domingo, 5 de maio de 2013

A VEZ DAS LACRAIAS (ESCOLOPENDRAS)

Há alguns meses atrás, Lourenço, um profissional controlador de pragas do Rio de Janeiro, nos escreveu anexando uma foto e perguntando se o animal em questão era uma lacraia ou simplesmente um gôngolo (ou piolho de cobra, vide post já publicado). No caso, era mesmo uma lacraia. Desde então estou para escrever um post sobre esses artrópodes peçonhentos e agora chegou a vez deles. Para começar, as lacraias (também chamadas de escolopendras) são animais peçonhentos, ou seja, fabricam um veneno e têm equipamento para injetá-lo, ao contrário dos sapos que produzem veneno, mas não possuem equipamento para injetá-lo, sendo, portanto, apenas animais venenosos). Assim sendo, onde encontradas, as lacraias podem se tornar uma ameaça a pessoas e animais, ainda que sua peçonha não seja lá muito potente. As lacraias têm um corpo anelado e alongado (15 a 17 cm em média de comprimento quando adultas, mas há espécies que podem ter até 23 cm) com 21 segmentos, cada qual com uma placa quitinizada dorsal e outra ventral; dos dois lados a quitina (que forma o exoesqueleto do animal) é bem menos espessa onde se encaixa um par de pernas por segmento, terminadas por tarsos muito ponteagudos destinados à locomoção. Mas, o vigésimo primeiro par de pernas é mais longo e dotado de espinhos e servem para agarrar a presa (as lacraias são caçadoras e se alimentam de outros artrópodes como aranhas, de lagartixas, de pequenos pássaros e até mesmo camundongos). Mas, as lacraias desenvolveram um verdadeiro arsenal de armas para capturar e matar suas presas, além desse último par de pernas. Em cada perna, no fim do segundo tarso (um antes do tarso terminal) existe uma garra terminal em mais duas garrinhas bem pequenas; cerdas sensoriais enervadas dão às lacraias a capacidade de pressentir a proximidade de uma presa que é então firmemente agarrada, num giro vigoroso e de impressionante rapidez; dobra ela o corpo e injeta sua peçonha mortal através de dois dardos possantes e volumosos situados dos dois lados da cabeça. Muitas espécies de escolopendras podem ser encontradas no Brasil, Chile, Colômbia, Venezuela, México e outros países da América Central. Em nosso país, são muito comuns na região amazônica, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul; são menos frequentes no sul e sudeste. A maior de todas as lacraias é a Scolopendra gigantea que pode ter até 26 cm de comprimento. As lacraias são animais estritamente noturnos e evitam a luz do dia; vivem em galerias pluviais, canalizações subterrâneas, em áreas verdes onde haja troncos em decomposição onde avidamente procuram larvas de besouros e de outros artrópodes. Vivem solitárias, como sói ser a regra dos animais de rapinagem, caçadores. Ferozes, caçam suas presas vivas, imobilizam-nas com as últimas pernas e os 20 pares de garras e as matam perfurando sua carne com as pinças em forma de foice, injetando seu veneno. Têm vida longa e existe separação de sexos; as fêmeas ou botam ovos ou algumas espécies são ovovivíparas. Com tudo isso, entretanto, o veneno das lacraias não é potente o suficiente para causar danos ao ser humano, nem mesmo à crianças de pouca idade. Razão pela qual não existe um soro antilacraia já desenvolvido. Em áreas onde as lacraias podem causar impacto e/ou incômodo às pessoas, o combate pode ser feito através da pulverização de algum biocida pó molhável ou pó solúvel nos possíveis pontos de esconderijo das escolopendras, geralmente ao ar livre nos jardins e matas adjacentes; eventualmente as lacraias podem se alojar nos porões de residências, garagens e depósitos de pouca ou nenhuma luz natural.

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