terça-feira, 20 de março de 2012

ESTRATÉGIAS PARA IMPLANTAR UM BOM PROGRAMA DE CONTROLE DE MOSCAS - Parte II


No post anterior falamos dos princípios que devem nortear um programa eficaz de controle de moscas em uma dada instalação urbana. O combate a moscas é um ótimo exemplo do MIP – Manejo Integrado de Pragas, pois passa por ações curativas (corrigir tudo o que esteja facilitando a existência de moscas em um ambiente), ações preventivas (instalar barreiras e/ou modificar estruturas que estejam facilitando a entrada de moscas) e ações de eliminação (o combate direto propriamente dito). Falta comentarmos algo sobre como eliminar as moscas já infestantes. Vamos lá.
Externamente: para eliminarmos moscas infestantes, temos que começar pelo lado de fora da instalação a qual queremos proteger. Temos duas situações possíveis: uma, onde o criadouro das moscas alvos situa-se dentro do perímetro da propriedade e outra quando as moscas estão sendo geradas em propriedades alheias circunvizinhas. No primeiro caso, basta que localizemos o criadouro e o eliminemos. Lembram-se de nosso comentário que as moscas proliferam em matéria orgânica em decomposição? No caso de moscas domésticas (Musca domestica) nos centros urbanos, existe uma marcada preferência por lixo onde restos orgânicos vão garantir sua procriação (uma profusão de alimentos e outra de substrato para ovipor). Só quem já visitou um depósito de lixo urbano a céu aberto pode avaliar a íntima relação das moscas domésticas e o lixo. São, literalmente, milhões e milhões de moscas adultas voando em todas as direções para se alimentar, para acasalar e para pôr seus ovos; são trilhões de larvas em diferentes fases de desenvolvimento até puparem. A maioria das adultas permanece nas cercanias, pois não há razão que as tirem desse lugar tão confortável (na verdade, a maioria das moscas domésticas adultas passa a vida dentro de um raio de 500m em torno de seu criadouro). Nos meus trabalhos onde frequentava tais lixões, cansei de ver os caminhões de coleta pública de lixo, despejando sua carga e voltando para a cidade... levando consigo algumas centenas de moscas nele pousadas, pegando uma carona. Mas, não é só nesses lixões que as moscas proliferam. Dentro do perímetro das propriedades, erros no manejo do lixo orgânico produzido podem criar as condições ideais para que as moscas domésticas procriem. Um exemplo: hotéis são obrigados por regras de higiene e boas práticas (fiscalizados pela Vigilância Sanitária), a coletar seu lixo em pontos situados fora das instalações principais, chamados de “botafora”, onde o lixo deve ser separado em matéria orgânica e materiais não orgânicos; a primeira deve ser acumulada em câmara fria especialmente construída para esse fim e mantidas com porta fechada, exatamente para evitar a proliferação de moscas (e outras razões higiênicas). Na prática, nem sempre isso acontece. Sistema de resfriamento dessa câmara desligado (por “economia”, acreditem se quiserem), porta quase sempre aberta (frequentemente porque a maçaneta quebrou e ninguém se preocupou em consertar), por inépcia, falta de supervisão, preguiça de funcionários ou falta de treinamento adequado. O fato é que um manejo ruim do lixo orgânico acaba propiciando as melhores condições para que as moscas domésticas se aproveitem e façam desses botaforas um excelente criadouro. Estive certa vez em um hotel quatro ou cinco estrelas, não me lembro, para estudar um sério problema de moscas em suas instalações e, dentre vários erros de manejo do lixo que encontrei, pude observar larvas de moscas (creio que eram de segundo ou terceiro estádio) dentro dos containers plásticos onde o lixo diário era depositado aguardando remoção para o botafora. Surpreso, indagando sobre o manejo, fui informado que o container era lavado uma vez por semana... mais ou menos! O exemplo do hotel é apenas um; nas indústrias, nos supermercados e congêneres, mesmo nos estabelecimentos de preparo e consumo de alimentos, podemos encontrar criadouros de moscas. Seja como for, encontrou criadouro (há que procurar, amigo), elimine-o ou você vai morrer seco com formiga na boca e não vai controlar as moscas desse cliente. Mas, há o caso onde as moscas infestantes vem de algum criadouro não situado dentro do perímetro da propriedade. Quer dizer, não temos as formas jovens presentes (ovos, larvas e pupas), mas temos as moscas adultas infestando a área.
Moscas são insetos voadores pesados para suas asas e não executam voos demasiadamente longos, a menos que encontrem um vento favorável. Precisam pousar aqui ou ali para descansar e assim, através de voos curtos, vão se encaminhando a pontos que lhes interessem, geralmente de alimentação. Se pousam, temos uma ótima chance de eliminar as moscas antes que adentrem às instalações. O avanço da tecnologia em mosquicidas foi bem grande na última década e meia e, hoje, dispomos de produtos capazes de atrair e eliminar as moscas domésticas até com relativa facilidade, bastando saber como usar tais produtos corretamente. Entre os organofosforados, o azametifós, um OP de última geração, mostrou-se de grande utilidade e eficácia quando formulado como isca e adicionado a um feromônio sintético, o Z-9 tricozene, de atração sexual. Em nosso país já há algumas marcas desse tipo de mosquicida e quase todas mostram excelentes resultados. Basta dispor os grânulos espalhando-os no solo e nos pontos onde as moscas frequentam e o resultado se dá em alguns minutos. Alguns desses produtos têm seus grânulos coloridos em amarelo ou em amarelo e vermelho, cores muito atrativas visualmente para as moscas, aumentando seu poder de atração.
E chegamos aos poderosos “painéis papamoscas”. Para criá-los, partimos do princípio, estudado e conhecido, de que essas cores citadas, amarelo e vermelho, são visualizadas à distância pelas moscas domésticas. Na Natureza, essas são as cores que observamos nas feridas dos animais: o vermelho do sangue e músculo eventualmente exposto, e o amarelo da linfa exsudada; não há mosca que resista a tais encantos! Pois bem, tirando proveito desse conhecimento, que tal se pintássemos uma placa qualquer, uma superfície de qualquer dimensão, usando o amarelo e o vermelho separadamente, mas juntos(vide foto acima)? Será que atrairíamos moscas domésticas? A resposta foi afirmativa e assim criamos os tais painéis papamoscas. Estudos anteriores demonstraram que se alternássemos faixas amarelas e faixas vermelhas sucessivamente, as moscas visualizariam o painel a grandes distâncias e seriam atraídas. Seriam mais atraídas ainda se essas faixas fossem pintadas no sentido diagonal do painel (por razões ainda não esclarecidas). Atraímos as moscas e daí ? Entram em cena os seguros mosquicidas neonicotinóides (imidacloprid e thiametoxan) já encontrados em nosso país, um avanço no combate às moscas e a muitos outros insetos. Daí eu aplico com pincel (eu prefiro usar um daqueles rolinhos de pintura) ou pulverizado, uma calda feita com um desses ingredientes ativos na superfície pintada do painel e o exponho na vertical. Vai funcionar como ponto de forte atração para as moscas que adentrarem ao perímetro da propriedade e elas serão eliminadas antes que adentrem às instalações. Uma mosca morta de lado de fora, é uma mosca a menos do lado de dentro! Renove a aplicação do produto no painel de 15 a 30 dias após, dependendo da ocorrência de chuvas.
Sim, mas muitas moscas poderão ainda adentrar às instalações. Serão muito menos dos que as que chegaram ao perímetro da propriedade, mas podem entrar, posto que voam! E daí?
Daí, vamos examinar o que fazer em próximo post, tá?

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