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quinta-feira, 24 de outubro de 2013

A VOLTA DAS PULGAS - Parte V (final)

Estávamos começando a falar sobre os modernos IDIs (Inibidores do Desenvolvimento de Insetos) e seus ótimos resultados no controle das infestações de pulgas, quando dissemos que já há dois grupos desses compostos: os hormonais e os não hormonais, cada grupo com seus mecanismos diferentes de ação. Os hormonais imitam hormônios naturais dos insetos (vamos explicar isso direitinho mais à frente) e os compostos não hormonais agem sobre a formação da quitina dos insetos (a proteína que forma o exoesqueleto, a casca externa de seus corpos). Comecemos pelos hormonais. Quando qualquer inseto muda de uma fase larval para a seguinte, o principal hormônio que regula essa transformação é o chamado JH (hormônio juvenil), ou neotenina. Nesse momento (e nas demais mudanças de fases) o nível circulante no corpo do inseto do JH sobe, o que impede que ele continue se transformando para qualquer outra fase. Dessa forma, a larva permanece naquele estágio larval durante certo tempo, até que nova queda de JH provoque uma nova mudança para o estágio seguinte. No derradeiro estágio larval daquele inseto, os níveis de JH caem dramaticamente, permitindo assim que a pupagem se inicie. Pois bem, os compostos sintéticos (IDIs) ao entrarem em contato com o inseto ainda nas formas jovens, vão simular a presença de altos níveis de JH e isso confundirá o processo de desenvolvimento do organismo do inseto afetado o qual interpretará que ainda não está na hora de proceder a muda e assim, vai determinar que o inseto continue na forma em que foi atingido pelo composto. Consequentemente, o inseto não chegará à forma adulta. Nessas condições anormais, o inseto acabará morrendo por se tornar inviável biologicamente. Fantástico, não é? São exemplos desses compostos já disponíveis no mercado brasileiro: metoprene e fenoxicarb. O outro grupo dos IDIs são os compostos não hormonais cujo alvo principal pode ser a síntese (a fabricação) da quitina, a proteína necessária que forma o esqueleto do inseto que é externo, ou impedem que o exoesqueleto enrijeça. Os primeiros pertencem ao grupo químico das benzofenilureias e sua ação se dá durante a fase de polimerização da quitina que acaba não se formando ou se formando com erros e problemas (ex: fluazuron, triflumuron, exaflumuron e lufenuron). Em não ocorrendo o reforço da quitina, por sua vez a cutícula (uma das partes que compõem a base da carapaça do inseto) não pode se formar corretamente; na verdade o que ocorre é que não haverá a formação da rede de sustentação semi rígida dessa estrutura, característica vital do exoesqueleto dos insetos. Eis então que as formas jovens tornam-se inviáveis, pois sua carapaça fica sempre mole e assim não logram transmudar-se na forma seguinte, morrendo como tal. Esperto, não? Já os compostos enrijecedores da cutícula, as diaminotriazinas, provocam um endurecimento exagerado das proteínas do exoesqueleto, a tal ponto que a forma jovem não logra rompê-lo para crescer e transformar-se na fase seguinte. Os IDIs não atuam, portanto, sobre os adultos e sim sobre as forma imaturas impedindo seu desenvolvimento normal. A resultante é a interrupção do desenvolvimento da pulga (e outros insetos) e sua morte por se tornar biologicamente inviável. Praticamente atóxicos para mamíferos (já que estes não possuem quitina), alguns IDIs já estão sendo administrados a cães e gatos na forma de comprimidos. As pulgas que sugarem o sangue desses animais tratados vão receber os compostos via oral, terão seus descendentes afetados, pois não conseguirão se desenvolver. É muita evolução, não é?

terça-feira, 1 de outubro de 2013

A VOLTA DAS PULGAS - Parte III

Dizia eu que só faltava mais um nível a ser cumprido para completar o ciclo biológico da pulga e que a pulga adulta, completamente formada, encontrava-se mais que protegida no interior de seu casulo. Milhões de anos de evolução desse animal permitiram que a pulga aguarde o melhor momento para sair de seu casulo e aventurar-se no mundo em que a cerca. Não pensem que ela vai sair saindo simplesmente! Nada disso. Quieta e sem se mover ela analisa o meio exterior em busca de sinais da presença de um hospedeiro (para ela, o sangue vital). Qualquer sinal, qualquer indício da entrada de um hospedeiro no ambiente, e ela ferroa o casulo com um pequeno dentículo que possui na parte dianteira de sua cabeça, rasgando-o e assim saindo de seu envólucro de proteção. A eclosão da pulga adulta a partir do casulo depende então de uma série de estímulos e condições, aí residindo um dos principais fatores de sobrevivência das pulgas. Dentro do casulo o pré adulto está protegido e é uma forma de resistência da pulga contra os eventuais fatores adversos que possam existir naquele ambiente, incluindo a ação de inseticidas eventualmente aplicados no ambiente. Ali protegida, a pulga pode sobreviver até 140 dias sem tomar nenhuma forma de alimento ou de água; há citações na literatura científica que falam de quase um ano de permanência. Atenta, o casulo da pulga pré adulta é subitamente pressionado talvez pelas patas de um cão ou gato circulando pelo ambiente, talvez os pés de um ser humano. A pulga pré adulta imediatamente eclode de seu casulo e começa a dar saltos (até 30 cm de altura) desordenadamente, na esperança de alcançar as pernas de seu hospedeiro onde ficaria presa por seus tarsos aos pelos do animal, logrando assim seu primeiro e vital objetivo. Mas, e se o casulo não for pisado? Não tem importância, a pulga adulta eclodirá da mesma forma! É que, dentro de seu casulo, a pulga, incrivelmente, tem a capacidade de detectar o dióxido de carbono exalado pela respiração dos mamíferos e assim rompe o casulo. E se nada disso acontecer? Não importa, a mais leve alta da temperatura ambiente provocada pela presença de um mamífero já é suficiente para ocasionar a eclosão do casulo. E assim se explica por que o repentino aparecimento de verdadeiras hordas de pulgas famintas assim que uma residência fechada há bastante tempo é reaberta e ali adentram geralmente seres humanos muitas vezes acompanhados por seus animais de estimação. Grande azar. Para as pulgas, grande sorte! Dependendo das condições ambientais (temperatura e umidade), o ciclo biológico da pulga pode completar-se em apenas 12 ou 14 dias, ou pode ser estendido até 174 dias. Nas condições usuais de uma moradia, no entanto, a pulga dos gatos normalmente completa seu ciclo entre duas e quatro semanas. Aí entra o profissional controlador de pragas (ou então, não entra). O que ele deve fazer para resolver essa infestação? No próximo post vocês vão saber o que pode (e deve) ser feito. Aguarde

domingo, 22 de setembro de 2013

VOLTAM AS PULGAS - Parte II

Em post anterior comecei a falar das pulgas e seu retorno nesse inverno que vai terminando aos poucos (tempo louco!). Embora haja pequenas variações segundo certos gêneros, o ciclo biológico da pulga é bastante conhecido. Inseto cujo desenvolvimento se dá por metamorfose completa, a pulga apresenta as quatro fases clássicas: ovo, larvas, pupa e adulta. O pesquisador Dryden fez em 1993, um completo levantamento em vários e díspares países e os resultados foram muito próximos, revelando que acima de 93% das pulgas infestantes de cães e gatos eram do gênero Ctenocephalides com total predominância da C. felis. Quanto ao sexo dessas pulgas, não ocorreu muita diferença, com ligeira predominância de pulgas fêmeas. As fêmeas depositam seus ovos sobre o corpo dos hospedeiros após ter obtido um repasto sanguíneo (proteína) que permitirá a maturação de seus ovos. Esses ovos são ovais com extremidades arredondadas medindo cerca de 0,5mm e de cor perolizada. Como não têm cola, os ovos vão caindo ao solo com a movimentação do animal hospedeiro e durante o ato de coçar. Entre um e 10 dias (dependendo das condições ambientais de temperatura e umidade) o ovo eclode e liberta a primeira larva (larva I) que tem o corpo segmentado medindo cerca de 2mm; não possui nem pernas e nem apêndices locomotores, movendo-se através de movimentos de encolher e esticar o corpo. Essas larvas (ou ínstares) são de vida livre e alimentam-se de pequenas partículas orgânicas encontradas no ambiente, mas buscam principalmente as fezes de pulgas adultas, ricas em sangue semidigerido, essencial ao seu desenvolvimento. Ao se alimentarem dessas fezes, as larvas vão adquirindo uma tonalidade mais escura. Evitando a luz e buscando aprofundar-se no solo, as larvas penetram nos tapetes e forrações, nas frestas do assoalho e protegem-se sob ciscos e poeiras. A larva I sofre ainda mais duas mudas de pele originando sucessivamente a larva II e a larva III, tudo em período médio de 5 a 11 dias (quanto mais alta for a temperatura ambiente, mais rápido será seu desenvolvimento). Necessitando de altos teores de umidade ambiental (morrem com teores abaixo de 50%), as larvas só conseguem se desenvolver em ambientes sombreados e protegidos da luz solar direta. A larva III busca então pontos mais secos no ambiente onde haja ciscos e poeira; ali, libera uma substância pegajosa semelhante à seda e com ela tece um casulo no interior do qual essa larva vai pupar pelos próximos sete dias. Esses casulos podem ser localizados no solo, na vegetação, nos carpetes e sob tapetes, na cama dos animais (e na cama de seus donos quando têm o mau hábito de deixar seus pets ali dormirem), nos vãos das tábuas do assoalho ou dos tacos de madeira, junto aos rodapés, etc. Dentro do casulo, a larva III passa por grandes mudanças transformando-se em um pré adulto e, finalmente, após 5 a 8 dias, a pupa transforma-se em uma pulga adulta. Todavia, essa pulga adulta somente sairá de seu casulo segundo certas condições ambientais muito favoráveis. Querem saber o que? Não perca o próximo post desta sequência!

terça-feira, 13 de agosto de 2013

VOLTAM AS PULGAS

Ouvi de um colega recentemente que, neste inverno, as queixas sobre pulgas aumentaram significativamente. Pode ser. Afinal, quando o frio aumenta, os animais de estimação como cães e gatos procuram permanecer mais tempo dentro das habitações e assim, quando infestados, levam consigo as pulgas. Pensando nisso, resolvi dar um novo passeio no assunto pulgas e me lembrei que lá pelos idos de 1999, o Professor Francisco Mariconi (in memoriam) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz publicou um livro técnico (Insetos e outros invasores de residências) do qual foi o coordenador. O livro reunia uma coletânea de capítulos, cada qual escrito por um autor diferente e nos coube a honrosa tarefa de escrever o capítulo que tratava das pulgas. Desse capítulo extrai alguns tópicos principais ou interessantes para voltar a abordar o tema pulgas neste blog. Aí vai. Insetos altamente especializados, frutos de uma evolução caprichosa de alguns milhões de anos, as pulgas conquistaram seu espaço em todos os continentes por todo o planeta (exceto na Antártida), distribuídas em cerca de 2.200 diferentes espécies e subespécies, parasitando uma enorme variedade de animais de sangue quente ou mesmo frio. Artrópodos que se desenvolvem por meio da metamorfose completa (ovo, larva, pupa e adulto), as pulgas são insetos (três pares de pernas, lembram-se?) que possuem caracteristicamente vida longa. Suas larvas (também chamadas de instares) podem retardar seu desenvolvimento se faltar alimento e os pré adultos podem permanecer dentro de seus casulos enquanto não houver um hospedeiro adequado no ambiente. A maioria das espécies de pulgas abandona seu hospedeiro de tempos em tempos e eventualmente vai parasitar outros hospedeiros, o que facilita a transmissão de certos agentes patogênicos (causadores de doenças) como vírus, bactérias e riquétsias. As pulgas parasitam mamíferos de todos os tipos e tamanhos, incluindo elefantes, marsupiais e morcegos; a maioria parasita roedores e lagomorfos (coelhos e lebres). Um grupo de pulgas tornou-se importante por atacar a espécie humana, a quem causa uma série de problemas. Uma dúzia delas, que atacam roedores comensais e maior ou menor grau, tornaram-se, ou estão em processo de tornar-se, cosmopolitas (moradores de cidades), associando-se ao homem, a seus animais de estimação ou de produção; já são ou vão ser sinantrópicas (que vivem em torno da espécie humana). Entre essas, rapidamente podemos enumerar: a Xenopsylla cheopis muito encontradas em roedores urbanos, sendo a principal transmissora da peste e do tifo murino; a Xenopsylla brasiliensis, transmissora potencial da peste e muito encontrada na Índia (de onde provavelmente se originou) e no Brasil; a Pulex irritans que pode parasitar igualmente humanos, suínos, caprinos, raposas, coiotes, texugos, cães, gatos e aves; a Ctenocephalides felis, a conhecida pulga do gato que se tornou completamente sinantrópicas, pois experimentou uma adaptação notável ao cão doméstico, tendo sido também isolada em roedores, cabras, bovinos, raposas e mangustos, entre outros mamíferos; a Ctenocephalides canis, a verdadeira pulga do cão é igualmente cosmopolita e parasita outros canídeos, sendo outra transmissora da peste; a Tunga penetrans, conhecida no Brasil com o nome popular de “bicho do pé” que pode se tornar um sério problema de saúde pública. Há outras espécies de pulgas que frequentam as estatísticas, mas para efeito deste post já está bom. Gostaria de comentar um pouco sobre as zoonoses (doenças transmitidas ao homem pelos animais) e outras doenças transmitidas pelas pulgas, para que possamos situar esses insetos no contexto ambiental onde vivem (e vivemos nós). Têm sido observadas em seres humanos, e frequentemente em animais, severas dermatites (inflamações da pele) e outras reações cutâneas de caráter alérgico provocadas pelas pulgas, especialmente quando as infestações são maciças. A presença de uma proteína de baixo peso molecular existente na secreção oral da pulga, absorvida a partir do ponto de inoculação, desenvolve um hipersensibilização do hospedeiro às picadas posteriores; dessa forma, após esse período de latência (o período que vai da picada da pulga até que o corpo do hospedeiro reconheça essa proteína e passe a produzir anticorpos contra ela), uma nova picada desenvolve localmente uma pequena área de inflamação cercada de vermelhidão e coceira; muitas picadas, muitas áreas dessa reação cutânea com extremo desconforto do hospedeiro. Contudo, a verdadeira importância das pulgas reside na transmissão de zoonoses, algumas de curso até mortal. Citando apenas as mais sérias e principais, começaria pela Peste (bubônica, pneumônica e septicêmica), um zoonose de curso mortal causada pela bactéria Yersinia pestis cujo hospedeiro principal são certas espécies de roedores. Nessa doença, dentro da cadeia de transmissão, morre o roedor infectado, morre o homem que foi infectado pela picada da pulga infestada e morre a pulga que fez todo esse estrago. Vou lembrar também do tifo murino causado pela Rickettsia mooseri; é uma infecção de roedores comensais principalmente do gênero Rattus. A tularemia é uma zoonose transmitida principalmente por carrapatos e certas moscas, mas pode ser transmitida também por algumas espécies de pulgas. A Tripanossomiase murina pode ser transmitida tanto pelos piolho dos ratos (Polyplax spinulosa) como pela pulga N. fasciatus e outras pulgas de lebres, roedores e coelhos. Quem não ouviu falar das salmonelose? É uma doença intestinal de roedores, especialmente os sinantrópicos, causada pelas Salmonella enteritides e S. typhimurium, ambas bactérias transmitidas por pulgas, tanto pelas fezes desses insetos como pelo material regurgitado. E lembro ainda da mixomatose, da microfilaríase canina, da dipilidiose e, para terminar, da tungíase (bicho do pé), onde a pulga Tunga penetrans (infesta roedores, suínos, cães, gatos, bovinos e os humanos) aloja-se completamente na derme do hospedeiro, deixando apenas um diminuto orifício para respirar e para a saída de seus excretas, ovos e até larvas I já eclodidas. Problema sério, muito sério em saúde pública, nas regiões onde ocorre. Para não cansar demais nosso leitor, vou deixar um pouco mais desse tema das pulgas para um próximo post. Não perca!

sábado, 24 de abril de 2010

REVISÃO TÉCNICA: PULGAS – PARTE III (e última, acreditem!)

E vamos nós! Deram uma lida nas Partes I e II dessa revisão? Então, podemos ir em frente. Já vimos algumas das fantásticas capacidades e habilidades desenvolvidas pelas pulgas domésticas... por que? Há pulgas não domésticas? Claro! Há centenas de diferentes espécies de pulgas que não são propriamente domésticas (de dentro das residências), como por exemplo, a Tunga penetrans, popularmente conhecida como “bicho do pé” que é uma pulga geralmente de suínos e cães e que é um sério problema de saúde pública afetando severamente os seres humanos onde ocorre.
Posso continuar?
Bom, eu ia começar a falar sobre controle, mas lembrei-me que não custa comentar que 95% das pulgas existentes em uma residência encontram-se no ambiente e apenas 5% estão sobre o animal hospedeiro. Mas, é claro que existem muito mais ovos, larvas e pupas do que pulgas adultas na casa. Na verdade essa distribuição é mais ou menos assim: 5% pulgas adultas que estão no animal e, no ambiente, estão 50% de representados pelos ovos, 35% de larvas (em três estádios) e 10% na forma de pupas. Quer dizer, já deu para sentir que temos que atacar as infestações pulgas tanto no ambiente, quanto nos animais hospedeiros, certo? Primeiro vamos falar do controle sobre os animais. Não, não espero que o profissional controlador de pragas seja obrigado a abrir um departamento de “banho e tosa” na empresa para resolver essa parte do problema de seus clientes. Mas, vamos examinar essa parte porque o bom profissional, tecnicamente preparado, tem que informar seu cliente de tudo isso e alertá-lo que, se as pulgas adultas já infestantes do animal não forem completamente eliminadas, o problema da infestação na casa não será resolvido! Simples.
Como livrar o animal hospedeiro de suas incômodas e espoliantes pulgas? A primeira coisa que geralmente ocorre é um bom banho antipulga em uma loja especializada ou a aplicação de inseticidas sobre o animal, a opção é do proprietário. Contudo, aproveitando que sou veterinário, vou dar minha opinião: banhos antipulgas só em casas especializadas mesmo, capazes de eliminar 100% das pulgas que se encontravam sobre o animal naquele momento, mas nada de empregar algum inseticida durante o banho; muito arriscado. Por outro lado, a aplicação de algum inseticida tópico diretamente sobre o animal, é procedimento de risco pois, algumas raças tanto de cães, como de gatos, podem ser muito sensíveis a determinados ingredientes ativos de certos produtos e podem desenvolver reações alérgicas de diferentes graus. Confio em produtos à base de fipronil, mas não em todas as marcas existentes no mercado. Felizmente, o controle de pulgas sobre o animal evoluiu bastante nos últimos tempos e já existem certos produtos que na forma de comprimidos ou gotas, tem extraordinário efeito sobre as pulgas que estão sobre o animal. Caem mortas em 15 ou 20 minutos depois, pois o ingrediente ativo permanece por um certo tempo (relativamente curto) misturado ao sangue do animal, não o prejudicando, e sendo altamente letal para as pulgas quando ingerirem o sangue de seu hospedeiro, o que fazem com muita freqüência durante o dia. Para um tratamento duradouro, e a longo prazo, há outros compostos administrados igualmente sob a forma de comprimidos que, de forma sui generis, deixam as pulgas fêmeas completamente estéreis (deixam de gerar ovos férteis) e assim, a população de pulgas vai declinando ao longo do tempo até se extinguir totalmente. É um controle que demanda um certo tempo. De qualquer sorte, cabe ao profissional controlador de pragas orientar seu cliente para que busque a orientação especializada de um veterinário para conduzir esse programa, pois as dosagens dependem do peso do animal e de outros fatores como estado de saúde, idade, raça, etc.
OK, mas o que fazer para controlar as pulgas (as formas jovens) no ambiente da residência infestada? Que métodos pode o profissional controlador de pragas lançar mão para resolver o problema? Vamos por tópicos para facilitar a compreensão:
· Não se esqueça: o controle das pulgas que estão sobre o animal hospedeiro e as que estão no ambiente, deve necessariamente ser executado ao mesmo tempo, no mesmo dia, OK?
· Começar usando... um bom aspirador de pó! É isso mesmo! Deixe de lado seus inseticidas e equipamentos de aplicação e maneje um aspirador de pó, e dos bons. Não serve esses pequenos aspiradores bem intencionados mas de pouca potência. Tem que ser um profissional (ou semiprofissional) capaz de aspirar para valer a poeira e os ciscos de todos esses pontos onde se acumulam numa casa. Claro, é lá que estarão cerca de 95% das formas de pulgas infestantes da residência. Olhe, tenho um amigo dono de uma empresa controladora que, tendo adquirido um aspirador de pó possante, começava o trabalho por uma respeitável aspirada geral no ambiente antes de aplicar qualquer coisa; fez nome no controle de pulgas! E ganhou (ganha) um bom dinheiro com isso. Tornou-se a empresa mais chamada para resolver o assunto, atuando fortemente em condomínios de luxo, onde várias outras empresas haviam fracassado. Outra dica: antes de começar a aspirar, coloque dentro do saco coletor do aspirador, um envelope de algum inseticida em forma de pó; dessa forma, você vai aspirando e as larvas, pupas e pulgas adultas recém eclodidas e colhidas, já vão sendo eliminadas. Você vai me agradecer por essa dica quando abrir o saco coletor no momento de remover seu conteúdo.
· Peça à dona da casa que, imediatamente, coloque os panos e trapos que constituem a cama do cachorro ou gato, em fervura por 10 minutos. Todas as pulgas ali existentes serão eliminadas sem riscos intoxicativos posteriores para o animal hospedeiro.
· Prepare uma calda inseticida com seus produtos de preferência nas concentrações de rótulo e aplique pulverizando, por cobertura, os pisos. Não deixe faixas sem aplicação; treine seus operadores a aplicar por “overlapping” nessa técnica (a faixa seguinte superpõe um pouquinho a faixa anterior).
· Pulverize 100% dos pisos (atenção especial nos pontos onde os animais costumam ficar mais tempo) e também os primeiros 30cm das paredes na junção com piso. Atenção para os rodapés. Aplique também nos primeiros 30cm das cortinas junto ao chão e nos babados das poltronas e sofás, se houverem.
· Para esse trabalho, eu gosto bastante das formulações microencapsuladas, as quais concedem largo efeito residual. Cuidado na escolha de seu produto: há certos microencapsulados de baixa tecnologia que permitem o rompimento das microcápsulas já durante a manipulação preparatória (caracterizado por um forte odor inseticida quando abrimos o frasco). Só essa dica já fez valer todo o texto, não é?
Feito isso, amigo, é só correr para o abraço! Boa caçada e bons negócios!

sábado, 17 de abril de 2010

REVISÃO TÉCNICA: PULGAS – PARTE II

Na Parte I desta rápida revisão, vimos alguns pontos fundamentais da biologia e comportamento das pulgas domésticas, os quais servirão de base para abordarmos a questão de seu controle. Caso o leitor esteja acessando o blog pela primeira vez e se interesse por este tema, sugiro a leitura da Parte I (logo abaixo) antes da leitura desta Parte II.
Retomando, qual o melhor método para controlar pulgas, digamos, em uma residência?
Tradicionalmente, o combate às pulgas domésticas tem sido feito aplicando-se inseticidas no ambiente infestado, embora nem sempre os resultados sejam os melhores. Hoje já se sabe algumas razões que impedem o pleno sucesso. Na verdade, o conhecimento do controle das pulgas em residências avançou bastante, exatamente pelo aprofundamento dos conhecimentos da biologia da pulga e de lá foram tirados os fundamentos do controle. Por exemplo, a pulga pré-adulta quando está dentro de seu casulo protetor (fase de pupa) é capaz de detectar a presença de inseticidas no ambiente (para elas, um agente agressor) e assim, simplesmente não eclode e fica quietinha dentro desse casulo aguardando melhores tempos, isto é, que os inseticidas aplicados tenham perdido seu efeito, o que certamente ocorrerá em algumas semanas. Lembram-se que eu havia comentado que as pulgas podem ficar dentro de seus casulos até um ano sem se alimentar? E não é só isso! Para sair do casulo, a pulga doméstica detecta a presença de um certo teor de CO2 (dióxido de carbono) no ar ambiente que é, exatamente, o resultado da respiração dos mamíferos. A presença desse gás no ar do ambiente infestado, significa para a pulga a presença segura de uma fonte de alimento (sangue), um cão, um gato ou mesmo um ser humano. Quando ela percebe isso, imediatamente irrompe do casulo uma pulga adulta, literalmente esfomeada, buscando sua primeira vítima. Outro fator que pode provocar a eclosão dos casulos, são as vibrações que as pisadas dessa vítima provocam quando caminham nesse ambiente. As pulgas, um ser predador que teve milhões de anos para evoluir junto de suas presas (nós e nossos animais domesticados), desenvolveu essa capacidade de “ler e interpretar” o ambiente onde se encontra ainda dentro de seus casulos; combina a presença do CO2 atmosférico em taxas razoáveis com as vibrações das pisadas e sai do casulo. Mas, ela não fica imóvel depois que sai do casulo, esperando passivamente que sua vítima passe por perto. Na verdade, a pulga fica saltando o tempo todo. Descobriu-se que na base de suas desenvolvidas pernas posteriores (como todo inseto, a pulga tem três pares de pernas) existe uma proteína chamada resilina, que forma uma espécie de almofada de borracha elástica (usei essa comparação somente para melhor esclarecer, OK?) e que permite à pulga dar grandes saltos (até 30cm de altura) sem parar e sem se cansar, pois quase não há nenhum dispêndio de energia, graças à resilina. Pois é o que ela faz: saiu do casulo, começa a saltar feito uma louca. Qual é o objetivo desses saltos incessantes? É que nas pernas da pulga, existem umas espécies de farpas, ou ganchos de quitina (a proteína que forma seu esqueleto) e, se um gato ou cão por ali passar, talvez em um desses saltos ela apanhe o animal passante, se prendendo aos pelos da vítima com esses ganchos. Pronto, a pulga recém eclodida está salva! Caminha rapidamente por entre os pelos da vítima, busca preferentemente uma área do corpo do animal onde ele não consiga atingir com a língua (geralmente o dorso ou a parte posterior da cabeça e pescoço), e faz confortavelmente sua primeira refeição. Por outro lado, milhões de anos de estreita convivência entre cães ou gatos e seus principais ectoparasitas, as pulgas, deu às vítimas algumas armas de combate como, por exemplo, línguas ásperas (especialmente nos gatos) destinadas a remover pulgas dentro da pelagem. A Natureza é perfeita, não acham?
Isso tudo explica porque quando alguém entra em uma casa onde havia um animal de estimação presente e que tenha ficado fechada por meses (por exemplo, à espera de um locatário), mal dá alguns passos e suas pernas podem ficar lotadas de pulgas agarradas às calças do infeliz. São elas esperando pacientemente uma vítima salvadora. Quer dizer, se não tem tu (cão ou gato), vai tu mesmo (um ser humano)! Elas precisam desesperadamente de alimento e, embora não apreciem o sangue humano, na hora da necessidade ingerem o que tem. Mais tarde, se houver um cão ou um gato presente no ambiente, abandonam o ser humano e ficam por lá novamente pulando adoidadas aguardando que sua vítima de eleição passe por perto despreocupada.
O que mais? E tem mais ainda? Tem... tem um monte de coisas sobre as pulgas que já sabemos e, pode não parecer, mas isto aqui é apenas um resumo. Uma coisa só a mais: as larvas das pulgas buscam pontos do piso onde se juntem cisco e poeira, pois vão precisar desses materiais para formar seus casulos protetores quando chegar a hora de mudar de fase. E também é nesses pontos que vão existir fezes de pulgas adultas em maior quantidade, alimento necessários às larvas. As fezes caem livremente do corpo do cão ou gato em qualquer ponto da casa, basta que o animal se sacuda (as fezes de pulgas são aqueles pontinhos pretos que a gente observa junto à pele, quando abrimos o pelame do animal). Sim, tanto esses ciscos, como as fezes das pulgas, são depositados nesses pontos (junção de tacos ou das tábuas do assoalho, junções das lajotas de piso frio, tapetes, por exemplo), através das varreduras superficiais quando a casa está sendo limpa.
Caramba... este post já está ficando comprido demais e ainda não falamos do combate! Ta bom, então vamos interromper aqui e voltaremos a falar na Parte III que, prometo, não vai demorar muito, OK?Isso aqui já está parecendo o crime da mala, sô!

segunda-feira, 12 de abril de 2010

REVISÃO TÉCNICA: PULGAS - PARTE I

Claro que um tema técnico dessa abrangência, não é assunto para um simples blog, eu concordo. Mas, começaram a me solicitar resumos de certas pragas urbanas para rememorar pontos importantes que poderiam estar presentes nas conversações dos profissionais controladores de pragas com seus clientes e mesmo certos pontos que pudessem ser expostos nas propostas de serviços. Dessa forma, vamos dar um rápido passeio sobre a pulga e suas implicações, sem esquecer o tratamento.
Como isto é apenas um resumo, embora dividido em duas partes, vamos por tópicos:
· As pulgas adultas são hóspedes permanentes dos animais, quer dizer, não ficam paradonas no ambiente esperando um cachorro ou gato passar. Na verdade, se tudo der certo, depois que conseguiram uma carona na sua vítima, procuram dela não mais sair Ali alimentam-se, acasalam, põem seus ovos e morrem (de velhice, se nada for feito contra elas ou se o animal não as removê-las com a língua)
· As pulgas não abandonam o animal para depositar seus ovos.
· Os ovos das pulgas não são pegajosos (como os dos piolhos ) e assim podem cair do animal em qualquer ponto da casa.
· A maioria das pulgas encontradas sobre um cão ou gato, originou-se na própria casa a partir de uma pulga fêmea que já estava maturando seus ovos quando passou um animal por perto durante um passeio externo.
· Poucas pulgas são coletadas pelo animal fora de casa. Portanto, o problema está no interior das residências e não lá fora.
· O alimento das pulgas adultas é sangue, exclusivamente sangue e nada mais.
· As diferentes espécies de pulgas acabaram se especializando na preferência pelo sangue de determinadas espécies de animais. Dessa forma, a chamada pulga do gato (Ctenocephalides felis) tem preferência pelo sangue de felinos, embora possa infestar um cão. Já a pulga do cão (Ctenocephalides canis), prefere o sangue de canídeos, mas se não tiver cão...
· A pulga é um inseto que se desenvolve por metamorfose completa: ovos – larvas (são 3 estadios) – pupas – adultos. Nas fases larvárias, se alimentam de bactérias, mofo e fezes das pulgas adultas onde há grande porcentagem de sangue mal digerido. Na fase de pupa, a pulga não se alimenta e na fase adulta, sangue.
· Na derradeira fase larvária, esta procura um ponto onde haja ciscos e poeira que ela vai utilizar para formar o casulo da pupa.
· Dentro da pupa, protegido, o préadulto pode aguardar as melhores condições ambientais (incluindo a presença de um animal de sangue quente – pode ser uma pessoa) por até um ano sem se alimentar, em estado de dormência.
· Nos países e regiões de clima mais quente ou tropical, o ciclo completo da pulga (de ovo a ovo) pode ocorrer em apenas duas semanas.
· Uma vez encontrado um hospedeiro, a pulga vai procurar infestá-lo permanentemente, onde se alimenta, copula, põe ovos.
· Se a pulga adulta não encontrar um hospedeiro dentro de 12 dias após ter saído do casulo, morre. E sobre o animal, também não vai muito longe (cerca de 7 ou 10 dias), pois a habilidade que os cães e especialmente os gatos em removê-las enquanto penteia seu próprio pelame através de vigorosas e repetidas lambidas, é notória.
· As pulgas podem provocar vários problemas aos animais que infestam. Transmitem tênias aos cães e gatos (Dipylidium caninum), produzem dermatites à vezes severas, podem causar anemia sobretudo em animais jovens. Ao ser humano, a pulga dos ratos (Xenopsylla cheopis) pode transmitir a peste bubônica e o tifo murino.
Quais o melhores métodos para combater as pulgas domésticas? Como este post já está ficando comprido demais, vamos examinar isso numa futura postagem, certo? Não demora, não!