponha quantas armadilhas você desejar, não há limites. Quanto maior for o número dessas armadilhas, maior será nossa chance de capturar as moscas invasoras.
• Coloque-as de preferência um pouco acima da cabeça das pessoas para evitar a desagradável visão de muitas moscas capturadas na armadilha e também porque as moscas, principalmente as domésticas, voam em uma altura de cruzeiro da cabeça de uma pessoa (em pé, estenda um braço esticado para o alto; essa será a altura média de voo da mosca comum e de muitas outras moscas urbanas).
• Evite fazer uso das armadilhas “fritadoras” de moscas, aquelas que têm uma luz para atração e uma grade eletrificada onde as moscas são eletrocutadas instantaneamente se a tocam. Ao fazê-lo, a carapaça quitinosa do inseto explodirá e dezenas de pedaços da moscas podem se espalhar ao redor da armadilha, com efeitos indesejáveis. Opte pela armadilha dotada de luz atrativa (ultravioleta ou “luz negra”) e papel colante, o qual deverá ser trocado com bastante frequência.
O que mais posso fazer? Claro, nem vamos comentar aqui sobre as questões da limpeza e higiene do ambiente, pois desnecessário seria. Mas, posso fazer combate químico? Resposta correta: depende! Há locais onde posso aplicar mosquicidas nas paredes, sem problemas. Mas, há outros onde o emprego de inseticidas pode ser conflitante com as regras de manejo do ambiente (proteção ambiental) e os fins a que se destina o ambiente a ser protegido contra moscas. Por exemplo: na área de produção de uma indústria alimentícia, não será possível pulverizarmos mosquicidas nas paredes e maquinários. Pois bem, aí entra o que a gente comenta sempre que pode: o conhecimento humano sobre a biologia da praga a ser combatida e como podemos tirar proveito desse conhecimento. No caso das moscas domésticas, sabemos que a mosca ao adentrar a um novo ambiente, voa em círculos para ambientar-se e localizar o alimento que a atraiu. Isso feito, localisa o alimento ou opta por algum dentre várias opções possíveis e vai se alimentar. Depois, de estômago já cheio, a mosca busca uma saída para o ambiente externo onde vai pousar para digerir o alimento ingerido. Óra, seu instinto a dirige à luz natural de alguma janela. Mosca não entende vidro, ou seja, ela voa para uma janela onde supostamente seria o caminho mais curto para sair do ambiente fechado onde se alimentou. Porém, o vidro da janela se interpõe e ela não consegue entender por que não está conseguindo ultrapassar aquele ponto. Fica então se debatendo contra o vidro, na vã tentativa de sair. Debate-se, cansa e pousa por alguns momentos no beiral da janela; volta a se debater, e repousa, sucessivamente. Excelente local para aplicarmos nossa isca mosquicida! Alguns grânulos em sucessivos e diferentes pontos desse beiral de janela e teremos enormes chances que a mosca perceba a isca e a ingira em seguida, indo a óbito. Como eu já havia comentado, já temos em nosso país iscas mosquicidas à base de azametifós, de imidacloprid e de thiametoxan excelentes!
Eu faria assim. Aliás, já fiz e nunca tive um só programa fracassado!
Há também os papéis pegamoscas que podem nos ajudar bastante a controlar moscas em um ambiente fechado.
Boa sorte amigo!

terça-feira, 20 de março de 2012

ESTRATÉGIAS PARA IMPLANTAR UM BOM PROGRAMA DE CONTROLE DE MOSCAS - Parte II


No post anterior falamos dos princípios que devem nortear um programa eficaz de controle de moscas em uma dada instalação urbana. O combate a moscas é um ótimo exemplo do MIP – Manejo Integrado de Pragas, pois passa por ações curativas (corrigir tudo o que esteja facilitando a existência de moscas em um ambiente), ações preventivas (instalar barreiras e/ou modificar estruturas que estejam facilitando a entrada de moscas) e ações de eliminação (o combate direto propriamente dito). Falta comentarmos algo sobre como eliminar as moscas já infestantes. Vamos lá.
Externamente: para eliminarmos moscas infestantes, temos que começar pelo lado de fora da instalação a qual queremos proteger. Temos duas situações possíveis: uma, onde o criadouro das moscas alvos situa-se dentro do perímetro da propriedade e outra quando as moscas estão sendo geradas em propriedades alheias circunvizinhas. No primeiro caso, basta que localizemos o criadouro e o eliminemos. Lembram-se de nosso comentário que as moscas proliferam em matéria orgânica em decomposição? No caso de moscas domésticas (Musca domestica) nos centros urbanos, existe uma marcada preferência por lixo onde restos orgânicos vão garantir sua procriação (uma profusão de alimentos e outra de substrato para ovipor). Só quem já visitou um depósito de lixo urbano a céu aberto pode avaliar a íntima relação das moscas domésticas e o lixo. São, literalmente, milhões e milhões de moscas adultas voando em todas as direções para se alimentar, para acasalar e para pôr seus ovos; são trilhões de larvas em diferentes fases de desenvolvimento até puparem. A maioria das adultas permanece nas cercanias, pois não há razão que as tirem desse lugar tão confortável (na verdade, a maioria das moscas domésticas adultas passa a vida dentro de um raio de 500m em torno de seu criadouro). Nos meus trabalhos onde frequentava tais lixões, cansei de ver os caminhões de coleta pública de lixo, despejando sua carga e voltando para a cidade... levando consigo algumas centenas de moscas nele pousadas, pegando uma carona. Mas, não é só nesses lixões que as moscas proliferam. Dentro do perímetro das propriedades, erros no manejo do lixo orgânico produzido podem criar as condições ideais para que as moscas domésticas procriem. Um exemplo: hotéis são obrigados por regras de higiene e boas práticas (fiscalizados pela Vigilância Sanitária), a coletar seu lixo em pontos situados fora das instalações principais, chamados de “botafora”, onde o lixo deve ser separado em matéria orgânica e materiais não orgânicos; a primeira deve ser acumulada em câmara fria especialmente construída para esse fim e mantidas com porta fechada, exatamente para evitar a proliferação de moscas (e outras razões higiênicas). Na prática, nem sempre isso acontece. Sistema de resfriamento dessa câmara desligado (por “economia”, acreditem se quiserem), porta quase sempre aberta (frequentemente porque a maçaneta quebrou e ninguém se preocupou em consertar), por inépcia, falta de supervisão, preguiça de funcionários ou falta de treinamento adequado. O fato é que um manejo ruim do lixo orgânico acaba propiciando as melhores condições para que as moscas domésticas se aproveitem e façam desses botaforas um excelente criadouro. Estive certa vez em um hotel quatro ou cinco estrelas, não me lembro, para estudar um sério problema de moscas em suas instalações e, dentre vários erros de manejo do lixo que encontrei, pude observar larvas de moscas (creio que eram de segundo ou terceiro estádio) dentro dos containers plásticos onde o lixo diário era depositado aguardando remoção para o botafora. Surpreso, indagando sobre o manejo, fui informado que o container era lavado uma vez por semana... mais ou menos! O exemplo do hotel é apenas um; nas indústrias, nos supermercados e congêneres, mesmo nos estabelecimentos de preparo e consumo de alimentos, podemos encontrar criadouros de moscas. Seja como for, encontrou criadouro (há que procurar, amigo), elimine-o ou você vai morrer seco com formiga na boca e não vai controlar as moscas desse cliente. Mas, há o caso onde as moscas infestantes vem de algum criadouro não situado dentro do perímetro da propriedade. Quer dizer, não temos as formas jovens presentes (ovos, larvas e pupas), mas temos as moscas adultas infestando a área.
Moscas são insetos voadores pesados para suas asas e não executam voos demasiadamente longos, a menos que encontrem um vento favorável. Precisam pousar aqui ou ali para descansar e assim, através de voos curtos, vão se encaminhando a pontos que lhes interessem, geralmente de alimentação. Se pousam, temos uma ótima chance de eliminar as moscas antes que adentrem às instalações. O avanço da tecnologia em mosquicidas foi bem grande na última década e meia e, hoje, dispomos de produtos capazes de atrair e eliminar as moscas domésticas até com relativa facilidade, bastando saber como usar tais produtos corretamente. Entre os organofosforados, o azametifós, um OP de última geração, mostrou-se de grande utilidade e eficácia quando formulado como isca e adicionado a um feromônio sintético, o Z-9 tricozene, de atração sexual. Em nosso país já há algumas marcas desse tipo de mosquicida e quase todas mostram excelentes resultados. Basta dispor os grânulos espalhando-os no solo e nos pontos onde as moscas frequentam e o resultado se dá em alguns minutos. Alguns desses produtos têm seus grânulos coloridos em amarelo ou em amarelo e vermelho, cores muito atrativas visualmente para as moscas, aumentando seu poder de atração.
E chegamos aos poderosos “painéis papamoscas”. Para criá-los, partimos do princípio, estudado e conhecido, de que essas cores citadas, amarelo e vermelho, são visualizadas à distância pelas moscas domésticas. Na Natureza, essas são as cores que observamos nas feridas dos animais: o vermelho do sangue e músculo eventualmente exposto, e o amarelo da linfa exsudada; não há mosca que resista a tais encantos! Pois bem, tirando proveito desse conhecimento, que tal se pintássemos uma placa qualquer, uma superfície de qualquer dimensão, usando o amarelo e o vermelho separadamente, mas juntos(vide foto acima)? Será que atrairíamos moscas domésticas? A resposta foi afirmativa e assim criamos os tais painéis papamoscas. Estudos anteriores demonstraram que se alternássemos faixas amarelas e faixas vermelhas sucessivamente, as moscas visualizariam o painel a grandes distâncias e seriam atraídas. Seriam mais atraídas ainda se essas faixas fossem pintadas no sentido diagonal do painel (por razões ainda não esclarecidas). Atraímos as moscas e daí ? Entram em cena os seguros mosquicidas neonicotinóides (imidacloprid e thiametoxan) já encontrados em nosso país, um avanço no combate às moscas e a muitos outros insetos. Daí eu aplico com pincel (eu prefiro usar um daqueles rolinhos de pintura) ou pulverizado, uma calda feita com um desses ingredientes ativos na superfície pintada do painel e o exponho na vertical. Vai funcionar como ponto de forte atração para as moscas que adentrarem ao perímetro da propriedade e elas serão eliminadas antes que adentrem às instalações. Uma mosca morta de lado de fora, é uma mosca a menos do lado de dentro! Renove a aplicação do produto no painel de 15 a 30 dias após, dependendo da ocorrência de chuvas.
Sim, mas muitas moscas poderão ainda adentrar às instalações. Serão muito menos dos que as que chegaram ao perímetro da propriedade, mas podem entrar, posto que voam! E daí?
Daí, vamos examinar o que fazer em próximo post, tá?

terça-feira, 13 de março de 2012

ESTRATÉGIAS PARA IMPLANTAR UM BOM PROGRAMA DE CONTROLE DE MOSCAS


Há não menos de 110.000 espécies diferentes de moscas em todo o mundo, já estudadas e catalogadas. As moscas representam, com sobras, o gênero de insetos mais bem sucedido na Natureza. A maioria dessas espécies não é urbana (felizmente), mas algumas delas encontraram seu melhor nicho junto ao homem e há até as espécies que repartem conosco nosso habitat há milhões de anos. Incomodam, transmitem doenças, causam asco e em nenhum lugar são bem recebidas. Contudo, se olharmos melhor, as moscas desempenham papéis vitais na Natureza pois executam certas funções importantes. Antes de tudo, representam uma fonte de alimento para uma enorme variedade de animais e até de certas plantas (as carnívoras, por exemplo). Muitas espécies se criam nas fezes de animais, ajudando a reciclar nutrientes de volta ao solo. Outras são decompositoras de carcassas de animais. Infelizmente, certas espécies adaptaram-se muito bem a viver nas instalações humanas e suas redondezas e daí geram os conflitos entre elas e nós. A essas espécies denominamos pragas e exatamente aí é que entra no cenário, a galante figura do profissional controlador de pragas, o “salvador da pátria” quando a coisa fica realmente feia. Lembro-me de uma oportunidade quando fomos chamados a intervir em uma certa cidade do interior de Alagoas onde o problema das moscas (Musca domestica) era tamanho que estava inviabilizando o viver naquela cidade. O Promotor de Justiça local havia dado o prazo máximo de 45 dias para a Prefeitura resolver o problema, sem o que a Promotoria mandaria fechar bares, restaurantes, lanchonetes e outros estabelecimentos de alimentos, em nome da saúde pública. Um enorme programa de combate às moscas foi então iniciado envolvendo todas as forças da comunidade e o problema foi minimizado em pouco tempo.
Não tenho conhecimento se existe alguma cidade, vila ou mesmo uma aglomeração humana que não tenha a omnipresente mosca doméstica incomodando as pessoas e animais domésticos. Sem falar nas outras espécies comuns como as varejeiras de brilhos metálicos, as mutucas que picam doído, as pegajosas moscas dos estábulos, as incômodas moscas dos esgotos, as pequeninas moscas das frutas e outras menos votadas. Daí a importância de identificarmos qual, ou quais, as espécies infestantes de um dado local. Sabendo quem é a nossa mosca alvo, fica bem mais fácil determinarmos quando, onde e como combatê-la.
Falando em combate às moscas, pode parecer anacrônico, obsoleto e ultrapassado o conhecido método de pulverizar com algum inseticida as paredes de uma instalação infestada por moscas, como única forma de combater moscas. Pode parecer, não... é! Um programa consistente, estruturado, moderno e eficaz de controle das moscas domésticas é bem mais que isso!
O manejo das moscas dentro e nas cercanias de uma dada instalação pode parecer, às vezes, uma questão difícil de resolver para determinados profissionais controladores de pragas. Na verdade, a estes, falta a informação, o conhecimento pleno e mais profundo do assunto, conhecimento esse total e completamente disponível em livros técnicos ou de inumeráveis sites da Internet. Sem desculpas, portanto. Uma situação de pesada infestação de moscas deveria ser vista pelo profissional como um interessante desafio a ser vencido, pois os conhecimentos técnicos sobre o assunto já são muitíssimo avançados.
Embora cada caso seja um caso, há alguns pontos comuns a todas as infestações e que, se contemplados, vão conduzir a níveis de controle com certeza. Limpeza, higiene, remoção de criadouros e exclusão, são alguns desses pontos. Vamos examinar, ainda que superficialmente, alguns aspectos capitais de um programa de controle de moscas em um dado local:
• Identificação da espécie infestante: é necessário e vital. Moscas domésticas criam-se em determinados criadouros, enquanto outra espécie, como por exemplo, a mosca dos estábulos, cria-se em outro. Cada espécie tem sua biologia própria e se identificarmos a mosca problema, aumentaremos em muito nossa chance de combatê-la com pleno sucesso.
• Limpeza e higiene: é a chave para avançar o programa de controle. Áreas e dependências limpas, não sustentam moscas que vão procurar outra freguesia mais sujinha para frequentar. Moscas se criam em matéria orgânica em decomposição; portanto, um bom esquema de limpeza regular evita acúmulos de detritos capazes de manter o ciclo vital das moscas. As moscas têm o metabolismo muito acelerado e, portanto, necessitam de muito alimento que lhes propicie energia. Lugar limpo não tem alimento para as moscas. Pense nisso.
• Exclusão: mesmo que as redondezas da instalação onde não queremos moscas estejam com boa limpeza, moscas voam e assim podem penetrar nessas instalações se encontrarem vias de acesso fáceis. Portas e janelas abertas, telas de nylon rompidas ou fendas arquitetônicas são um convite permanente à entrada de moscas em busca de alimentos. Portas e janelas devem ter telas de nylon instaladas (e sempre em boas condições), caso tenham que ficar abertas. Se não, a instalação de molas que as mantenham fechadas vai ser a solução. Simples e barato. Em determinadas edificações, a instalação de cortinas de vento pode evitar a penetração das moscas, quando adequadamente instaladas e mantidas. A iluminação interna de uma determinada instalação pode, sob certas circunstâncias, atrair moscas, ainda que sejam elas insetos diurnos. As lâmpadas internas não deveriam poder ser vistas do lado de fora da instalação.
• Eliminação de criadouros: muitas vezes o criadouro das moscas infestantes está situado dentro do perímetro da propriedade a ser protegida. É preciso inspecionar toda a área em busca de possíveis criadouros (lembrem-se: matéria orgânica em decomposição; ex: lixo) e eliminá-los sob risco de jamais atingir-se níveis de controle desejados.
E o combate propriamente dito? Bem, isso já é outro assunto que fica para um próximo post, mesmo porque este aqui já está ficando longo demais. Não perca.

segunda-feira, 5 de março de 2012

COMO AGEM OS RATICIDAS?


Nosso leitor Jeymisson, na coluna de Perguntas&Respostas aí da esquerda, recentemente postou essa pergunta e como naquele espaço não seria possível explicar tudo como tem que ser, resolvi postar a resposta na forma de um tema. Aqui vai.
Rodenticidas são os biocidas específicos que causam a morte dos roedores. Em nosso país, nos referimos a eles como raticidas, o que já é um erro, posto que camundongos (Mus musculus) embora sejam roedores, não são ratos. A História registra como um dos primeiros rodenticidas a serem empregados pelo homem com a finalidade específica de eliminar roedores, a cila vermelha, uma espécie de cebola que era plantada na região do Mediterrâneo entremeando outras culturas atacadas por roedores; a cila contém um alcalóide, a cilirosida, que é letal para mamíferos de pequeno porte, ainda que de gosto extremamente amargo. Muitos outros ingredientes ativos foram empregados no combate aos roedores, mas que caíram em desuso segundo avançava a tecnologia descobrindo i.a. mais modernos. Poderíamos lembrar da estricnina, do antu, do sulfato de tálio, da norbomida, do arsênico que foram muito úteis a seu tempo; portanto, não vamos discuti-los neste post. Interessa-nos os rodenticidas modernos, os anticoagulantes.
Os rodenticidas anticoagulantes provocam a morte dos roedores que os ingerirem por provocarem hemorragias internas devido à ruptura de vasos capilares, especialmente ao nível do pulmão e do mesentério (um tecido abdominal que segura os órgãos internos em seus lugares). Interferindo no sistema de coagulação sanguínea, o capilar se rompe e não ocorre a formação do coágulo que tamponaria o sangramento; dessa maneira, o roedor vai sangrar até morrer. A morte ocorre geralmente entre o terceiro e o 10˚ dia após a ingestão do produto, mas o pico de mortes situa-se mais entre o terceiro e o sétimo dia. Os rodenticidas anticoagulantes são classificados hoje em: os de dose múltipla (é preciso que o roedor ingira mais de uma dose para verificar-se o efeito) e os de dose única (basta uma dose para causar a morte). Em termos de resultado, o tempo que leva para causar a morte é mais ou menos o mesmo para qualquer um dos grupos e para qualquer i.a. dentro do mesmo grupo, já que o mecanismo de ação é aproximadamente o mesmo para todos. No Brasil podemos encontrar produtos (raticidas) tanto de primeira geração (warfarina, também chamado de cumafeno), cumacloro e clorofacinona), como de segunda geração (brodifacoum, bromadiolone, difetialona e flocoumafen); difenacoum é um i.a. intermediário entre esses dois grupos (é eficaz contra roedores resistentes, mas precisa de mais de uma dose para fazer efeito).
Já que todos esses anticoagulantes agem mais ou menos da mesma forma, a diferença de resultados entre os grupos está na técnica correta de usá-los. Com os de primeira geração (dose múltipla), temos que repor as iscas ingeridas antes de decorrer 48 horas da primeira tomada, pois caso contrário o i.a. será metabolizado e assim não provocará o efeito letal desejado. Com os de segunda geração (dose única) temos que repor a isca não antes de sete dias, para dar o tempo que o i.a. necessita para produzir seu efeito.
Não quero entrar nos detalhes bioquímicos e fisiológicos do mecanismo de ação dos rodenticidas anticoagulantes, pois aí seria demais para um simples blog, mas sugiro ao Jeymisson, e outros leitores interessados, a busca de livros técnicos que abordam esse tema com riqueza de detalhes ou pesquisar pela Internet.