terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
AS FORMULAÇÕES DOS INSETICIDAS – Parte I
Posso estar errado, mas não me lembro de nenhum inseticida profissional ou raticida que esteja no comércio na sua forma técnica (100% de concentração do i.a.). O composto puro precisa ser misturado (ou formulado) com outros ingredientes para melhorar suas propriedades como a segurança, a solubilidade, o odor, a resistência a fatores adversos, a eficácia, a facilidade de manipulação ou aplicação, a estocagem, etc. Por isso lança-se mão de diluentes, agentes umectantes, solventes e cossolventes, emulsificantes, surfactantes e outros. E busca-se formulações que beneficiem de alguma forma o i.a. (ingrediente ativo) para tornar o produto bem aceito no (disputadíssimo) mercado dos biocidas de uso profissional. Para os inseticidas, os tipos de formulações possíveis são: concentrados emulsionáveis (CE) ou emulsões concentradas (EC), pós molháveis (PM ou WP), suspensões concentradas (SC), microencapsulados (CS), pós solúveis (PS ou SP), soluções oleosas concentradas, iscas, grânulos (G ou GR) e pós (D). Muitos inseticidas são apresentados no mercado em mais de uma formulação, com o objetivo de dar ao profissional controlador de pragas, opções de escolha. Os raticidas (o certo seria dizer rodenticidas) podem ser iscas, pós de contato e blocos. A legislação brasileira não permite raticidas em formulações de pastas ou géis.
Vamos lá, moçada. Vamos começar explicando, antes de tudo, o que significam certos termos que podemos encontrar tanto nos rótulos dos biocidas, como na literatura que aborda esse tema:
• Ingrediente ativo (i.a.): é a substância responsável pelo efeito letal nos insetos, outros artrópodes e roedores.
• Ingrediente inerte: todo composto encontrado em um produto para apenas dar suporte ao i.a. e que não tenha efeito sobre a praga alvo. São o inertes que “desenham” o produto.
• Material técnico: é o i.a. em sua forma pura (95 a 100% de concentração) assim como foi produzido antes de se tornar um produto comercial. Não há no comércio, creio, nenhum material técnico disponível no Brasil. Isso é adquirido pelos laboratórios produtores que levam ao mercado, produtos com concentrações variadas do i.a.
• Formulação: é a forma com que o biocida é apresentado no mercado para ser adquirido por profissionais controladores de pragas (ou cidadãos comuns quando o produto tem uso livre); é composta do i.a. + ingredientes inertes.
• Adjuvante: é a substância (em um produto pode ser mais de uma) que melhora o desempenho do produto, tais como: solventes, emulsificantes, etc.
• Carreador: é um líquido ou sólido inerte que é adicionado ao produto apenas para carrear o produto até a praga alvo. Exemplos: solventes nos quais o i.a. é dissolvido, grânulos nos quais o i.a. é absorvido, pós nos quais o i.a. é misturado.
• Diluente: é todo material líquido ou sólido usado para diluir o i.a. técnico. Água e querosene são dois exemplos de diluentes para inseticidas líquidos; talco ou dolomita são diluentes comuns nos biocidas pós.
• Solução: é a mistura de uma ou mais substâncias em outra substância (geralmente um líquido) na qual os ingredientes ficam completamente dissolvidos.
• Solvente: é um líquido capaz de dissolver certos compostos químicos.
• Emulsão: é uma mistura na qual um líquido fica suspenso em pequeníssimas gotículas em outro líquido.
• Suspensão: é quando partículas de um sólido ou líquido não miscível ficam dispersas em um líquido (mas não dissolvidas). Em uma suspensão estável, essas partículas não decantam no fundo do frasco.
• Emulsificante: é uma substância tenso ativa que estabiliza uma suspensão de gotículas de um líquido em outro líquido, sem o que eles não se misturariam. É comumente usada para misturar, por exemplo, égua e óleo.
• Há ainda outras substâncias que podem estar contidas em um produto biocida, mas vamos ficar por aqui, mesmo porque isto aqui não é, nem pretende ser, um tratado químico! E chega de “entretantos” para irmos aos “finalmentes”, parafraseando o saudoso coronel Odorico Paraguassu.
A escolha da formulação a ser empregada é tão importante quanto à própria seleção do i.a. que vai ser empregado, razão pela qual o profissional deve estar muito atento para esse detalhe. Uma escolha mal feita pode comprometer o resultado final do tratamento, mesmo que o i.a. seja eficiente contra a praga alvo. Ao contrário, uma formulação bem escolhida para o caso, pode produzir excelentes resultados. Na prática, porém, poucos profissionais estão atentos para esse detalhe e acabam escolhendo o produto que vão utilizar, muito mais pela marca (e o que é pior, pelo preço) do que de maneira analítica, raciocinando qual o tipo mais indicado de formulação naquela determinada situação.
Mas, vamos interromper o post neste ponto, para que nossos leitores possam dar um respiro geral. É muita “massarocada” de uma só vez! Um dia, ainda dou um curso para Responsáveis Técnicos e daí eles vão ver o que é bom para a tosse!
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