HIPERCALCEMIA (VITAMINA
D COMO RODENTICIDA)
Olá,
amigos leitores! Depois de um longo e tenebroso inverno, estamos de volta ao
nosso HIGIENE ATUAL, cheio de ideias
acumuladas durante nosso recesso hospitalar. Nesse intervalo, recebi, via
celular, várias sugestões de posts, ao lado de dúvidas e tópicos a esclarecer,
pelo que só tenho a agradecer. Pincei, dentre todo o material sugerido, uma
solicitação de esclarecimento de um leitor e ainda no hospital comecei a pensar
no assunto; verifiquei que nunca havia postado nada mais específico sobre o
tema e resolvi reinaugurar a etapa 2012 justamente pelo tema VITAMINA D como
rodenticida. Ainda não temos em nosso país nenhum raticida à base de
colecalciferol, a Vitamina D3, como um composto comercial para uso anti ratos,
mas como sempre achei que saber não ocupa espaço, aí vai.
A
chamada Vitamina D, na verdade, é mais de uma: o colecalciferol (Vitamina D3) e
a ergocalciferol (Vitamina D2), ambas já utilizadas em outros países como
rodenticidas, sendo mais comum a primeira. Essas vitaminas são tóxicas para os
roedores, pela mesma razão que são importantes para os humanos: elas afetam o importante
equilíbrio cálcio/fósforo no organismo, vital para os mamíferos. As Vitaminas D
são necessárias em doses ínfimas diárias para o ser humano (algumas IUs –
Unidades Internacionais – por quilo de peso corporal, ou seja, somente uma
fração de um miligrama) e, como outras vitaminas solúveis na gordura, são
tóxicas em quantidades maiores que as necessárias, causando o que chamamos de
hipervitaminose com suas consequências. Daí a recomendação médica de extremo
cuidado na ingestão de vitaminas; em outras palavras, não se deve ingerir
diariamente esses comprimidos polivitamínicos de aparência inocente, sem a
devida supervisão médica. Pois bem, se a ingestão da vitamina D, por exemplo,
for muito grande (em outras palavras, se a intoxicação for muito grande), pode
ocorrer a morte. Nos roedores que ingerirem isca raticida à base de Vitamina D,
ocorrerá uma hipercalcemia aumentando em muito o nível de cálcio circulante no
sangue provocando a mobilização de cálcio dos ossos na forma ionizada
(principalmente cátion de cálcio monohidrogencarbonato), parcialmente ligado às
proteínas plasmáticas que circulam livremente no plasma sanguíneo. Tenho uma
porção de amigos e conhecidos que adoram essas explicações bioquímicas!
Após
a ingestão desse raticida em dose letal, os níveis de cálcio livre são
suficientemente aumentados para causar uma mineralização (lembrem-se: o cálcio
é um mineral) dos vasos sanguíneos, rins, paredes do estômago e pulmões que se tornam
calcificados, ou seja, endurecidos, deixando de funcionar adequadamente.
Cristais de sais de cálcio depositam-se nas paredes dos órgãos afetados,
danificando-as. Problemas cardíacos na contratibilidade começam a ocorrer (o miocárdio – parede muscular
do coração – é muito sensível às variações dos níveis de cálcio sanguíneo livre);
também ocorrem hemorragias internas devido aos danos nas paredes dos vasos e falência
renal.
Nos
roedores, a Vitamina D como raticida é considerada tanto como dose única, quanto
de efeito acumulativo, na dependência da quantidade de isca ingerida e da
concentração do produto. A dosagem de 0,075% de colecalciferol na isca já é
letal para a maioria das espécies roedoras sinantrópicas após uma única
ingestão do produto, em quantidades razoáveis. A morte ocorre usualmente de
alguns dias até uma semana após a ingestão da isca.
Como
tudo o que foi dito vale também para o ser humano, embora este precisasse
ingerir uma enorme quantidade de isca para verificarmos o efeito danoso, é
preciso bastante cautela no uso das Vitaminas D como rodenticida, razão pela
qual esses produtos ainda não são liberados para uso em muitos países.
Com
a palavra, a indústria produtora e a Anvisa/MS.
Nenhum comentário:
Postar um comentário