quinta-feira, 17 de novembro de 2011
DDT, O HERÓI PROSCRITO
Nenhum inseticida foi mais famoso do que o conhecido DDT. Tido e havido como o salvador da pátria, acabou execrado e foi parar no limbo do esquecimento. Tão importante foi que, em nosso país, acabou denominando a profissão do atual controlador de pragas que, ainda hoje, segue sendo chamado pelo povo de “dedetizador” e as empresas do ramo de “dedetizadoras”. Faz tempo que quero contar um pouco sobre a saga desse incrível composto chamado DDT.
O DDT (dicloro-difenil-tricloroetano), considerado o avô de todos os inseticidas modernos, foi sintetizado como um composto em 1873 na Alemanha, mas ficou esquecido em alguma gaveta porque ninguém sabia para que ele poderia servir. Foi só em 1939, ou seja, 53 anos depois, que um químico suíço, Dr. Paul Muller, trabalhando para a Geigy Química, um laboratório também suíço, descobriu, quase que por acaso, que esse composto matava insetos e bem! Foi rapidamente testado contra várias espécies de insetos e era tiro e queda! Mas, somente em 1944 é que ganhou incrível notoriedade de “inseticida milagroso” quando foi empregado com muito sucesso em campanha de saúde pública para debelar uma epidemia de tifo na cidade de Nápoles (Itália), sendo usado largamente na forma de pó para combater os piolhos disseminadores dessa doença. Depois da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o tifo havia matado mais de três milhões de pessoas na Rússia e Europa oriental. O emprego do DDT em saúde pública foi tão bem sucedido que o Dr. Muller foi agraciado com o prêmio Nobel para medicina em 1948. Nessas campanhas contra o tifo, o DDT pó foi aplicado na cabeça e no corpo de milhares de soldados, refugiados, civis e prisioneiros, sem exibir nenhuma reação adversa. Ganhou a reputação de seguro para ser usado. A agricultura logo se interessou pelo composto porque era substancialmente barato e seu efeito era múltiplo combatendo eficazmente inúmeras pragas da lavoura; os agricultores abandonaram a rotação de lavouras em troca do tratamento químico com o DDT. Na esteira de seu sucesso vieram rapidamente outros inseticidas hidrocarbonetos clorados (mesmo grupo químico do DDT) em sucessão, tais como o BHC, o clordane, o lindane, etc, e o uso de inseticidas sintéticos se disseminou por todo o mundo. Claro que usaram e abusaram do emprego desses compostos. Imaginem que até uma velha profissão passou a ter êxito com resultados muito bons ao usar o DDT e seus análogos, a profissão do controlador de pragas urbanas, firmando-se no cenário.
A primeira onda de crítica pública ao DDT começou em 1949 quando o jornal New York Post começou a publicar uma série de artigos de autoria de Albert Deutsch, entitulada “O DDT e você”. Ele criticava o uso excessivo e abusivo do DDT e o acusava de ser o causador do “Vírus X”, uma doença que se alegava ser provocada pela exposição ao DDT. O jornalista dizia que, embora reconhecesse a utilidade do DDT quando adequadamente empregado em indivíduos, o composto era perigoso demais para o ser humano quando empregado repetidamente em campanhas de saúde pública. Até então, os riscos ou não do DDT eram discutidos somente em meios acadêmicos e entre cientistas, entomologistas e biologistas. Mas, em 1962, Rachel Carson, uma talentosa escritora, publicou um livro entitulado Primavera Silenciosa (Silent Spring) que se tornou um “best seller” na época e que despertou a atenção da mídia para o novo tema. Rachel não era cientista, mas recebeu muitas contribuições de fontes não científicas e dados algo duvidosos e imprecisos sobre os “malefícios” do DDT. Ela batia forte contra o uso abusivo dos pesticidas e pedia mais controle no seu uso. Atacava o comportamento irresponsável da sociedade tecnológica e industrializada com relação ao mundo natural. A principal acusação de Rachel ao DDT era que ele seria carcinogênico. Todavia, Rachel em nenhum momento mencionava os enormes benefícios que o DDT e outros compostos haviam trazido para a humanidade. Só como exemplo, ela relacionava doenças potencialmente perigosas para o ser humano tais como o tifo, a malária e a peste bubônica como tendo sido controladas apenas com medidas de melhoria, de sanidade do meio ambiente e de novas drogas no tratamento. Em nenhum momento mencionava que inúmeras doenças transmitidas por insetos ou roedores puderam ser atacadas com o uso de inseticidas como o DDT e outros. Quer dizer, embora o DDT não fosse o vilão da história, passou a acusado de ser. A mídia se encarregou de disseminar esse injusto papel, manipulando a opinião pública nunca devidamente esclarecida, de tal sorte que em 1972 o uso do DDT foi proibido inicialmente nos Estados Unidos e rapidamente em outros países mundo afora. Muitos outros argumentos foram então levantados contra o indefeso DDT: residual longo demais, poluição ambiental, inespecífico e uma série de outros argumentos, alguns válidos, outros exagerados. Não me lembro de ter lido nada sobre o ângulo custo/benefício do DDT. Que pena!
Em 1989, o jornal New York Times publicou a seguinte manchete: “Estudos demonstram que não há ligação entre a exposição ao DDT e o risco de contrair câncer”. Ao menos a verdade foi restabelecida, mas infelizmente, tarde demais para salvar milhões de vidas que morreram porque inúmeros programas de controle foram cancelados, especialmente em países mais pobres que jamais puderam fazer uso de outros compostos notoriamente bem mais caros!
Pensem a respeito.
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