terça-feira, 15 de março de 2016

NOVA AMEAÇA NO BRASIL: FEBRE DE MAYARO

Vem chegando mais uma ameaça à saúde pública brasileira e desta vez, adivinhem quem pode ser o vilão: acertou quem disse Aedes aegypti. Pois é. O Aedes, já responsabilizado cientificamente pelo dengue, pelo chicungunia e pela zika, poderá se transformar rapidamente em transmissor da febre de Mayaro (ou poliartrite epidêmica). Por enquanto, o vírus da mayaro é transmitido por um mosquito encontrado na região amazônica, nas copas das árvores das matas, o Haemagogus (o mesmo mosquito transmissor da febre amarela), que pica durante o dia (certos primatas como micos e saguis). Por ali fica, mas já há provas que ele está se aproximando do homem nas zonas rurais e semi rurais, onde entra em contato direto com a espécie humana. A doença causa uma febre com dores musculares e principalmente articulares (parecida com a dengue), dura de 3 a 5 dias e melhora mesmo sem tratamento. O vírus da mayaro é da família Togaviridae e gênero Alphavirus (uma espécie de primo do vírus chicungunia). O período de incubação (entre a picada do mosquito e o aparecimento dos sintomas), é de 3 a 11 dias e não foi registrado até hoje transmissão entre humanos. Embora somente agora é que se começa a falar do mayaro (identificado em 1954), na verdade sua presença foi oficialmente registrada em nosso país em 1950 e em 1987, Goiás teve um surto; desde 2008 a mayaro já foi encontrada em sete Estados. Quer dizer, ela vem vindo! Traduzindo melhor, o perfil da doença vem se modificando à medida que o mosquito Haemagogus se aproxima dos centros mais urbanizados, onde o Aedes já se encontra instalado; aliás, técnicos da Fundação Oswaldo Cruz e do Instituto Evandro Chagas têm estudos que comprovam a fácil adaptação da doença ao Aedes. Os pesquisadores do Instituto Adolpho Lutz afirmam que o Aedes tem todas as características que o torna possível futuro transmissor da febre mayaro. Atualmente, 34 amostras aguardam análise do Instituto para a confirmação da infecção em Ananindeua (PA). O material partiu de Goiás, Mato Grosso, Roraima e Pará e poucos laboratórios dispõem de tecnologia para dar um diagnóstico fiel baseado em exames sorológicos e moleculares. Mas, de onde veio esse novo vírus? Do sudeste de Trinidad e Tobago, por onde correm as lindíssimas águas azuis (bioluminescência das algas) do rio Ortoire. Dali para as florestas tropicais das Américas, foi só um pulo. Para especialistas, o mayaro avança para ser o próximo vírus da floresta a se urbanizar e causar epidemias. O vírus da mayaro é um dos vírus chamados de emergentes (como o da zika e da chicungunia). O ambiente deles muda com a entrada do homem nas florestas e eles começam a se adaptar buscando novos hospedeiros e meios de transmissão. Na era dos homens, o Antropoceno, as doenças são compreendidas como um desequilíbrio ecológico. À medida que destruímos as florestas e invadimos as casas dos vírus, eles se mudam. E eles se mudam mesmo... para nossas casas. Vírus e insetos silvestres se tornam urbanos, como as da zika e do dengue, surgiram em florestas. Para pesquisadores, erradicar completamente essas doenças é algo impossível. Sempre surgirão outros vírus e mosquitos. O segredo está em manter o equilíbrio das florestas e das cidades, dizem. E nunca negligenciar a vigilância, para que surtos possam ser contidos logo no início. Em relação ao mayaro, parece que aqui ainda não há impedimentos para sua propagação. O clima, a urbanização dos insetos transmissores e a falta de combate ao focos conspiram a favor do vírus.

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