sábado, 26 de janeiro de 2013

SOBRE AS ARANHAS – PARTE I

Preparando uma aula sobre aranhas e escorpiões, reli alguns trabalhos sobre os aracnídeos, especialmente um livro publicado em 1972, de autoria de Wolfgang Bücherl, hoje já falecido, emérito pesquisador do Instituto Butantan e que dedicou sua vida a estudar animais peçonhentos, tais como cobras (serpentes), aranhas, escorpiões, escolopendras (lacraias), abelhas, vespas e outros mais. Afinal, tem gosto para tudo! Nossa memória não retém tudo o que ouvimos ou lemos (ainda bem!) e foi um grande prazer reler parte dos estudos científicos, sua documentação e conclusões a que aquele estudioso chegou e nos ensinou. Por exemplo, ele cita fósseis de aranhas que datam de mais de quatrocentos milhões de anos, lá no período Siluriano de nosso planeta e que durante a formação do período Carbonífero, começou a diversificação em espécies. De lá para cá as aranhas tiveram muito tempo para evoluir, havendo hoje pesquisadores que calculam o número atual de espécies em cerca de 50.000. Muitas dessas espécies são tão férteis que chegam a produzir algo entre mil e dois mil ovos por ano, dos quais nascem praticamente todos os filhotes. Quer dizer, se todos vingassem, o que está longe de acontecer, teríamos em poucos anos uma camada de aranhas de algumas dezenas de metros de espessura, o suficiente para sepultar literalmente toda a Terra! O freio biológico que impede tal fato é a seleção natural onde só os mais aptos sobrevivem e, naturalmente, um pouco de sorte os seleciona. As aranhas vivem em toda parte, sobre a vegetação e abaixo dela, dentro de fendas e gretas, em túneis, buracos e ocos de árvores, no campo, nas florestas e, naturalmente, nas cidades ou qualquer conglomerado humano. A maioria das aranhas são completamente inofensivas, mas algumas espécies são bastante venenosas e picam. A imensa maioria delas passa a vida completamente despercebida, ainda que todas sejam carnívoras; preferem caçar suas presas de uma forma ou de outra. Caçam, matam e as ingerem sugando-lhes os fluidos vitais. As aranhas arbóreas e as domésticas alimentam-se de insetos em geral como moscas e outros voadores, baratas, percevejos, grilos ou qualquer um que caia em suas teias de captura ou armadilhas. As aranhas de maior porte, como as caranguejeiras, caçam filhotes de lagartixas ou de pássaros, minhocas, e até camundongos recém nascidos. Podem comer seu próprio peso em alimento de uma só vez, mas são capazes de ficar até um ano sem se alimentar ou mesmo um pouco mais. Para caçar sua presa, há dois métodos bem diferentes: o primeiro consiste em detectar a presença da caça, aproximar-se (ou atraí-la) dar o um bote e cravar suas pinças veneníferas injetando a peçonha e assim matá-la. As aranhas que usam tal método confiam em sua visão, o bote é muito rápido, não constroem teias, são errantes e costumam andar sozinhas. Nesse grupo estão as caranguejeiras, as tarântulas, as fonêutrias (perdoem-me o aportuguesamento do termo), todas potencialmente perigosas para o ser humano, e o imenso grupo das salticidas, ou papamoscas que costumam caçar pelas janelas de nossas casas e nos são completamente inofensivas. O segundo método de caça é o da construção de uma teia sedosa e colante para capturar insetos alados mais desavisados que passem por ali. As teias têm uma série infindável de formas, algumas são verdadeiras obras de engenharia e precisão. A fábrica de fios está instalada dentro de seu abdome, geralmente com um par de glândulas excretoras situado na porção anterior do abdome. Na verdade, um fio dessa seda é constituído de centenas de fios individuais, é cerca de 80 vezes mais resistente do que um fio de aço da mesma espessura e é capaz de ceder cerca de 20% de seu comprimento antes de romper-se. Lembrem-se que ela viveram milhões de anos aperfeiçoando-se! Tudo isso para capturar insetos. Se considerarmos que existem trilhões de aranhas sobre a Terra e que todas são carnívoras, veremos que diariamente elas destroem bilhões e bilhões de insetos nocivos às nossas plantações e colheitas. Alguns aracnólogos (estudiosos das aranhas) dizem que “sem a colaboração delas, o homem morreria de forme!” Então, por que a maioria das pessoas tem profunda aversão e medo (como eu, confesso) das aranhas? A resposta a essa palpitante pergunta será respondida em nosso próximo post. Não perca!

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