sábado, 16 de outubro de 2010
CONTROLANDO MOSCAS NAS INSTALAÇÕES – PARTE II
Em post anterior, começamos a falar sobre a mosca comum (Musca domestica) e seu controle, iniciando por comentar sobre o interessante controle não químico. Hoje, quero comentar algo sobre o controle químico (uso de mosquicidas) e especialmente sobre o controle biorracional (emprego de inibidores).
Então, começaremos pelo começo: a mosca (seja qual for a espécie) cresce pelo processo que chamamos de “metamorfose completa”, ou seja, ovo – larvas – pupa e adulto. As chamadas formas jovens (ovo, larvas e pupa) permanecem no substrato original onde os ovos foram colocados; a forma adulta, alada, espalha-se e pode ser encontrada onde houver alimento disponível. E de que a mosca doméstica se alimenta? A grosso modo, de qualquer coisa, embora tenha certas preferências.
Dito isso, vamos lembrar que o combate às moscas pode ser dividido em duas abordagens: o combate às formas jovens e o combate às moscas adultas. Nada a ver uma coisa com a outra, embora uma e outra possam conduzir a uma situação de controle. Melhores resultados: use as duas coisas, quando possível.
As formas jovens são combatidas nos próprios criadouros: matéria orgânica em decomposição onde haja liberação de amônia, como acontece com fezes (de aves, de suínos, de bovinos e equinos ou mesmo humanas) e lixo. A mosca fêmea adulta, depois de copular com um macho da espécie, matura seus ovos e no momento certo, os deposita em algum ponto mais úmido (pastoso) do substrato do criadouro. Em torno de 8 horas depois, os ovos já eclodem e liberam a primeira forma larval (há mais duas em sucessão, enquanto crescem e se desenvolvem). Para isso as larvas alimentam-se vorazmente da matéria orgânica do próprio substrato e vão transformando esse substrato em uma sopa grossa (ingerem sólido e defecam líquido), onde vão alojar-se e evitam inimigos naturais seus como certas aves, insetos e outros artrópodes predadores, muito comuns principalmente na zona rural. Poucos dias depois (3,5 dias em média), a larva III sai do substrato, procura um ponto seco do solo e transforma-se em pupa (uma espécie de barril fechado); nessa fase, não se alimenta mais. Outros dias mais (3 a 5dias), a pupa se abre liberando uma mosca adulta completamente formada e já com asas. Entre 16 e 30 horas após a saída dessa mosca adulta de seu pupário, ela estará pronta para acasalar e dar início a novo ciclo.
Portanto, é nesse substrato, nesse criadouro, que devemos combater as formas jovens quando ainda estão concentradas. Mais fácil do que combatê-las depois de adultas. Até não muito tempo atrás, coisa de uma ou duas décadas, o que se fazia era pulverizar inseticidas superficialmente nesse substrato. Matava as larvas e tudo o mais, incluindo os preciosos besouros (Carcinops troglodites) tão comuns na zona rural, que se alimentam de ovos de moscas (estamos falando de controle biológico, moçada), as espalângias (Spalangia spp), uma vespinha que destrói as pupas e um diminuto ácaro (Macrocheles muscadomesticae), ávido comedor de ovos de mosca (20 por dia). Resultado: nada de controle! Larvas mortas, inimigos naturais mortos, moscas adultas ovipondo, rápido crescimento populacional e nada para controlá-las. Não ia dar certo, como de fato não deu. A infestação decrescia, mas não resolvia. Estudos prosseguiram, o conhecimento avançou e o homem chegou finalmente à conclusão de que os inimigos naturais das moscas domésticas são indispensáveis no controle, coisa que a Natureza já havia percebido há milhões de anos atrás! Importantíssimos e devem ser preservados a qualquer custo se pretendermos efetivamente controlar as infestações das moscas comuns. Contudo, a evolução da civilização criou novas e notórias oportunidades para as moscas que passaram a se reproduzir em números absolutamente incontáveis. No campo, as granjas de criação intensiva de animais de produção econômica (suínos, aves, coelhos, gado confinado, etc) colocou-os em galpões aos milhares. A presença de ração proteinada somada à grande produção de fezes não adequadamente manejadas, deu às moscas tudo o que elas queriam. Nas cidades, o descaso do certos cidadãos com as questões elementares de higiene e asseio e mesmo a falta do conceito de cidadania, o manejo incorreto do lixo doméstico, comercial e industrial proveu às moscas, o alimento e o criadouro de que necessitavam. O desastre estava delineado: conforme o local, infestações muito pesadas de moscas domésticas (para não falar de outras espécies) são frequentemente encontradas e as medidas caseiras são incapazes de controlá-las eficazmente. Resta o controle profissional.
Cabe às empresas controladoras de pragas, a tarefa de indicar a seus contratantes, as medidas cabíveis preventivas e corretivas na área capazes de ajudar (e muito) para evitar os problemas causados pelas moscas infestantes. Cabe também, decidir qual, ou quais, as técnicas e os métodos químicos que empregarão nesse combate. Mas, aí reside o problema. Muitas empresas, e profissionais controladores de pragas, ainda acreditam que controlar moscas é como controlar baratas, por exemplo. Saem aspergindo inseticidas pelas paredes, pelos cantos, pelas frestas, etc. Sim, certo número de moscas mortas aparecerá, mas isso longe está do nível de controle. Aplicando um inseticida de contato em uma parede, por exemplo, nossa chance de abater uma mosca dependerá do acaso; só a eliminaremos se ela vier pousar na superfície tratada e ali permanecer por certo período de tempo (o suficiente para que moléculas do produto aplicado possam penetrar no corpo da mosca). Para um controle profissional, é pouco. A dica do combate eficaz às moscas adultas está na sua concentração. Temos que atraí-las e concentrá-las para que as possamos eliminar. Para nossa sorte, já existem biocidas que fazem exatamente isso: são formulações capazes de atrair e abater as moscas.
Mas isso será abordado na próximo bat-post, aqui mesmo neste bat-blog! Não perca!
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