quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O QUE HÁ DE NOVO POR AÍ?


Foi a pergunta que recebi de nosso leitor Hipólito. Ele queria saber se há alguma molécula nova sendo registrada em produto comercial (domissanitário) e quem a estaria registrando. Bem, amigo Hipólito, não sou exatamente o que se chama de “insider” da Anvisa e só fico sabendo das coisas que lá acontecem (de nosso interesse) quando eles abrem a informação para o público em geral, através de uma consulta pública, por exemplo. Dessa forma, sei bem pouco sobre intenções de lançamento no mercado nacional, mas sei que tais lançamentos de moléculas novas são mais ou menos raros. Contudo, vamos dar uma espiadela naquilo que já vazou e que talvez nem lhe seja novidade!
Para começar, vamos lembrar que novas moléculas inseticidas geralmente surgem primeiramente no mercado agrícola e só depois são estudadas como domissanitários. Fácil de entender: o uso agrícola (agricultura e/ou pecuária) é vastamente superior ao mercado urbano e obviamente as pesquisas em andamento pelo mundo, visam preferencialmente o uso rural. As pragas das lavouras são muito mais numerosas (em gêneros e espécies) do que as pragas sinantrópicas e apresentam, com freqüência, adaptações e mutações que exigem muita pesquisa para que logremos controlá-las.
No mercado agropecuário, há ao menos três novos inseticidas já lançados ou em via de lançamento, introduzidos por gigantes do setor. Esses novos compostos incluem seletividades aumentadas contra insetos daninhos, refletindo baixa toxicidade para outras espécies, e altas eficácias, possibilitando aplicações em concentrações mais baixas e mais espaçadas. A mais significativa das novidades é o espinetoramo o mais recente membro da família das espinosinas, descobertas e desenvolvidas ao longo da década de 80; o nome comum desse novo composto é espinosade em português. A origem teria sido uma amostra de terra coletada do solo de uma destilaria de rum abandonada, localizada numa ilha não identificada do Caribe por um químico da Dow AgroScience em férias. Do material recolhido, isolou-se um fungo actinomiceto, então denominado Saccharopolyspora spinosa, cujo caldo de cultura rendeu extratos que demonstraram atividade contra larvas da mariposa Spodoptera eridana. Uma versão de uso veterinário do espinosade, para controle de pulgas em cães, está em fase de licenciamento no Brasil, possivelmente sob o nome Confortis, por iniciativa da Elanco, divisão da Eli Lilly. A indústria farmacêutica detém direitos sobre o produto pelo fato de a Dow AgroScience, que agora pertence exclusivamente à Dow Chemical, ter sido fundada na forma de joint venture entre esta e a Lilly, em 1989. As espinosinas diferenciam-se de outros pesticidas com ascendências naturais, como neonicotinóides (bloqueio da atividade nicotínica no sistema nervoso central), avermectinas (bloqueio de canais de cloro) e piretróides (bloqueio de canais de sódio) pelo mecanismo de ação que estimula o receptor colinérgico nicotínico, cuja ativação inicia uma sequência de eventos acarretando a morte de insetos. O defensivo mostrou atividade contra insetos das ordens Lepidoptera, Diptera, Thysanoptera, cupins (Isoptera), formigas (Hymenoptera) e alguns coleópteros (besouros). O espinosade é um biocida de ação relativamente rápida, o inseto morrendo dentro de um ou dois dias depois de ingerir o composto, cuja taxa de mortalidade aproxima-se de 100%.
Outra gigante do setor, a Bayer CropScience, já está tirando do forno um novo composto, o espirotetramato , em testes desde 2007, a partir de sua estreia na Tunísia. Descendendo de dois derivados de ácido tetrônico, (espirodiclofeno e espiromesifeno), o novo defensivo mostra-se letal para insetos sugadores em plantas, a exemplo do pulgão Aphis gossipii e da mosca branca, Bemisia tabaci, que assolam culturas de algodão. Ainda não há notícias sobre seus possíveis usos contra pragas urbanas.
Já a BASF PlantScience, por sua vez, está em fase avançada de registro em muitos países, de sua nova molécula, a metaflumizona, a qual parece ser o defensivo em estágio de licenciamento mais adiantado, tendo emprego autorizado em países europeus como Alemanha e Áustria. Estruturalmente é uma semicarbazona cujo ativo exerce um ação que envolve o bloqueio de canais de sódio dependentes de voltagem nos insetos, decorrendo uma paralisia relaxada, de forma semelhante à produzida pelo inseticida oxadiazínico indoxacarb, com o qual apresenta semelhança estrutural. Enquadrado entre os inseticidas “verdes”, em razão da sua baixa toxicidade (DL50 = 5.000 mg/kg), o novo produto apresenta vocação antiectoparasitária, sendo comercializado em formulações veterinárias para controle de longo prazo de pulgas, ácaros e carrapatos.
Salvo erro ou omissão, esse é o quadro momentâneo, mas vou ver se descubro mais alguma coisa por aí, certo Hipólito?

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