sexta-feira, 10 de agosto de 2012
ESTRUTURA SOCIAL E COMPORTAMENTOS SOCIAIS DA RATAZANA (R.norvegicus)
Muito do que hoje sabemos sobre a biologia dos roedores sinantrópicos, devemos a pesquisadores como Steiniger, Calhoun e Mogens Lund, sem nos esquecermos de alguns outros nomes, todos que devotaram muito tempo de suas vidas pesquisando e observando as espécies murinas urbanas comensais e publicaram artigos científicos muito interessantes sobre os resultados de suas pesquisas, há décadas atrás. Afirmam eles que há enormes diferenças entre observar ratos e camundongos em pequenas jaulas laboratoriais, observá-los em ambientes fechados e controlados e observá-los em vida livre, ou quase isso. Afirmam também que o comportamento desses roedores estudados pode variar bastante segundo uma série de variáveis incluindo a extensão do habitat em que foram observados. Todavia, através de técnicas científicas, é possível chegar-se a conclusões bastante corretas. Por exemplo, se introduzirmos em um ambiente confinado onde uma colônia de R.norvegicus vai levando a vida de forma equilibrada e pacífica, imediatamente a colônia inteira reage à presença desses novos personagens. Mesmo que haja espaço suficiente e abundância de alimento, a reação da colônia vai ser agressiva contra o invasor. Esses estudos comportamentais são feitos em certos ambientes confinados, de amplas dimensões contendo elementos (objetos) que simulem um ambiente de vida livre e onde os espécimes presentes se sintam à vontade organizando-se tal e qual uma colônia selvagem o faria. Observações noturnas são feitas sob luzes vermelhas, porque os ratos não conseguem detectar essa luz e agem como se estivessem em plena escuridão. Sem ser percebido, o pesquisador que os observa visualmente pode presenciar, em silêncio absoluto e de posições privilegiadas, o comportamento da colônia e de indivíduos. Por exemplo, foi assim que se descobriu que uma fêmea de ratazana no cio copula com vários machos ou que um rato invasor do território será atacado até a morte por quase todos os membros da colônia ali residente. Sabemos hoje que as ratazanas são gregárias (vivem juntas) repartindo ninhos e áreas de alimentação, não obstante demonstrem comportamentos de competitividade e conflitos que contribuem para o equilíbrio da colônia e regulagem da densidade populacional. As ratazanas são territoriais e cada família defende seu pedaço; o grupo geralmente é constituído por um macho dominante e algumas fêmeas com suas proles. Há uma hierarquia entre os grupos familiares, ficando os grupos inferiores com as piores partes do território donde obter alimento, por exemplo, é mais complicado sem invadir o território do grupo alheio. Fêmeas prenhes podem repartir o mesmo ninho até a parição, quando a fêmea reloca sua ninhada para outro ninho ao qual passa defender mesmo de outros espécimes de sua própria colônia. Em condições naturais, o macho dominante protege as fêmeas que tenham por ele sido emprenhadas, evitando que sejam incomodadas por outros machos em busca de cópula. Na verdade, o território de um macho dominante não é uma área, mas sim somente trilhas que são frequentemente marcadas e remarcadas com sua urina e secreções de suas glândulas prepuciais. Contudo, não há indicação de que essa marcação seja capaz de repelir estranhos e, ao que parece, serve mais para orientação noturna. Outra coisa que sabemos: a defesa do território diminui surpreendentemente à medida que a população aumenta e assim, em colônias pequenas, a defesa do território é muito mais feroz que nas grandes colônias. Pensa-se que esse fenômeno nas colônias muito numerosas seja devido às dificuldades do reconhecimento de algum invasor. Também nessas grandes colônias (ex: no interior de uma rede de esgotos) observa-se certo movimento migratório constante com ratos deixando a colônia e outros entrando. Ratos jovens, por volta de 30 dias de idade, deixam o ninho individualmente e entram em contato com outros membros da colônia ao longo das trilhas e passagens; são geralmente ignorados até por volta dos 85 a 115 dias de idade quando se tornam sexualmente maduros, podendo se tornar alvos dos machos dominantes se estes não forem evitados nas trilhas; eles têm que aprender a não provocar agressões dos adultos. A posição social de um rato subordinado pode ser percebida por um dominante a distâncias de 3 a 7 metros durante o cair da noite e mesmo em noite aberta e para evitar um confronto de alto risco, o subordinado busca refúgio ou muda seu rumo bem antes que o dominante o perceba. Algumas vezes, o subordinado até muda seu horário de buscar alimento somente para evitar tais confrontos (por exemplo, passa a alimentar-se durante o dia). Esses indivíduos de baixa posição social caracterizam-se por baixas taxas de crescimento, baixo peso corporal mesmo quando adultos e notória tendência a reentrar em armadilhas; frequentemente acumulam alimentos em seus ninhos e aproximam-se de outros ratos de forma hesitante. A graduação social de um grupo pode ser estimada pelo número de fêmeas (altos números, mais alta a graduação), pela localização próxima das tocas às fontes de alimento, pelo sucesso reprodutivo das fêmeas e pelo número de ferimentos obtidos em disputas com outros grupos.
O assunto é vasto e interessante para quem gosta de conhecer os detalhes da biologia dos roedores (eu sou um destes). Em próximo post, vou lhes contar mais coisas que já sabemos sobre os R.norvegicus, só porque alguns cientistas resolveram deixar para a posteridade os resultados de seus estudos. Obrigado a eles por isso.
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