sexta-feira, 11 de novembro de 2011
QUIMIOFOBIA (MEDO DE PRODUTOS QUÍMICOS)
Nossa sociedade vive com uma série infindável de receios e medos. Muitos são infundados, mas outros são verdadeiros e manifestam-se intensamente em determinadas pessoas. O desejo de não ter que conviver com insetos, ratos e outros bichos, leva muitas pessoas a buscar o auxílio de um profissional controlador de pragas, mas quando este se apresenta, paradoxalmente essa pessoa não quer que esse especialista faça uso de produtos químicos para solucionar o problema. Os avanços tecnológicos no controle de pragas já permitem que consigamos bons resultados no controle de algumas delas sem lançar mão de produtos químicos, mas outras não. De qualquer forma, vamos dar um passeio sobre essa delicada questão que o profissional controlador de pragas pode encontrar (com certa freqüência) no seu dia a dia.
Podemos dividir as fobias, a grosso modo, em duas grandes categorias. Cerca de 60% das fobias refletem medos generalizados. Por exemplo: agorafóbicos são pessoas que têm medo de se expor em espaços abertos, públicos ou com multidão; também receiam caminhar sozinhos ou usar transportes públicos. Seu inverso é o claustrofóbico que simplesmente não consegue permanecer em espaços fechados como um elevador ou a cabine de um avião; entrar em um tubo de tomografia, nem pensar, só sedado! O outro grupo de fobias é formado pelas fobias monossintomáticas, ou seja, a pessoa tem medo de certa coisa específica. Um bom exemplo são os musofóbicos, pessoas que têm medo de roedores em geral, os aracnofóbicos (medo de aranhas), os entomofóbicos (medo de insetos) e assim por diante. A quimiofobia (medo de produtos químicos) não se enquadra em nenhuma dessas duas categorias clínicas citadas; é mais um termo político do que psicológico. As fobias verdadeiras são manifestações individuais, enquanto que a quimiofobia traduz um comportamento coletivo vago e impreciso, sem limites plenamente estabelecidos. A quimiofobia frequentemente é inspirada por grupos ou associações de pessoas que levantam a bandeira de que qualquer produto químico é perigoso e põe em risco a integridade física das pessoas, o que está rigorosamente longe de ser verdade. Se fôssemos banir total e completamente de nossos meios ambientes os produtos químicos que nos cercam e dos quais fazemos uso cotidiano, a vida iria se tornar bem difícil, bem difícil mesmo! Se eu não usasse mais uma pasta dentifrícia, um sabão para lavar as mãos ou minhas roupas, um desinfetante na limpeza da casa e outros produtos químicos que fazem parte do meu cotidiano, creio que a vida seria bem mais complicada, cidadão urbano que sou.
Os profissionais controladores de pragas são particularmente expostos aos quimiófobos. Lidando essencialmente com biocidas, frequentemente são alvos dessas pessoas que, de forma vaga, se declaram contra produtos químicos. “- Meu apartamento está cheio de baratas e preciso que o senhor acabe com elas, mas sem usar produtos químicos”. E arrematam: “- é que eu sou alérgico”. Provavelmente não sabem que as baratas são responsáveis por crises alérgicas, bem mais que alguns inseticidas. Contudo, o que se percebe é uma tendência crescente à quimiofobia na sociedade moderna e cada vez mais o profissional controlador de pragas vai cruzar com pessoas que manifestam forte receio ou desaprovam o uso de biocidas. Com freqüência um conflito de interesses se manifesta quando uma empresa busca solução profissional para controlar insetos, por exemplo, e dentro dessa empresa existe um ou mais quimiófobos. Essa situação vai exigir muita diplomacia e tato para ser equacionada, sem dúvida!
As raízes da quimiofobia estão na sensação atávica de que “eu devo proteger a mim mesmo e minha família dos perigos”. Os produtos químicos são, de forma generalizada, catalogados como um desses perigos. O problema é que esse medo pode ganhar proporções exageradas, especialmente quando a mídia veicula acidentes intoxicativos com produtos químicos, especialmente ligados a alimentos. O célebre Paracelso (1493 – 1541), em priscas eras, já dizia que todas as substâncias podem ser tóxicas... dependendo da dose! A desinformação ou a falta de, leva a crenças infundadas. Quando um noticiário anuncia que foi encontrada a presença de traços de tricloroetileno na água de bebida da cidade, o cidadão comum se assusta porque não sabe o que é tricloroetileno, nem lê “traços” (partes por bilhão) e já fica achando que aquela água está contaminada irremediavelmente. “Traços” passa a ser “contaminação”. Esse mesmo cidadão também não sabe que na farinha de trigo que ele usa para se alimentar e aos seus, existem pelos de roedores e partes de insetos em quantidade considerada “aceitável” por lei! O cidadão comum considera que a poluição ambiental, algo que ele pouco pode fazer para resolver, representa uma ameaça à saúde pública bem maior do que todos aqueles fatores essencialmente sob seu controle, tais como fumar, ingerir álcool, dietas e estresse. Portanto, não é de se estranhar que controladores de pragas e outros grupos que se utilizam de produtos químicos sejam alvos constantes dos quimiófobos e da mídia.
Dessa forma, o público não está reagindo a riscos reais, mas à sensação de risco, a riscos percebidos. Percepção não é realidade. Realidade é realidade! Na prática, então, o profissional controlador de pragas está lidando muito mais com risco percebido do que propriamente um risco real e pouco adianta discursar para tentar esclarecer e reduzir as sensações a suas verdadeiras dimensões. Um discurso tecnificado, cheio de palavras e dados técnicos, só tende a piorar as coisas, pois o cidadão comum (que não tem o conhecimento técnico do profissional) vai achar que está sendo “enrolado”. A melhor postura é a não discussão, deixando isso para os acadêmicos e estudiosos de plantão. A busca de alternativas é a chave para contornar tais situações. Os controladores de pragas precisam promover a ideia de que estão sempre preocupados com as pessoas e que são parte da solução, muito mais do que parte do problema. Essa deveria ser a bandeira individual de cada profissional controlador de pragas e das associações que os representam.
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