domingo, 5 de agosto de 2012
SOBRE O CONTROLE BACTERIANO DOS ROEDORES
Atendendo o leitor Ariovaldo de Campinas/SP, faço uma rápida revisão sobre o emprego de bactérias para controlar roedores. O assunto não é exatamente novo e trata-se do uso de bactérias patogênicas do tipo salmonela no combate a roedores sinantrópicos, assunto observado e pesquisado por Kitasato no Japão, no final do século XIX (1800 e tanto). De forma recorrente, de vez em quando alguém pensa que descobriu a roda e se entusiasma com essa abordagem, o biocontrole dos roedores. Sintetizando, inicialmente pensava-se que a salmonela pudesse ser interessante se empregada em alguma isca apetecível aos roedores; a salmonela, como se sabe, causa profusas diarreias que podem levar ao roedor que ingeriu a isca contaminada à morte. O fato é que essa abordagem é anterior ao advento dos anticoagulantes e chegou a ser amplamente utilizada na Europa na primeira metade do século XX com certos resultados, particularmente na antiga União Soviética. Quando surgiram em cena os raticidas warfarínicos (anticoagulantes), o emprego das salmonelas rapidamente caiu em desuso na maioria dos países ocidentais. Por razões políticas, já que os warfarínicos foram descobertos nos Estados Unidos, a União soviética relutou em usar esses novos compostos e continuou privilegiando o uso das salmonelas, chegando a desenvolver cepas supostamente “atenuadas” tentando assim evitar o alto risco para os humanos e outras espécies animais não alvos. No final do século XX, a agora Rússia passou a associar salmonela com warfarina (não sei bem por que!). Naturalmente, Cuba igualmente abominava o uso de warfarínicos, seguindo a orientação política da URSS e um produto cubano tentou, sem sucesso felizmente, há coisa de 10 ou 15 anos atrás, obter registro de um raticida à base de salmonela, registro esse que foi acertadamente negado pela Anvisa/MS. Nessa tentativa chegaram a fazer alguns ensaios em Niterói/RJ em acordo com a Prefeitura local. O fato é que o emprego de cepas patogênicas de salmonelas é de alto risco e não há garantias que não possam escapar ao controle e afetar seres humanos (como outros mamíferos, sensíveis às salmonelas), o que foi comprovado por inúmeros relatos científicos na literatura. Dessa forma, a Organização Mundial da Saúde passou a desrecomendar essa metodologia e em diversos países ocidentais seu uso foi proibido. No Brasil não existe raticida à base de salmonela permitido. A descoberta de algum organismo patógeno específico para roedores não é impossível, como aconteceu com o myxoma vírus empregado na Austrália para o controle massivo de coelhos e lebres. Só que essa pesquisa vai levar muito tempo e vai custar verdadeiras fortunas para chegar a algum resultado. A menos que acidentalmente...
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