


Atendendo indicação do nosso leitor Flávio Souza vamos conversar um pouco sobre as chamadas traças. Começaremos por esclarecer um ponto que muitos colegas até se confundem: chamamos de traças, um grupo de insetos que pertencem a duas Ordens diferentes: Thysanura e Lepidoptera, que têm características e ciclos biológicos diferentes.
A “traça dos livros” (silverfish, em inglês) é um inseto que pertence à Ordem Thysanura, sendo a mais comum, a Lepisma saccharina. É um dos insetos mais antigos conhecidos pela ciência e, em seus primórdios, possivelmente tenha convivido com dinossauros. Essa traça nunca adquire asas ao longo da vida, suas pernas são adaptadas para correr sendo então, um inseto rasteiro. É onívora alimenta-se de uma grande variedade de alimentos como celulose (papel e papelão), farinhas, roupas e tecidos orgânicos (ex: algodão, lã natural); preferem vegetais que contenham amido, razão pela qual ataca livros mais antigos (devido à cola usada para a encadernação, à base de amido) e papel de parede (pela mesma razão). Tem antenas longas, boca do tipo mastigador, dois ou três filamentos caudais e mede cerca de 01 cm de comprimento com o corpo semelhante a um peixe prateado (justificando seu nome popular em países de lingua inglesa: silverfish); aliás, move-se também de forma parecida ao movimentos dos peixes. As fêmeas depositam cerca de cem ovos em gretas, fendas e rachaduras e levam, em condições úmidas, cerca de 30 dias para eclodir liberando ninfas bastante parecidas aos adultos (ametabolia), idade que atingem em aproximadamente três meses. Diferentemente dos demais insetos, a traça dos livros continua fazendo mudas (ecdises) ao longo de toda a vida, mesmo depois de adulta! E é capaz de regenerar órgãos e apêndices perdidos acidentalmente como, por exemplo, pernas. Em condições favoráveis podem viver até quatro anos em vida livre. De hábito noturno, vive preferencialmente em ambientes escuros e úmidos. É muito ágil e esconde-se rapidamente em frestas de móveis, armários, rodapés e caixas, sendo este último, o principal veículo de dispersão da praga, levada junto a livros e utensílios domésticos em mudanças. Em museus, bibliotecas, tecelagens, supermercados, hotéis e em muitos outros estabelecimentos comerciais, as traças devem ser monitoradas com rigor, para evitar infestações severas e danos significativos. Não está envolvida na transmissão de nenhuma doença ao homem e aos animais.
Já as "traças das roupas", pertencem à Ordem Lepidoptera (onde estão as mariposas e as borboletas), da qual o Gênero Tinea (com várias espécies) é o mais importante. Ao contrário das traças dos livros, as traças das roupas se desenvolvem pela metamorfose completa (ovo – larva – pupa – adulto). Na fase de pupa, tecem um casulo prateado achatado e elíptico preso por uma das pontas a qualquer ponto da parede, do teto ou no interior de armários e gavetas, por isso sendo facilmente identificáveis. Até certo ponto do desenvolvimento dessa pupa, ela move-se em busca de alimentos levando seu casulo consigo; na derradeira fase dessa etapa do desenvolvimento, estaciona, não mais se alimenta e prepara a traça adulta (uma mariposa) que vai emergir. Contudo, também ao contrário de muitos outros insetos de metamorfose completa, nessa fase de pupa as larvas da traça das roupas continuam se alimentando e muito! Comem roupas (de fibras naturais), tecidos não sintéticos, roupas de lã, tapetes, cortinas, estofados, etc. Aliás, a traça das roupas só se alimenta nessa fase de larva (crisálida), não mais o fazendo na fase adulta (muitas espécies de traças na forma adulta, sequer têm aparelho bucal desenvolvido). A pequena mariposa, que é a traça das roupas na fase adulta, caminha mais que voa, rapidamente procura o sexo oposto para acasalar e morre; as fêmeas têm mais alguns dias de vida para maturar seus ovos e pô-los em local seguro e seco. Vida média entre 10 e 18 meses.
O terceiro tipo de traça pertence também à Ordem Lepidoptera e é chamada de "traça de produtos armazenados", pois é encontrada em grãos de cereais (arroz, milho, trigo) e em diversos outros produtos armazenados como farinhas, cereais matinais, biscoitos, chocolates, cogumelos secos, etc. Segue um ciclo biológico semelhante à traça das roupas e a traça adulta também é uma pequena mariposa. Essas traças são consideradas pragas importantes porque, ao atacar alimentos, contamina-os com suas fezes, fragmentos de seu corpo e fios de seda característicos. Os principais gêneros são Plodia, Cadra e Ephestia. Ciclo completo entre algumas semanas e poucos meses, na dependência das condições ambientais.
E o combate?
Sempre é melhor prevenir que remediar, mas quando o problema já está instalado, entra em cena o profissional controlador de pragas, o qual deve levar em conta alguns aspectos da biologia das traças e aplicá-los a seu favor, no sentido de controlar essa praga. Considere então que, de uma forma ou outra, as traças, sejam das roupas, sejam de produtos armazenados, sejam dos livros, todas elas passam por uma fase onde andam pelas paredes e tetos, bem como rastejam no interior de guarda-roupas, armários ou gavetas. Pode ser esse o ponto frágil das traças! Se andam, basta que eu coloque algum biocida adequado nos principais pontos de passagem das traças e possivelmente consiga eliminá-las. Claro, há várias considerações a fazer e cuidados a tomar, mas pode ser a regra básica para seu controle. Pratiquei muitas vezes, com sucesso, o controle de traças, principalmente em hotéis, quando tive minha empresa controladora. Depois de tentar vários biocida e formulações diferentes sem grandes resultados, parei um pouco para raciocinar e me dei conta que já existia no mercado brasileiro na época, duas formulações microencapsuladas (ambas bastante eficazes). As características físico-químicas dessa formulação as tornam bastante adequadas para usar contra traças (e qualquer outro inseto rasteiro, naturalmente); foi preciso somente definir onde, como e quando usar tal formulação e os resultados desejados foram atingidos, rapidinho!
Mas, o bom profissional controlador de pragas deve acrescentar valor a seus serviços fornecendo ao seu cliente, depois de executar o tratamento, algumas indicações para evitar a reinfestação. Vou citar algumas:
• Para traças de roupas, manter estantes, armários, guarda-roupas, gavetas e gabinetes sempre limpos e arejados. Pode-se colocar grãos de pimenta do reino esparsos para atuar como repelente às traças
• Para traças dos livros e das roupas, evita o acúmulo de papéis velhos, caixas de papelão, jornais, livros e revistas especialmente em locais escuros e úmidos.
• Naftalina e cânfora, as traças odeiam e nem chegam perto!
• Roupas já atacadas: coloque dentro de um saco plástico e deixe que elas passem alguns dias dentro do freezer. Ovos, larvas e mesmo adultos morrerão entanguidos de frio.
• Alimentos e embalagens já atacadas, jogar fora, o que fazer?
• Para seu clientes mais ecológicos: ramos de louro, de salsa, tomilho, hortelã e alfazema botam as traças para correr. Matar, não matam, mas fazem com que elas procurem outra freguesia.
• Antes de guardar os cobertores no fim do inverno, lave-os e adicione uma xícara de naftalina no enxágüe. Até o inverno seguinte o cheirinho da naftalina terá se esvaído. Eu prefiro cânfora que cheira melhor. Melhor ainda, guarde-os entremeados com saquinhos de filó contendo um pouco de menta e alecrim. O cheiro da naftalina, ou da cânfora, desaparecerá com o tempo e fica o odor das ervas aromáticas
Esse é o resumo desse tema. Espero ter satisfeito ao amigo Flávio Souza que o sugeriu e a outros leitores que tenham esse assunto para resolver em algum cliente.