domingo, 4 de setembro de 2011

OUTRA VEZ FALANDO SOBRE PERCEVEJOS DE CAMA (BED BUGS)

A julgar pelos insistentes pedidos de informação que recebo sobre os percevejos de cama (Cimex lectularius), mundialmente conhecidos como Bed Bugs, esse problema deve estar acontecendo com grande freqüência e de forma preocupante, especialmente para os controladores profissionais de pragas a quem, em última análise, espera-se que saiba o que fazer. Vamos dar uma volta nesse tema evitando detalhes da biologia já abordados em post anterior.
Por volta dos anos 50, 60s e 70s, os percevejos atacavam rijo e eram considerados uma das principais pragas principalmente de hotéis, hospedaria, pensões e assemelhados em muitos países e regiões do globo. Já na década de 50 começou um intenso uso de DDT (seguido do uso sucedâneo do malation) para combater esses percevejos e os resultados foram ótimos. Esses compostos não só eliminavam as infestações, como davam um efeito residual que perdurava por muitos anos. O DDT, um inseticida clorado considerado o “pai” de todos os inseticidas modernos, foi apontado, na época, o “inseticida perfeito” para controlar os percevejos de cama. Porém, exatamente essa “qualidade” do DDT é que foi sua ruína, tal o volume de intoxicações agudas e crônicas que causava em pessoas que entravam em contato direto com esse poderoso inseticida, até que ele acabou sendo banido para uso urbano e finalmente também na lavoura. Além do que, o intenso uso do DDT de 1945 a 1955 no combate aos percevejos de cama, acabou por disparar o surgimento de percevejos resistentes, por sorte, sensíveis ao malation. Seja como for, essa praga praticamente desapareceu, ou era isso que se pensava. Nos últimos anos, contudo, os cimicídeos (nome que engloba todas as espécies de percevejos) retornaram e com força total. Nos Estados Unidos, por exemplo, mais de 30% dos hotéis e assemelhados encontram-se infestados por percevejos de cama, causando grandes prejuízos econômicos à rede hoteleira e riscos aos usuários. Um conhecido meu hospedou-se recentemente em um hotel quatro estrelas próximo ao centro de Nova York e lá ficou apenas por uma noite, tendo até sido trocado de quarto porque foi picado por vários percevejos. Essa praga também já chegou ao Brasil (eu particularmente suspeito que nunca tivesse ido embora) e está se disseminando com rapidez.
Como ocorre essa dispersão? Como um percevejo pode ir de um local a outro com facilidade? Na maioria das vezes, de forma passiva, sendo levados de um local a outro no interior de móveis, bagagens, caixas, roupas, etc. Eventualmente podem ser transportados por morcegos, pássaros e até roedores, seus hospedeiros naturais. De qualquer forma, fazem de hotéis e assemelhados, abrigos, complexos de apartamentos, dormitórios e congêneres seus habitats urbanos. Os percevejos têm clara preferência a se alojar próximo de suas fontes de alimento, ou seja, onde existam seres humanos, um suprimento precioso de sangue. Mas, se um incauto percevejo se meter a picar uma pessoa desperta, vai ser pronta e rapidamente esmagado com um solerte tapa da quase vítima. De forma que os espertos percevejos esperam que a pessoa durma para só então buscar sua próxima refeição. Picam à noite, quando estamos dormindo, os bandidinhos. Se a vítima tiver sono pesado, azar! Essa é a razão pela qual os percevejos se alojam preferencialmente nas dobras de colchões ou mesmo no seu interior, entrando por rasgos que possam ter. Alojam-se também na fendas e gretas das estruturas das camas ou dentro delas em camas tubulares de metal. Abrigam-se atrás de painéis e outras estruturas do quarto, embaixo de tapetes e outros locais onde possam se esconder durante o dia.
E daí? Como faço para combatê-los? Bem, não posso usar mais nenhum daqueles poderosos inseticidas clorados ou mesmo fosforados devido aos agora conhecidos riscos de intoxicação das pessoas que possam fazer uso das instalações tratadas. O combate aos percevejos hoje em dia envolve muitos fatores ambientais, tanto quanto o uso de algum biocida, se quisermos zerar a infestação em um dado local. O profissional controlador tem que ser metódico e detalhista, enquanto que o contratante tem que entender a extensão do problema, ser cooperativo e ter paciência até que os resultados finais apareçam. Quase nenhuma infestação será erradicada com apenas um tratamento isolado; essa meta poderá ser atingida, mas vai requerer uma série de tratamentos intervalados, além de mudanças ambientais (Manejo Integrado de Pragas - MIP lembram-se?)
Um guia passo a passo do controle de percevejos da cama (bedbugs) poderia ser, a grosso modo, assim delineado:
• Rigorosa inspeção das instalações infestadas incluindo áreas adjacentes de possível infestação. Ex: todos os quartos do mesmo andar onde se situa um quarto infestado em um hotel. Talvez até de andares próximos.
• Cuidadosa localização dos pontos onde os percevejos possam estar se abrigando.
• Detalhado planejamento do “modus operandi” no combate a ser executado. Lembre-se que um hotel, por exemplo, dependendo da época do ano, não pode manter muitos quartos interditados por longos períodos de tempo.
• Apresentar e discutir o planejamento com o contratante, procurando sempre explicar as razões biológicas que serviram de base para seu plano. Obter sua cooperação a qualquer custo.
• Implementar as ações de combate, de correção ambiental e de prevenção (estou novamente falando de MIP, certo?).
• Estabelecer um programa de monitoramento periódico para surpreender novas infestações ainda quando iniciais.
E como proceder para o tratamento com biocidas (eliminação das infestações já existentes)? Pelo menos por enquanto, há poucas notícias no mundo inteiro sobre o surgimento de linhagens de percevejos resistentes a certos grupos químicos dos biocidas, o que é um ponto a nosso favor. Como posso tratar?
• O ideal é o expurgo dos colchões, boxes e mobiliário infestados, fazendo uso do gases apropriados, como o brometo de metila. Não recomendo esse método para o profissional que não o domina, por ser de alto risco. Trata-se do emprego de um gás letal se inalado por seres humanos e, portanto, só com conhecimento de causa e medidas adequadas e apropriadas de segurança. Vai requerer uma câmara de expurgo ou uma envelopagem da pilha de colchões rigorosamente vedada com lençol plástico e exposição ao gás por 72 horas. Nada resiste a esse tipo de tratamento, mas, repito, é um procedimento técnico de grande risco e não vai ser nesse blog que o profissional controlador vai encontrar a metodologia operacional do expurgo.
• Não sendo ou não podendo expurgar, podemos pensar no uso de vapor de água para eliminar os adultos, as larvas e os ovos dos percevejos. Aplicar vapor com um desses equipamentos portáteis pode ser uma alternativa ecológica e eficaz, pois a temperatura do vapor atinge 100˚C que é letal para as diferentes formas do percevejo.
• Entre as medidas não químicas que poderão ajudar a erradicar infestações, podemos citar o uso apropriado de aspiradores de pó, a selagem dos colchões em sacos plásticos resistentes, o fechamento de gretas, pequenos desvãos e outros possíveis esconderijos dos percevejos.
• O emprego de biocidas deve ser fortemente considerado ao lado de medidas alternativas não químicas. Embora os percevejos de cama sejam sensíveis à maioria dos inseticidas, no mercado brasileiro não há muitos produtos que tenham no rótulo a indicação de uso contra essa praga. Em princípio porque as indústrias produtoras desses biocidas não estavam muito atentas para esse nicho de mercado e não se dedicaram a testar seus produtos contra os cimicídeos; consequentemente, não têm essa indicação nos rótulos. Dessa maneira, os profissionais controladores de pragas devem ser muito criteriosos na escolha dos biocidas que vão utilizar.
• A meu ver, formulações em pó, pós molháveis e microencapsuladas seriam as mais indicadas para o controle químico dos percevejos de cama, desde que correta e adequadamente aplicadas, sem expor os seres humanos a maiores riscos. Lembrem-se que uma pessoa vai passar pelo menos oito horas deitada em um colchão a cada noite.
O assunto é vasto e poderíamos abordar ainda muitos aspectos do tema, mas isto aqui é apenas um post. Quem sabe nossos leitores mais atentos possam ter tirado alguma informação útil desta nota. Quem sabe!

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