segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

SOBRE INSETICIDAS – PARTE I


Já faz algum tempo que tenho vontade de escrever um post sobre os inseticidas em geral. Ensaio, postergo, me preparo, adio e nunca começo. Hoje, resolvi escrevê-lo. Não esperem nenhum tratado científico sobre o assunto, posto que isto aqui é um mero blog cuja intenção é a de trazer aos leitores um pouco de assuntos técnicos de forma leve e abrangente. Pretendo muito mais relembrar certas matérias, discuti-las, repassar e dar um passeio sobre os temas que posto (será que em bom português já existe o termo postar no sentido de colocar no ar via internet alguma coisa?).
Nenhum ramo do fértil e complexo campo do conhecimento humano sobre o controle de pragas caminhou mais rápido e mais fundo do que os inseticidas, nestes últimos 50 anos. Novos compostos químicos tornam-se rapidamente conhecidos devido à agilidade da Internet, com sua sempre crescente rede de “sites da web” (cada vez mais temos que engolir esses galicismos porque se tornam termos universais até mesmo antes de ganhar alguma tradução), sejam das indústrias, das universidades, dos distribuidores, das agências governamentais, sejam mesmo de blogs como este. Ao lado dos novos compostos que vão sendo disponibilizados de forma comercial, outros se vão, descontinuados por seus produtores ou proibidos por decisões regulatórias das agências governamentais. Vocês sabiam que de cada 10.000 novas moléculas químicas pesquisadas apenas uma chega à fase comercial e que, de sua sintetização até sua comercialização, leva um tempo médio de oito a 10 anos?
Já percebi que este post vai longe e que vamos ter que dividi-lo em partes para publicação! Mas, vamos lá!
Gosto do termo “biocida” para designar uma substância ou composto capaz de eliminar pragas; gosto e o uso com freqüência. Acho melhor que praguicida (um tanto agrícola para meu gosto). Para mim, o termo biocida compreende tanto os inseticidas (e outros específicos como acaricidas, mosquicidas, pulicidas, fungicidas, escorpionicidas, etc), como os rodenticidas (ou raticidas). Portanto, inseticida é um biocida específico destinado a eliminar insetos, embora possa ser empregado (com sucesso) contra outros artrópodes como aranhas, escorpiões, carrapatos, milípedes e ácaros (todos não insetos).
Os inseticidas são definidos por sua fórmula química e ganham nomes comuns quando na fase de comercialização. Por exemplo: um composto cuja fórmula química é ciano (4-fluoro-3-phenoxifenilo) metil 3 (2,2-dicloroetenil) -2,2- dimetilciclo –propano -carboxilato ganha o nome comum de apenas... ciflutrina! Ainda bem!
Há várias classificações e grupos que podem juntar moléculas do mesmo tipo ou que tenham alguma similaridade. Por exemplo, podemos agrupar os inseticidas quanto à rota de penetração nos insetos; dessa forma teremos inseticidas de contato, de ingestão ou de inalação. Cada inseticida pode penetrar no inseto por uma ou mais rotas, sendo a mais comum, o contato. Ou podemos classificá-los pelo tempo de ação: fulminantes ou residuais. Há alguns que devido sua alta tensão de vapor, volatilizam-se com facilidade e o vapor gerado já é letal para o inseto se inalado; ex: DDVP (ou diclorvos) que atua em minutos. Entre os residuais, posso citar aqueles que são formulados como microencapsulados (CS), com longa duração de meses.
Para efeito deste post, vamos agrupar os inseticidas em cinco grandes tipos: Os inseticidas inorgânicos, os botânicos, os orgânicos, os bioinseticidas e um grupo de miscelânea.
Inseticidas inorgânicos: muito em voga antes da Segunda Grande Guerra (1939-1945), esses compostos eram quase todos de origem mineral e não tinham nenhuma molécula de carbono em suas fórmulas. Os mais conhecidos eram os compostos de Bóro, destacando-se o ácido bórico. Seu interesse está longe de ter morrido, pois além de sua baixa toxicidade para mamíferos, não induz resistência em insetos. Sua desvantagem é que leva um tempo considerável para atuar (de sete a 10 dias) no inseto que com ele se contaminou. É usado na forma de pó e age por contato e ingestão. A Sílica Gel e a Terra Diatomácea são outros inseticidas inorgânicos ainda utilizados no controle de pragas urbanas sob certas circunstâncias. Ambas são derivadas da sílica amorfa (a sílica gel é fabricada a partir da areia e a terra diatomácea provém de depósitos de diatomita, forma fossilizada de uma pequena planta denominada diatoma). Em tempo: como disse há muitos posts atrás, adoro cultura inútil!
Inseticidas botânicos: derivados de plantas. Os mais conheci dos são os piretros que geraram, sinteticamente, os piretróides(sobre os quais falaremos mais adiante). O ácido crisantêmico, a origem desse grupo, foi isolado a partir de certas linhagens de crisântemos, flores sobre as quais, foi observado, nenhum inseto se atrevia a pousar. Mais cultura inútil: essas flores foram usadas para repelir insetos (especialmente voadores) na Pérsia e na Dalmácia (atual Iugoslávia) em priscas eras. Os piretros são ainda hoje, muito utilizados em todo o mundo para controlar insetos profissionalmente. Sabem de onde vem a maior produção de piretro contido nos crisântemos? Do Quênia e da Tasmânia. Mas há grande produção de crisântemos também na Tanzânia, em Ruanda, na Nova Guiné e até no Equador. Como alguns piretros podem produzir apenas um efeito de choque em certos insetos que após um lapso de tempo se recobram, passou-se a adicionar aos produtos à base desses compostos, algumas substâncias sinergistas (aumentam o efeito) como o butóxido de piperonila, por exemplo. Os piretros são inseticidas de contato de baixa toxicidade para mamíferos e quase não têm efeito residual, porque se degradam rapidamente sob ação da luz. Contudo em áreas escuras e protegidas, seu efeito pode alcançar até duas semanas. Geralmente seu efeito fulminante é forte, além de serem irritantes para insetos como baratas, produzindo o chamado efeito desalojador.
Temos que falar agora dos inseticidas orgânicos sintéticos, mas vamos fazê-lo no próximo post, OK?

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