sábado, 17 de abril de 2010

REVISÃO TÉCNICA: PULGAS – PARTE II

Na Parte I desta rápida revisão, vimos alguns pontos fundamentais da biologia e comportamento das pulgas domésticas, os quais servirão de base para abordarmos a questão de seu controle. Caso o leitor esteja acessando o blog pela primeira vez e se interesse por este tema, sugiro a leitura da Parte I (logo abaixo) antes da leitura desta Parte II.
Retomando, qual o melhor método para controlar pulgas, digamos, em uma residência?
Tradicionalmente, o combate às pulgas domésticas tem sido feito aplicando-se inseticidas no ambiente infestado, embora nem sempre os resultados sejam os melhores. Hoje já se sabe algumas razões que impedem o pleno sucesso. Na verdade, o conhecimento do controle das pulgas em residências avançou bastante, exatamente pelo aprofundamento dos conhecimentos da biologia da pulga e de lá foram tirados os fundamentos do controle. Por exemplo, a pulga pré-adulta quando está dentro de seu casulo protetor (fase de pupa) é capaz de detectar a presença de inseticidas no ambiente (para elas, um agente agressor) e assim, simplesmente não eclode e fica quietinha dentro desse casulo aguardando melhores tempos, isto é, que os inseticidas aplicados tenham perdido seu efeito, o que certamente ocorrerá em algumas semanas. Lembram-se que eu havia comentado que as pulgas podem ficar dentro de seus casulos até um ano sem se alimentar? E não é só isso! Para sair do casulo, a pulga doméstica detecta a presença de um certo teor de CO2 (dióxido de carbono) no ar ambiente que é, exatamente, o resultado da respiração dos mamíferos. A presença desse gás no ar do ambiente infestado, significa para a pulga a presença segura de uma fonte de alimento (sangue), um cão, um gato ou mesmo um ser humano. Quando ela percebe isso, imediatamente irrompe do casulo uma pulga adulta, literalmente esfomeada, buscando sua primeira vítima. Outro fator que pode provocar a eclosão dos casulos, são as vibrações que as pisadas dessa vítima provocam quando caminham nesse ambiente. As pulgas, um ser predador que teve milhões de anos para evoluir junto de suas presas (nós e nossos animais domesticados), desenvolveu essa capacidade de “ler e interpretar” o ambiente onde se encontra ainda dentro de seus casulos; combina a presença do CO2 atmosférico em taxas razoáveis com as vibrações das pisadas e sai do casulo. Mas, ela não fica imóvel depois que sai do casulo, esperando passivamente que sua vítima passe por perto. Na verdade, a pulga fica saltando o tempo todo. Descobriu-se que na base de suas desenvolvidas pernas posteriores (como todo inseto, a pulga tem três pares de pernas) existe uma proteína chamada resilina, que forma uma espécie de almofada de borracha elástica (usei essa comparação somente para melhor esclarecer, OK?) e que permite à pulga dar grandes saltos (até 30cm de altura) sem parar e sem se cansar, pois quase não há nenhum dispêndio de energia, graças à resilina. Pois é o que ela faz: saiu do casulo, começa a saltar feito uma louca. Qual é o objetivo desses saltos incessantes? É que nas pernas da pulga, existem umas espécies de farpas, ou ganchos de quitina (a proteína que forma seu esqueleto) e, se um gato ou cão por ali passar, talvez em um desses saltos ela apanhe o animal passante, se prendendo aos pelos da vítima com esses ganchos. Pronto, a pulga recém eclodida está salva! Caminha rapidamente por entre os pelos da vítima, busca preferentemente uma área do corpo do animal onde ele não consiga atingir com a língua (geralmente o dorso ou a parte posterior da cabeça e pescoço), e faz confortavelmente sua primeira refeição. Por outro lado, milhões de anos de estreita convivência entre cães ou gatos e seus principais ectoparasitas, as pulgas, deu às vítimas algumas armas de combate como, por exemplo, línguas ásperas (especialmente nos gatos) destinadas a remover pulgas dentro da pelagem. A Natureza é perfeita, não acham?
Isso tudo explica porque quando alguém entra em uma casa onde havia um animal de estimação presente e que tenha ficado fechada por meses (por exemplo, à espera de um locatário), mal dá alguns passos e suas pernas podem ficar lotadas de pulgas agarradas às calças do infeliz. São elas esperando pacientemente uma vítima salvadora. Quer dizer, se não tem tu (cão ou gato), vai tu mesmo (um ser humano)! Elas precisam desesperadamente de alimento e, embora não apreciem o sangue humano, na hora da necessidade ingerem o que tem. Mais tarde, se houver um cão ou um gato presente no ambiente, abandonam o ser humano e ficam por lá novamente pulando adoidadas aguardando que sua vítima de eleição passe por perto despreocupada.
O que mais? E tem mais ainda? Tem... tem um monte de coisas sobre as pulgas que já sabemos e, pode não parecer, mas isto aqui é apenas um resumo. Uma coisa só a mais: as larvas das pulgas buscam pontos do piso onde se juntem cisco e poeira, pois vão precisar desses materiais para formar seus casulos protetores quando chegar a hora de mudar de fase. E também é nesses pontos que vão existir fezes de pulgas adultas em maior quantidade, alimento necessários às larvas. As fezes caem livremente do corpo do cão ou gato em qualquer ponto da casa, basta que o animal se sacuda (as fezes de pulgas são aqueles pontinhos pretos que a gente observa junto à pele, quando abrimos o pelame do animal). Sim, tanto esses ciscos, como as fezes das pulgas, são depositados nesses pontos (junção de tacos ou das tábuas do assoalho, junções das lajotas de piso frio, tapetes, por exemplo), através das varreduras superficiais quando a casa está sendo limpa.
Caramba... este post já está ficando comprido demais e ainda não falamos do combate! Ta bom, então vamos interromper aqui e voltaremos a falar na Parte III que, prometo, não vai demorar muito, OK?Isso aqui já está parecendo o crime da mala, sô!

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