segunda-feira, 11 de abril de 2011

VAMOS FALAR DE MORCEGOS


O leitor Egberto sugeriu um post sobre morcegos aí na coluna de Perguntas&Respostas, citando encontrar certa dificuldade de encontrar textos que fales sobre o controle desses animais. Bem, vamos tentar ajudá-lo. Contudo vamos fazê-lo do meu jeito: aproveito para fazer um sumário do tema até chegar ao controle.
Até a presente data já foram descritas nada menos que 1.116 diferentes espécies de morcegos em todo o mundo, número esse que já expressa o sucesso biológico desses mamíferos desde seu surgimento há milhões de anos atrás. Na classificação Sistemática, os morcegos pertencem à ordem Chiroptera e são os únicos mamíferos que voam. Ainda na Sistemática, estão divididos em duas subordens: Microchiroptera (os morcegos pequenos, usuais) e Megachiroptera (também chamadas de raposas voadoras). Apresentam uma grande capacidade de adaptação a diferentes ambientes e climas; conforme a espécie, alimentam-se de frutas, insetos, sementes, pólen, peixes, artrópodes (principalmente insetos e aracnídeos), pequenos vertebrados (rãs, lagartos, etc) e sangue. Estes últimos são os morcegos hematófagos, ou vampiros, só existem na América Latina (do México à Argentina) e são apenas três espécies (Desmodus rotundus, Diphylla ecaudata e Diaemus yongii); contudo essas espécies hematófagas acabaram por representar a Ordem toda infundindo medo e receio na humanidade (vejam o sucesso aterrorizante que faz o Drácula (de Brain Stocker). Contribuindo decisivamente para o equilíbrio dos ecossistemas como polinizadores, dispersores de sementes e predadores de insetos, os morcegos são considerados animais úteis e nessa condição não podem e nem devem ser considerados pragas exceto pelos hematófagos, um dos principais responsáveis pela manutenção e disseminação do vírus rábico na zona rural. Os morcegos são notabilizados ainda pelo seu extraordinário sistema de ecolocalização, o tal do biossonar ou orientação pelo eco (que inspirou a criação do radar, do sonar marítimo e dos aparelhos de ultrassom) que é por eles utilizado para orientar-se na mais completa escuridão (como nas cavernas), para buscar alimentos (o que fazem durante a noite) e para comunicar-se com outros morcegos (importante para o reconhecimento entre mães e filhotes).
Deixe-me estender um pouco mais sobre a ecolocalização, que sempre me fascinou no mundo animal. É um verdadeiro sexto sentido e funciona mais ou menos assim: o morcego é capaz de emitir, pelas narinas ou pela boca, ultrassons (freqüência acima de 20 KHz) que não são audíveis pelos seres humanos. Aliás, muitas espécies de roedores também o fazem. Essas ondas ultrassônicas atingem obstáculos próximos do ambiente e voltam na forma de ecos com freqüência ainda mais alta, pois ao voltar, o eco mais a velocidade do morcego são somadas (efeito Doppler/Fiseau, para quem se lembra das aulas de Física dos tempos do Colégio). Os ecos são ouvidos pelo morcego (já perceberam que todos os morcegos têm orelhas grandes?) e pasmem: com base no tempo que os ecos demoraram para voltar e nas direções de onde vieram, os morcegos sentem se há obstáculos no caminho, bem como as distâncias em que se encontram, suas formas e velocidades relativas de deslocamento. Por isso as espécies insetívoras conseguem capturar insetos em pleno vôo. A Natureza é absolutamente fantástica, não é? O biossonar não é prerrogativa unicamente dos morcegos e também o encontramos em outros animais como nos golfinhos, andorinhões e baleias. Pois é, mas os morcegos vampiros possuem um sétimo sentido (caramba, e nós só temos cinco!). Trata-se da “termopercepção” capacidade pela qual os morcegos hematófagos localizam suas presas (geralmente eqüinos e bovinos); percebem o calor emitido pelo corpo de suas vítimas.
Os morcegos têm poucos inimigos naturais principalmente porque poucos deles descem ao chão (quando doentes, acidentes quando estão aprendendo a voar, em tempo ruim com muito vento). Corujas, falcões, gatos, cobras, certos sapos e lacraias que habitam cavernas, gambás, cuícas e algumas espécies da tribo Vampirinii que são carnívoras e se alimentam de morcegos menores. No entanto, os piores inimigos naturais dos morcegos são certas pulgas, carrapatos e as moscas-de-morcegos (sugadoras das famílias Streblidae e Nycteribiidae), porque nas membranas interdigitais, os vasos sanguíneos correm superficialmente e podem ser perfurados facilmente.
E no Brasil?
Por aqui existem pelo menos 167 espécies diferentes distribuídas em nove famílias e 64 gêneros. Cerca de 50% dos morcegos brasileiros se alimentam de plantas (frugívoros, polinívoros) sendo estritamente dependente delas ou não. O resto é de morcegos insetívoros, piscívoros, carnívoros e, em pequena escala, os hematófagos. Quer dizer então que os morcegos, excetuando-se os vampiros, são inocentes criaturas apesar de seu aspecto nada agradável? É verdade! Apesar de que já foram encontrados morcegos não vampiros infectados com o vírus da raiva, essa não é a história natural dessa doença. Então, não é à toa que no Brasil, os morcegos são protegidos por lei (Lei do Ibama de proteção da fauna brasileira) sendo considerado crime inafiançável a perseguição, captura, eliminação e encarceramento desses animais (instituições de pesquisa solicitam ao Ibama licenças especiais para capturar alguns exemplares quando necessário).
Por outro lado, quando morcegos decidem instalar-se no forro de alguma residência ou no desvão de algum prédio (afinal, esses locais não passam de cavernas para eles), passam a causar incômodos e provocar a aversão de seres humanos. Daí, a empresa controladora de pragas é chamada para “eliminar” tais morcegos. O que fazer? Matá-los? De jeito nenhum! Lembrem-se: os morcegos são espécies protegidas por lei (excetuam-se as espécies hematófagas). A empresa deverá então aplicar um método alternativo que apenas os removam daquele ponto onde estejam se abrigando (e causando incômodo). E é só isso, moçada, nem pensem em outra coisa!
A gente pode tentar uma reza brava para ver se eles vão embora ou, se não der certo, aplicar algum método alternativo que não coloque os morcegos em risco. Começando:
1) Localize e vede os pontos de entrada e saída. Quem sabe eles não encontrem outro ponto paqra entrar.
2) Pendure trouxinhas de filó contendo cinco ou seis bolinhas de naftalina em diversos pontos do teto onde os morcegos costumam se dependurar. Esses pontos poderão ser localizados pelo amontoado de fezes no piso. Aaaah... se vocês se lembram, fezes de morcegos são semipastosas e esbranquiçadas. Ao que parece, os morcegos não gostam do odor da naftalina e se retiram daquele ambiente.
3) Coloque pedaços de enxofre sobre retalhos de lata em diversos pontos do forro e ateie fogo; fumarolas com cheiro de ovo podre vão ser geradas e vão impregnar as estruturas do telhado, fazendo com que os morcegos se afastem (e as pessoas também, caso haja comunicação entre o forro e as dependências da casa).
4) Ao invés de enxofre, queime pedaços de pneu velho. Dá no mesmo. Esse não deu muito certo quando experimentei.
5) Outra que me ensinaram: pulverizar o teto com formalina (formol a 40%). Os morcegos quase morreram sufocados... eu também!
6) Uma vez li que pendurando garrafas de vidro nas estruturas do telhado com a boca aberta para baixo, iria espantar os morcegos, porque o vento passando pela boca da garrafa produziria uma freqüência ultrassônica que confundiria seu biossonar e eles iriam se retirar discretamente. Achei meio duvidoso e fui testar em duas casas infestadas. Na primeira, deram risada das minhas garrafinhas invertidas. Na segunda... não é que funcionou de forma bem razoável! Tentando entender, percebi que na primeira casa não havia espaço suficiente entre teto e telhado para que o vento circulasse livremente; na segunda casa, o vento passava livremente e suponho que o tal ultrassom, o qual obviamente eu não escutava, foi produzido. Tem cada uma!
7) Uma outra que experimentei com sucesso razoável: pendurei em todo o forro aquelas pedrinhas circulares (paradiclorobenzeno) utilizadas como desodorizante de vasos sanitários. Para nós, um cheirinho agradável; para os morcegos, um negócio mal cheiroso. Vão embora.
8) E agora, o melhor método que experimentei: o miniexpurgo. Se minha memória não falha, esse método me foi ensinado pelo amigo prof. Wilson Uieda da UNESP (se não foi ele, peço desculpas à fonte da informação). É o seguinte: prepare-se adquirindo várias latinhas dessas onde se coleta fezes para fazer exame e que são encontradas em qualquer farmácia. Atenção, tem que ser de lata; de plástico não serve. Dentro de cada uma coloque 14g de permanganato de potássio. Coloque-as dentro de uma bolsa tipo embornal que é mais fácil para levar a tiracolo. Adquira igual número de vidrinhos pequenos com rolha de borracha, daquele tipo que se utiliza para embalar antibiótico injetável. Coloque dentro de cada um 7 ml de formalina (solução aquosa de formol a 40%) e guarde-os dentro do mesmo embornal. Tudo pronto, suba ao forro e distribua as latinhas contendo o permanganato à razão aproximada de uma para cada metro e meio quadrado, já sem tampinha. Depois disso, caminhe (geralmente quase se arraste) em direção à latinha mais distante do ponto de saída do forro (por onde você entrou). Nela despeje o conteúdo de um vidrinho (formalina) e venha rapidamente fazendo o mesmo em todas as latinhas. Saia do forro e tampe o alçapão. Em cada latinha, em um ou dois minutos, vai ocorrer uma reação química exotérmica que libera calor e forma uma espessa fumarola de cheiro não muito agradável. Essas fumarolas quentes sobem e deixam as estruturas do telhado impregnadas, exatamente onde os morcegos se alojam. O odor dessas fumarolas impregnadas deve ser horroroso para os morcegos e deve irritar as sensíveis mucosas nasais e orais, de forma que eles quando voltarem a aquele abrigo, fazem meia volta e, muito a contragosto, imagino, vão buscar outra freguesia. Observei pessoalmente que eles ficam pelo menos quatro ou seis meses para começar a tentar voltar.
9) E se o problema for com morcegos hematófagos? O método clássico e estender uma rede bem fina no teto, chamada de “véu de noiva” encontrada em casas especializadas que vendem redes e outros materiais esportivos. Essa rede é tão fina que o biossonar dos morcegos não consegue detectá-la e os morcegos acabam se enredando. Com as mãos protegidas por luvas de raspa temos que remover os morcegos capturados e passar nas costas de cada um, com o auxílio de uma espátula, um pouco de pasta vampiricida anticoagulante e em seguida libertar o morcego assim tratado. Eles são gregários e retornam às suas colônias onde os demais membros executam a limpeza mútua removendo e ingerindo a pasta aplicada que acaba fazendo efeito em poucos dias, eliminando-os. Isso pode parecer fácil de executar, mas requer um pouco de prática. Essa é a técnica que o pessoal das instituições públicas rurais que lidam com a Raiva, adota com sucesso. Quer um conselho? Se o problema for com vampiros, procure antes essas instituições como os Institutos Biológicos ou os escritórios da Embrapa e informe-se melhor, OK?
Bem, amigo Egberto e demais interessados, já dei um punhado de sugestões para que o profissional controlador de pragas possa atender a solicitação de seu cliente, atormentado por morcegos. Divirtam-se!

11 comentários:

  1. Eu utilizo uma técnica muito simples para o controle de morcegos e muito eficiente.

    Como todos sabem os morcegos tem hábitos noturnos e, em geral, utilizam nosso forro apenas durante o dia como abrigo por serem escuros, então o que nossa controladora faz é no final da tarde, subimos no telhado e substituímos algumas telhas normais por telhas de vidro ou fibra de vidro transparente (já existe telhas de todos os modelos assim) na proporção de 1 telha para cada 3 metros quadrados.

    Assim o ambiente fica iluminado durante o dia e os morcegos passam a não utiliza-los como abrigo. Usei varias vezes é se mostrou muito eficiênte.

    A vantagem dessa técnica é de não utilizar nenhum produto químico (que pode lhe fazer mal ou aos morcegos, lembrando que são protegidos por lei), é uma técnica permanente (uma vantagem sobre produtos químicos) e a principal vantagem é que você não estará causando nenhum tipo de "agressão" aos morcegos, não deixa de ser um manejo.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Leonardo! Essa foi a melhor! Muito simples e pratica! E as bostas ficam né? Aí! Q medo!

      Excluir
  2. Obrigado, Constancio, é realmente não é facil fazer o controle, mas são muitas dicas, na próxima vez que encontrar o problema comento o resultado, abraços

    ResponderExcluir
  3. Amigo Leonardo: ideia muito boa e com fundamento! Contudo, pensando como empresa controladora, não sei como o cliente se sentiria ao pedir um trabalho de controle de morcegos e receber a somente a instalação de telhas translúcidas. Quero ser bem claro nessa minha opinião: absolutamente não estou contra o método que vc sugere, mas acho que não haveria valor agregado a esse sistema que permitisse fidelização desse cliente. O risco que sua empresa correria é que, na próxima vez que ela fosse chamada para resolver algum problema de pragas nesse cliente, ele talvez espere que vc novamente com um artifício muito simples resolva o problema! De qualquer forma, a ideia continua sendo muito boa!

    ResponderExcluir
  4. Constância, excelente tópico. Parabéns!
    Apenas um comentário que gostaria de deixar é referente às naftalinas. Recentemente havia uma elevadíssima infestação em uma caixa pequena com entrada apenas pela parte de fora do prédio.
    O cliente fez um pequeno buraco na caixa e "encheu" de naftalina. Resultado: o cheiro saiam pelas microfrestas daquela caixa e deixavam o ambiente próximo do insuportável e aquela imensidade de morcegos na caixa convivendo normalmente. Se o cheiro da naftalina os incomoda, eles se adaptaram rapidamente.
    Abraço

    ResponderExcluir
  5. Raciocinando como o Leonardo, quando diz que morcegos não gostam de luz, coloquei numa casa de praia que ficava vazia durante a semana e alguns morcegos resolveram habitar, 4 telhas de vidro, deixando penetrar a luz do sol e por surpresa, na semana seguinte estava livre de nossos amiguinhos. Processo simples e barato.
    othon

    ResponderExcluir
  6. COLOQUEI LAMPADAS DE 30 WATS FLUORECENTES EM CADA CÔMODO DO CASARÃO E DEIXEI 30 DIAS LIGADAS DIA E NOITE. CUSTO DA CONTA DE LUZ r$45,00 REAIS COM 8 LAMPADAS ACESAS. POSTERIORMENTE INSTALEI 8 TELHAS FRANCESAS ENCIMA DE CADA BOCAL EM SUBSTITUINDO AS LAMPADAS DURANTE O DIA. PELA NOITE DEIXEI A REDE COM UM TEMPORIZADOR PROGRAMADO PARA 12 HORAS NOTURNAS E A CONTA PASSOU PRA r$22,00 reais. Zerou os morcegos.

    ResponderExcluir
  7. Boas sugestoes! Em relacao ao ponto 8: a mistura de permanganato de potassio e formalina nao é nocivo para o ser Humano? Será que vai deixar um cheiro insuportável na própria casa?
    Obrigada !

    ResponderExcluir
  8. essa mistura de permanganato e formalina é inflamável ?? pois possuo forro abaixo da telha e os morcegos entram pelas telhas e vão para baixo da manta termica,sendoassim gostaria de colocar na parte onde fica o forroque está pregado no caibro

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. A mistura é fumígena apenas, mas se vc misturar em quantidades maiores, pode haver geração de fogo. Portanto siga a receitinha e cuidado. Coloque as latinhas apenas em pontos livres de sujeira e detritos.

      Excluir