quinta-feira, 24 de outubro de 2013

A VOLTA DAS PULGAS - Parte V (final)

Estávamos começando a falar sobre os modernos IDIs (Inibidores do Desenvolvimento de Insetos) e seus ótimos resultados no controle das infestações de pulgas, quando dissemos que já há dois grupos desses compostos: os hormonais e os não hormonais, cada grupo com seus mecanismos diferentes de ação. Os hormonais imitam hormônios naturais dos insetos (vamos explicar isso direitinho mais à frente) e os compostos não hormonais agem sobre a formação da quitina dos insetos (a proteína que forma o exoesqueleto, a casca externa de seus corpos). Comecemos pelos hormonais. Quando qualquer inseto muda de uma fase larval para a seguinte, o principal hormônio que regula essa transformação é o chamado JH (hormônio juvenil), ou neotenina. Nesse momento (e nas demais mudanças de fases) o nível circulante no corpo do inseto do JH sobe, o que impede que ele continue se transformando para qualquer outra fase. Dessa forma, a larva permanece naquele estágio larval durante certo tempo, até que nova queda de JH provoque uma nova mudança para o estágio seguinte. No derradeiro estágio larval daquele inseto, os níveis de JH caem dramaticamente, permitindo assim que a pupagem se inicie. Pois bem, os compostos sintéticos (IDIs) ao entrarem em contato com o inseto ainda nas formas jovens, vão simular a presença de altos níveis de JH e isso confundirá o processo de desenvolvimento do organismo do inseto afetado o qual interpretará que ainda não está na hora de proceder a muda e assim, vai determinar que o inseto continue na forma em que foi atingido pelo composto. Consequentemente, o inseto não chegará à forma adulta. Nessas condições anormais, o inseto acabará morrendo por se tornar inviável biologicamente. Fantástico, não é? São exemplos desses compostos já disponíveis no mercado brasileiro: metoprene e fenoxicarb. O outro grupo dos IDIs são os compostos não hormonais cujo alvo principal pode ser a síntese (a fabricação) da quitina, a proteína necessária que forma o esqueleto do inseto que é externo, ou impedem que o exoesqueleto enrijeça. Os primeiros pertencem ao grupo químico das benzofenilureias e sua ação se dá durante a fase de polimerização da quitina que acaba não se formando ou se formando com erros e problemas (ex: fluazuron, triflumuron, exaflumuron e lufenuron). Em não ocorrendo o reforço da quitina, por sua vez a cutícula (uma das partes que compõem a base da carapaça do inseto) não pode se formar corretamente; na verdade o que ocorre é que não haverá a formação da rede de sustentação semi rígida dessa estrutura, característica vital do exoesqueleto dos insetos. Eis então que as formas jovens tornam-se inviáveis, pois sua carapaça fica sempre mole e assim não logram transmudar-se na forma seguinte, morrendo como tal. Esperto, não? Já os compostos enrijecedores da cutícula, as diaminotriazinas, provocam um endurecimento exagerado das proteínas do exoesqueleto, a tal ponto que a forma jovem não logra rompê-lo para crescer e transformar-se na fase seguinte. Os IDIs não atuam, portanto, sobre os adultos e sim sobre as forma imaturas impedindo seu desenvolvimento normal. A resultante é a interrupção do desenvolvimento da pulga (e outros insetos) e sua morte por se tornar biologicamente inviável. Praticamente atóxicos para mamíferos (já que estes não possuem quitina), alguns IDIs já estão sendo administrados a cães e gatos na forma de comprimidos. As pulgas que sugarem o sangue desses animais tratados vão receber os compostos via oral, terão seus descendentes afetados, pois não conseguirão se desenvolver. É muita evolução, não é?

terça-feira, 15 de outubro de 2013

A VOLTA DAS PULGAS - Parte IV

Então, o proprietário (na prática, geralmente é a proprietária) ou o inquilino(a), o diretor(a) da empresa infestada ou mesmo alguém mais incomodado, chama uma empresa controladora de pragas para resolver o problema. Vocês pensam que é só sair aplicando um inseticida qualquer e o problema estará resolvido? Ledo engano! Vai quebrar a cara! É Preciso um maior envolvimento nesse problema e examiná-lo como um todo: as pulgas, mas também o entorno (o ambiente, o tipo de uso que dele é feito, a presença de hospedeiros, geralmente um cão ou um gato, as formas de limpeza ali praticadas e alguns etcs). Só depois de compreender o quadro todo é que o profissional pode planejar o combate às pulgas infestantes. As medidas de combate e eliminação podem, grosso modo, serem divididas em dois grandes grupos (a rigor, ambos devem ser necessariamente praticados): o controle mecânico e o controle químico. Tudo começa na citada inspeção do ambiente problema, quando o controlador vai observar os pontos onde os animais de estimação costumam ficar, o que lhes serve de cama, o grau de insolação direta e indireta desse ambiente e outras coisas que possam chamar a tenção como pontos que possam dar abrigo aos ovos, às larvas, os casulos e às pulgas adultas. A cama dos animais, bem como sofás, cadeiras estofadas, cortinas, carpetes e tapetes devem ser observados e cuidados. Os panos da cama dos animais devem ser fervidos (encrenca: quando os animais de estimação são admitidos nos quartos de seus donos e principalmente têm acesso à própria cama desses donos, o procedimento deve ser igual pois as roupas de cama podem, e provavelmente estarão, infestadas por larvas casulos ou mesmo pulgas já adultas). É também preciso proceder à uma rigorosa aspiração de pó nos ambientes infestados, mas com um aspirador profissional de preferência; antes, deve-se colocar um pouco de inseticida em pó no interior dos saco de coletar o pó desse equipamento, para que os ovos, larvas, pupas e pulgas adultas ao serem sugadas, já vão sendo afetadas à medida que o trabalho prossegue. Aspirar com atenção o carpete, o lado de cima, mas também o de baixo dos tapetes, sofás e cadeiras estofados com tecidos, cantos e frestas das tábuas do assoalho ou dos tacos, rodapés, a banda de 30 cm das cortinas que tocam o chão e outras áreas suspeitas. Como medida de precaução a mais, ao retirar o saco coletor de papel do aspirador, deve-se queimá-lo; portanto, não use saco coletor de pano. Enquanto o tratamento do local vai sendo executado, é muito necessário, é preciso, que o hospedeiro das pulgas ali existente, seja levado à uma clínica veterinária para receber um bom banho anti pulgas, pois temos que interromper o ciclo biológico desses insetos e é o hospedeiro que garante a alimentação das pulgas infestantes. A infestação de pulgas de uma residência ou escritório comercial (mais difícil, porque deve sempre existir a presença de um hospedeiro como um cão ou um gato) pode ser eficazmente controlada com o uso de um inseticida (pulicida) que tenha um bom poder residual, não obstante já existam outras abordagens, das quais comentaremos algumas neste post. Se a escolha do profissional controlador recair sobre resolver o problema dentro dessa linha, vamos lembrar que certos organofosforados e carbamatos de maior efeito residual podem ser empregados, bem como os piretróides de segunda geração (fotoestáveis). Contudo, seja qual for o biocida desses grupos, os resultados no controle de pulgas sempre foram duvidosos e irregulares. A razão é muito simples: protegidas dentro de seus casulos, as pulgas adultas pré emergentes simplesmente se recusam a sair para o ambiente que tornou-se agora agressivo pela aplicação de algum biocida daqueles grupos. Como a pulga pré adulta pode literalmente estender sua permanência no interior do casulo sem se alimentar por longos períodos de tempo (quase um ano), ela espera passar completamente o efeito do produto e, só então, rompe o casulo e sai para o meio exterior, reinfestando a área. Dessa forma, os inseticidas comuns só afetam as adultas e larvas que estejam no ambiente tratado, poupando os ovos e, principalmente, as pupas. Com o advento das formulações microencapsuladas, bons níveis de controle foram atingidos, posto que os pré adultos não conseguem perceber a presença de um agente agressor (encerrado nas microcápsulas) e assim eclodem de seus casulos sendo então afetados. Paralelamente, na década de 70, surgiram os primeiros biocidas inibidores do desenvolvimento de insetos (conhecidos internacionalmente com a sigla IDI – Insect Development Inibitors), que se mostraram extremamente úteis e eficazes no controle de pulgas. Este novo grupo é composto por moléculas capazes de inibir o desenvolvimento normal de insetos, de forma que impedem o fechamento de seus ciclos biológicos, quebrando a cadeia vital. São classificados em hormonais e não hormonais e vale à pena conhecermos um pouco mais sobre eles, ao mesmo tempo em que nos atualizamos. Mas, para isso, vou precisar de um novo post que publicaremos logo, logo!

terça-feira, 1 de outubro de 2013

A VOLTA DAS PULGAS - Parte III

Dizia eu que só faltava mais um nível a ser cumprido para completar o ciclo biológico da pulga e que a pulga adulta, completamente formada, encontrava-se mais que protegida no interior de seu casulo. Milhões de anos de evolução desse animal permitiram que a pulga aguarde o melhor momento para sair de seu casulo e aventurar-se no mundo em que a cerca. Não pensem que ela vai sair saindo simplesmente! Nada disso. Quieta e sem se mover ela analisa o meio exterior em busca de sinais da presença de um hospedeiro (para ela, o sangue vital). Qualquer sinal, qualquer indício da entrada de um hospedeiro no ambiente, e ela ferroa o casulo com um pequeno dentículo que possui na parte dianteira de sua cabeça, rasgando-o e assim saindo de seu envólucro de proteção. A eclosão da pulga adulta a partir do casulo depende então de uma série de estímulos e condições, aí residindo um dos principais fatores de sobrevivência das pulgas. Dentro do casulo o pré adulto está protegido e é uma forma de resistência da pulga contra os eventuais fatores adversos que possam existir naquele ambiente, incluindo a ação de inseticidas eventualmente aplicados no ambiente. Ali protegida, a pulga pode sobreviver até 140 dias sem tomar nenhuma forma de alimento ou de água; há citações na literatura científica que falam de quase um ano de permanência. Atenta, o casulo da pulga pré adulta é subitamente pressionado talvez pelas patas de um cão ou gato circulando pelo ambiente, talvez os pés de um ser humano. A pulga pré adulta imediatamente eclode de seu casulo e começa a dar saltos (até 30 cm de altura) desordenadamente, na esperança de alcançar as pernas de seu hospedeiro onde ficaria presa por seus tarsos aos pelos do animal, logrando assim seu primeiro e vital objetivo. Mas, e se o casulo não for pisado? Não tem importância, a pulga adulta eclodirá da mesma forma! É que, dentro de seu casulo, a pulga, incrivelmente, tem a capacidade de detectar o dióxido de carbono exalado pela respiração dos mamíferos e assim rompe o casulo. E se nada disso acontecer? Não importa, a mais leve alta da temperatura ambiente provocada pela presença de um mamífero já é suficiente para ocasionar a eclosão do casulo. E assim se explica por que o repentino aparecimento de verdadeiras hordas de pulgas famintas assim que uma residência fechada há bastante tempo é reaberta e ali adentram geralmente seres humanos muitas vezes acompanhados por seus animais de estimação. Grande azar. Para as pulgas, grande sorte! Dependendo das condições ambientais (temperatura e umidade), o ciclo biológico da pulga pode completar-se em apenas 12 ou 14 dias, ou pode ser estendido até 174 dias. Nas condições usuais de uma moradia, no entanto, a pulga dos gatos normalmente completa seu ciclo entre duas e quatro semanas. Aí entra o profissional controlador de pragas (ou então, não entra). O que ele deve fazer para resolver essa infestação? No próximo post vocês vão saber o que pode (e deve) ser feito. Aguarde

26 DE SETEMBRO: DIA DO PROFISSIONAL CONTROLADOR DE PRAGAS

Após uma pane geral de meu PC, volto a batucar minhas teclas e por mais que defasado esteja, não vou deixar passar em branco o dia anual do profissional controlador de pragas, um dos ramos profissionais mais expostos a críticas e não menos essencial no cotidiano da vida moderna. Conviver com pragas no entorno, por que? Abjetas baratas, repugnantes moscas, intermináveis formigas, ávidos pernilongos, assustadoras aranhas, asquerosos roedores e outros bichos menos votados e também indesejados. Por que? A vida moderna e atual nos permite tranquilamente termos uma qualidade de vida bastante alta, no que diz respeito às pragas sinantrópicas, as que teimam em querer dividir conosco nosso espaço vital, seja em casa ou no trabalho. Poucas profissões evoluíram tanto nas décadas mais recentes como a do profissional controlador de pragas (OK, a turma das profissões cibernéticas também!). Novos e notáveis produtos biocidas, novas abordagens, novas técnicas e novos equipamentos, tudo isso tem permitido a esses profissionais atingirem níveis jamais alcançados anteriormente em seus objetivos. Razão pela qual a vida contemporânea prescinde e muito de seu trabalho. Ousaria dizer que, hoje, não existe uma única situação de infestação de pragas que não possa ser resolvida. Nesse dia, então, quero fazer coro para parabenizar o profissional controlador de pragas. Bom trabalho!