sábado, 25 de agosto de 2012

ESTRUTURA SOCIAL E COMPORTAMENTOS SOCIAIS DOS RATOS PRETOS (R.rattus)

Bem, já que falei da estrutura e comportamento social da ratazana (R. norvegicus), sinto-me obrigado a comentar qualquer coisa sobre o rato preto (Rattus rattus), também conhecido como rato de telhado, rato de forro, rato de navio e por aí afora. Depois eu também comentarei sobre o camundongo (Mus musculus), não se amofinem! O comportamento social do rato preto não é tão bem estudado como o da ratazana e mesmo do camundongo, mas sabe-se que essa espécie não é tão gregária (tendência a reunir-se em grupos) quanto as ratazanas e evita contatos corporais quando estão se alimentando. Os grupos familiares são bem menores e os ninhos geralmente contêm não mais que uma mãe com sua ninhada. O número de trilhas é bem maior do que o das ratazanas e os territórios são muito mais tridimensionais do que os da ratazana. Ratos estranhos ao grupo são fortemente atacados e nenhum deles é bem recebido nas colônias estabilizadas, principalmente porque em sendo a colônia de menores tamanhos, os intrusos são facilmente reconhecidos. Em contraste com o que ocorre com as ratazanas, nos ratos pretos parece não existir um sistema hierárquico, mas os comportamentos agressivos são os mesmos para essas diferentes espécies. Depois comentarei sobre os camundongos, tá?

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

ESTRUTURA SOCIAL E COMPORTAMENTOS SOCIAIS DA RATAZANA (R.norvegicus) – Parte II

Eu dizia em post anterior que graças aos estudos de uma série de pesquisadores há algumas décadas atrás (esqueci-me de incluir Barnett entre eles), hoje sabemos muito sobre a biologia, os mecanismos sociais e a estrutura social dos roedores sinantrópicos, especialmente do Rattus norvegicus, a ratazana. Por exemplo: o significado social dos sons emitidos pelas ratazanas ainda não foi bastante estudado. Sabe-se que os sonidos emitidos pela prole em aleitamento quando sente frio, quando deixada fora do ninho ou com fome, desperta na mãe determinados comportamentos de atenção. Mas os guinchos de adultos quando atacados e mesmo de fêmeas defendendo sua prole, não provoca nenhuma reação nos demais. Aliás, são sintomas de agressividade e prontidão para a luta o craquejar dos dentes, os pelos eriçados principalmente nas costas, as pernas estendidas, a espinha arqueada e o flanco exposto ao adversário. É briga na certa! Outro comportamento materno: ela expulsa do ninho os derradeiros remanescentes da prole entre 60 e 85 dias de idade, esteja ela prenhe ou não; as mães em aleitamento tendem a ser particularmente agressivas com os filhotes com mais de 46 dias de idade. Pressupõe-se que o reconhecimento de outros membros da mesma colônia se dê em bases olfativas. Fêmeas no cio procuram atrair machos esfregando as laterais do corpo e a região anal em obstáculos e também no solo; somente depois de começar a ter essa atitude é que a fêmea permitirá o acasalamento. Aliás, fêmeas no cio podem ser perseguidas incansavelmente por diversos machos, até impedindo que ela se alimente ou beba água. O macho dominante de uma família defende o grupo de fêmeas da aproximação de outros machos, mesmo quando as fêmeas não estão no cio. Enfim, há uma enorme variedade de conhecimentos sobre os mais diferentes aspectos da biologia e dos comportamentos sociais do R.norvegicus, assim como há do Rattus rattus e do Mus musculus. Qualquer hora dessas, eu comento um pouco sobre isso, OK?

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

ESTRUTURA SOCIAL E COMPORTAMENTOS SOCIAIS DA RATAZANA (R.norvegicus)

Muito do que hoje sabemos sobre a biologia dos roedores sinantrópicos, devemos a pesquisadores como Steiniger, Calhoun e Mogens Lund, sem nos esquecermos de alguns outros nomes, todos que devotaram muito tempo de suas vidas pesquisando e observando as espécies murinas urbanas comensais e publicaram artigos científicos muito interessantes sobre os resultados de suas pesquisas, há décadas atrás. Afirmam eles que há enormes diferenças entre observar ratos e camundongos em pequenas jaulas laboratoriais, observá-los em ambientes fechados e controlados e observá-los em vida livre, ou quase isso. Afirmam também que o comportamento desses roedores estudados pode variar bastante segundo uma série de variáveis incluindo a extensão do habitat em que foram observados. Todavia, através de técnicas científicas, é possível chegar-se a conclusões bastante corretas. Por exemplo, se introduzirmos em um ambiente confinado onde uma colônia de R.norvegicus vai levando a vida de forma equilibrada e pacífica, imediatamente a colônia inteira reage à presença desses novos personagens. Mesmo que haja espaço suficiente e abundância de alimento, a reação da colônia vai ser agressiva contra o invasor. Esses estudos comportamentais são feitos em certos ambientes confinados, de amplas dimensões contendo elementos (objetos) que simulem um ambiente de vida livre e onde os espécimes presentes se sintam à vontade organizando-se tal e qual uma colônia selvagem o faria. Observações noturnas são feitas sob luzes vermelhas, porque os ratos não conseguem detectar essa luz e agem como se estivessem em plena escuridão. Sem ser percebido, o pesquisador que os observa visualmente pode presenciar, em silêncio absoluto e de posições privilegiadas, o comportamento da colônia e de indivíduos. Por exemplo, foi assim que se descobriu que uma fêmea de ratazana no cio copula com vários machos ou que um rato invasor do território será atacado até a morte por quase todos os membros da colônia ali residente. Sabemos hoje que as ratazanas são gregárias (vivem juntas) repartindo ninhos e áreas de alimentação, não obstante demonstrem comportamentos de competitividade e conflitos que contribuem para o equilíbrio da colônia e regulagem da densidade populacional. As ratazanas são territoriais e cada família defende seu pedaço; o grupo geralmente é constituído por um macho dominante e algumas fêmeas com suas proles. Há uma hierarquia entre os grupos familiares, ficando os grupos inferiores com as piores partes do território donde obter alimento, por exemplo, é mais complicado sem invadir o território do grupo alheio. Fêmeas prenhes podem repartir o mesmo ninho até a parição, quando a fêmea reloca sua ninhada para outro ninho ao qual passa defender mesmo de outros espécimes de sua própria colônia. Em condições naturais, o macho dominante protege as fêmeas que tenham por ele sido emprenhadas, evitando que sejam incomodadas por outros machos em busca de cópula. Na verdade, o território de um macho dominante não é uma área, mas sim somente trilhas que são frequentemente marcadas e remarcadas com sua urina e secreções de suas glândulas prepuciais. Contudo, não há indicação de que essa marcação seja capaz de repelir estranhos e, ao que parece, serve mais para orientação noturna. Outra coisa que sabemos: a defesa do território diminui surpreendentemente à medida que a população aumenta e assim, em colônias pequenas, a defesa do território é muito mais feroz que nas grandes colônias. Pensa-se que esse fenômeno nas colônias muito numerosas seja devido às dificuldades do reconhecimento de algum invasor. Também nessas grandes colônias (ex: no interior de uma rede de esgotos) observa-se certo movimento migratório constante com ratos deixando a colônia e outros entrando. Ratos jovens, por volta de 30 dias de idade, deixam o ninho individualmente e entram em contato com outros membros da colônia ao longo das trilhas e passagens; são geralmente ignorados até por volta dos 85 a 115 dias de idade quando se tornam sexualmente maduros, podendo se tornar alvos dos machos dominantes se estes não forem evitados nas trilhas; eles têm que aprender a não provocar agressões dos adultos. A posição social de um rato subordinado pode ser percebida por um dominante a distâncias de 3 a 7 metros durante o cair da noite e mesmo em noite aberta e para evitar um confronto de alto risco, o subordinado busca refúgio ou muda seu rumo bem antes que o dominante o perceba. Algumas vezes, o subordinado até muda seu horário de buscar alimento somente para evitar tais confrontos (por exemplo, passa a alimentar-se durante o dia). Esses indivíduos de baixa posição social caracterizam-se por baixas taxas de crescimento, baixo peso corporal mesmo quando adultos e notória tendência a reentrar em armadilhas; frequentemente acumulam alimentos em seus ninhos e aproximam-se de outros ratos de forma hesitante. A graduação social de um grupo pode ser estimada pelo número de fêmeas (altos números, mais alta a graduação), pela localização próxima das tocas às fontes de alimento, pelo sucesso reprodutivo das fêmeas e pelo número de ferimentos obtidos em disputas com outros grupos. O assunto é vasto e interessante para quem gosta de conhecer os detalhes da biologia dos roedores (eu sou um destes). Em próximo post, vou lhes contar mais coisas que já sabemos sobre os R.norvegicus, só porque alguns cientistas resolveram deixar para a posteridade os resultados de seus estudos. Obrigado a eles por isso.

domingo, 5 de agosto de 2012

SOBRE O CONTROLE BACTERIANO DOS ROEDORES

Atendendo o leitor Ariovaldo de Campinas/SP, faço uma rápida revisão sobre o emprego de bactérias para controlar roedores. O assunto não é exatamente novo e trata-se do uso de bactérias patogênicas do tipo salmonela no combate a roedores sinantrópicos, assunto observado e pesquisado por Kitasato no Japão, no final do século XIX (1800 e tanto). De forma recorrente, de vez em quando alguém pensa que descobriu a roda e se entusiasma com essa abordagem, o biocontrole dos roedores. Sintetizando, inicialmente pensava-se que a salmonela pudesse ser interessante se empregada em alguma isca apetecível aos roedores; a salmonela, como se sabe, causa profusas diarreias que podem levar ao roedor que ingeriu a isca contaminada à morte. O fato é que essa abordagem é anterior ao advento dos anticoagulantes e chegou a ser amplamente utilizada na Europa na primeira metade do século XX com certos resultados, particularmente na antiga União Soviética. Quando surgiram em cena os raticidas warfarínicos (anticoagulantes), o emprego das salmonelas rapidamente caiu em desuso na maioria dos países ocidentais. Por razões políticas, já que os warfarínicos foram descobertos nos Estados Unidos, a União soviética relutou em usar esses novos compostos e continuou privilegiando o uso das salmonelas, chegando a desenvolver cepas supostamente “atenuadas” tentando assim evitar o alto risco para os humanos e outras espécies animais não alvos. No final do século XX, a agora Rússia passou a associar salmonela com warfarina (não sei bem por que!). Naturalmente, Cuba igualmente abominava o uso de warfarínicos, seguindo a orientação política da URSS e um produto cubano tentou, sem sucesso felizmente, há coisa de 10 ou 15 anos atrás, obter registro de um raticida à base de salmonela, registro esse que foi acertadamente negado pela Anvisa/MS. Nessa tentativa chegaram a fazer alguns ensaios em Niterói/RJ em acordo com a Prefeitura local. O fato é que o emprego de cepas patogênicas de salmonelas é de alto risco e não há garantias que não possam escapar ao controle e afetar seres humanos (como outros mamíferos, sensíveis às salmonelas), o que foi comprovado por inúmeros relatos científicos na literatura. Dessa forma, a Organização Mundial da Saúde passou a desrecomendar essa metodologia e em diversos países ocidentais seu uso foi proibido. No Brasil não existe raticida à base de salmonela permitido. A descoberta de algum organismo patógeno específico para roedores não é impossível, como aconteceu com o myxoma vírus empregado na Austrália para o controle massivo de coelhos e lebres. Só que essa pesquisa vai levar muito tempo e vai custar verdadeiras fortunas para chegar a algum resultado. A menos que acidentalmente...