quarta-feira, 26 de setembro de 2012

ESTUDO DE CASO 1: MOSCAS SARCÓFAGAS EM UM SUPERMERCADO

Nas minhas apresentações em palestras, com frequência tenho sido instado a falar sobre diferentes casos interessantes que ocorreram em minha vida profissional. Recentemente, um dos leitores deste blog pediu-me a mesma coisa e eu julguei que seria interessante aqui relatar certos casos e situações que encontrei por aí nesses mais de 40 anos perambulando como controlador de pragas. Portanto, aqui vai o primeiro estudo de caso que, sem nenhum critério, fui buscar no baú das memórias profissionais. Entre as mais de 110.000 diferentes espécies de moscas já catalogadas e estudadas em todo o mundo, uma que nos centros urbanos causa repulsa, é a mosca sarcofagídea que põem seus ovos em cadáveres (animais ou humanos). A simples presença de uma ou mais moscas sarcófagas voando em um recinto fechado, significa que ali estará alguma carcaça em putrefação. Não é muito difícil identificar essa mosca a olho nu: ela é maior e mais pesada que a mosca doméstica e tem uma espécie de xadrez desenhado na parte de cima de seu abdômen. Eu mesmo já as utilizei algumas vezes moscas sarcófagas com o objetivo de localizar cadáveres de roedores que não estavam à vista: capturava, com um puçá de filó, uma ou mais moscas sarcófagas, dispondo a céu aberto uma carcaça de rato e tocaiando essa “isca”. Em questão de minutos apareciam essas moscas pousando sobre a carcaça e eu rapidamente as capturava; verdade seja dita, quase nunca na primeira tentativa. Transferia duas ou três moscas para uma caixinha de fósforos (vazia, naturalmente) e as levava para o recinto onde o odor nauseabundo denunciava a presença de algum cadáver de rato, embora ninguém houvesse conseguido localizar para que fosse removido. Aliás, o cliente me havia solicitado que resolvesse essa situação, de certa forma causada pela minha equipe que havia sido muito bem sucedida, diga-se de passagem, ao eliminar os roedores ali infestantes. Nesse recinto, com janelas fechadas, eu soltava as moscas sarcófagas e as observamos voando por todo o recinto por alguns poucos minutos e convergindo, todas elas, para um mesmo ponto. Dito e feito, ali se encontrava escondido das vistas, o cadáver do rato, o qual era rapidamente removido para o gáudio de todos os envolvidos (incluindo o finado rato que finalmente teria um descanso eterno em paz!). Mas, voltando ao caso que eu queria relatar, uma vez um supermercado cliente nosso nos chamou porque estavam aparecendo muitas moscas sarcófagas na área externa junto a um depósito. A própria aglomeração dessas moscas já nos indicou o ponto onde deveríamos procurar alguma carcaça de animal (o conhecimento faz uma enorme diferença! O que era para o cliente um problema, foi facilmente solucionado pelo simples fato de que conhecíamos um pouco sobre a biologia e o comportamento das moscas sarcofagídeas). No caso, era um cadáver de um pardal em adiantado estado de putrefação, eivado de larvas de moscas sarcófagas, que estava escondido atrás de um anteparo localizado no beiral do depósito. Como sempre tenho dito: saber não ocupa espaço!

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

NOVAS ROTULAÇÕES PARA OS RATICIDAS NOS ESTADOS UNIDOS

Americano é um povo sério, isso não se pode negar. Quando então o assunto é inseticidas e raticidas de uso urbano, nem se fala! São regras e mais regras que balizam o uso desses produtos, timtim por timtim! A quatro anos atrás, a EPA (a agência governamental americana que regulamenta os assuntos ambientais) baixou uma norma que regulamentava a redução dos riscos ambientais envolvidos no uso de raticidas (RRMD – Rodenticide Risk Mitigation Decision), que estabelecia algumas importantes alterações na rotulagem desses produtos. Desde então, naturalmente, as indústrias produtoras vinham providenciando novos rótulos para cumprir a lei. O prazo a elas dado pelo governo e no ano passado (a 04/6/11), expirou. Mas, em março deste ano, a norma de rotulagem das embalagens de raticidas mudou novamente, pois a agência governamental ouviu as ponderações das indústrias produtoras e também de associações de classe representativas das empresas controladoras de pragas e algumas disposições foram alteradas. A mais importante delas é a que expande a distância máxima que um raticida pode ser disposto no terreno a partir de uma edificação infestada. Anteriormente essa distância máxima era de 50 pés (aproximadamente 165m) e agora dobrou, passando a 100 pés (cerca de 330m). Os controladores profissionais de pragas ponderaram que às vezes, os roedores infestantes de uma edificação vinham de distâncias superiores a 50 pés e que, pela lei, não podiam ser combatidos em seus locais de origem. Outra coisa que fizeram foi a troca do termo “edificação”, para “estrutura construída” que é mais abrangente. A mesma norma permite ainda o uso de raticidas em distâncias superiores a 100 pés, se aplicação for no interior de tocas e túneis. No Brasil, ainda não chegamos a esses detalhamentos.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

COMPORTAMENTO E HÁBITOS SOCIAIS DO CAMUNDONGO (Mus musculus)

E, agora,os camundongos. Vocês sabiam que quando se trata da defesa do território ou das fêmeas de um grupo, os camundongos machos podem se tornar extremamente agressivos e envolvendo-se em lutas que podem ir até a morte de um dos contendores? Na maioria das espécies animais, as lutas terminam quando um dos contendores se dá por vencido e bate em retirada; pois entre os camundongos, a luta só termina quando um macho se sobrepõe ao outro e o mata ou o perdedor se submete completamente ao vencedor. Que coisa, tão pequenininho e tão bravo! Quando há fêmeas presentes, o grupo familiar se desenvolverá com um macho dominante, auxiliado ou não por uma ou mais fêmeas adultas quando há necessidade de defender o território. As fêmeas não se locomovem em busca de outros territórios; isso cabe aos machos quando atingem a idade adulta de quatro meses. É comum encontrarmos duas ou mais fêmeas compartindo o mesmo ninho, cada qual com sua prole em aleitamento. Cada grupo familiar estabelece um território de aproximadamente 3,5m de raio e é tridimensional (para os lados e para cima). Com um território tão limitado, é comum encontrarmos vários grupos familiares dentro de um mesmo depósito de alimentos, por exemplo. Contudo, quando as colônias se estabelecem a céu aberto (sempre próximas às fontes de alimentos, como por exemplo em granjas avícolas ou suinícolas), não ocorre essa definição precisa de territórios e as trilhas são utilizadas por todos como se fossem de um único grupo. Como os ratos, os camumdongos machos adultos marcam os limites de seus territórios com sua urina particularmente concentrada misturada com secreções de sua glande prepucial. A urina do macho também deflagra o cio nas fêmeas do grupo e é capaz de atrair outras fêmeas de outros grupos. Outro comportamento individual do camundongo é seu hábito de apenas mordiscar uma porção de alimento encontrada em seu território e em seguida sair em busca de outra porção, mesmo que se comesse da primeira porção encontrada, iria se satisfazer plenamente. Esse comportamento parece estar ligado ao sistema nervoso dessa espécie: sendo presa fácil para gatos e também para eventuais ratazanas e ratos pretos que cruzem seu caminho, os camundongos não podem se dar ao luxo de ficar exposto por muito tempo, nem para se alimentar. Portanto, comem um pouquinho aqui, outro pouquinho ali e vão levando a vida. Não poderia deixar de comentar que os camundongos (Mus musculus) são animais dotados de intensa curiosidade (neofilia) por objetos novos que surjam em seu território, daí advindo o relativo sucesso no combate através de ratoeiras, armadilhas e outros artefatos. Para sorte nossa!