sexta-feira, 20 de janeiro de 2012
SOBRE OS INSETICIDAS – PARTE III
Terceiro capítulo dessa emocionante novela “Os inseticidas”. No capítulo anterior, vimos que os IGRs (Insect Growth Regulators), também conhecidos como Reguladores do Crescimento dos Insetos, entravam em cena à galope, desfraldando a bandeira dos inseticidas politicamente corretos, auto sustentáveis, ecológicos, entre tantas bandeiras da modernitude.
IGR (inibidores do crescimento dos insetos):- constituem um moderno grupo de inseticidas, único por afetarem unicamente os processos metabólicos dos insetos e não de mamíferos. Um tipo de IGR, os Juvenóides, interfere no crescimento de insetos por imitar a presença do hormônio natural juvenil (JH), cuja ausência deflagra, na Natureza, o crescimento (e mudança) para a fase seguinte. Os insetos afetados pelo hormônio juvenóide sintético, podem apresentar retardos no desenvolvimento, mudanças de coloração da quitina, efeitos ovicidas (ovos não eclodem), adultos estéreis, asas atrofiadas e impossibilidade de mudança de fase acarretando a morte. Formam um segundo grupo de IGRs, os inibidores da síntese da quitina (a proteína essencial para formar o exoesqueleto dos insetos). Esse grupo interfere na formação de uma enzima sintetizadora da quitina, necessária para a formação de nova cutícula que ocorre a cada mudança de fase do inseto na Natureza. Resulta uma quitina mal formada, incapaz de suportar a pressão atmosférica e de sustentar a musculatura do inseto que, assim, morre na próxima mudança de fase. Ambos os grupos apresentam baixa toxicidade para mamíferos, pássaros, peixes e outras espécies não alvos. Alguns IGRs disponíveis no mercado são:
• Metoprene: um juvenóide que foi o primeiro IGR a ser comercializado, introduzido em 1975 para o controle de mosquitos. Apresentava rápida degradação na água e luz solar, problema contornado através de formulações mais resistentes e de lenta liberação (brickets). Usado em focos larvários com sucesso, mas não afeta pupas. Usado em aerossóis contra pulgas, apresenta longa vida residual.
• Hidroprene: muito ativo contra baratas e pragas de grãos. Introduzido na metade dos anos 80s, o hidroprene permite que as ninfas das baratas atinjam a idade adulta, mas esses adultos geralmente apresentam asas malformadas e são incapazes de se reproduzirem. Não afetando ninfas, o hidroprne destina-se a um controle a médio e longo prazo (entre quatro e seis meses), razão pela qual geralmente o hidroprene é empregado em associação a algum inseticida de efeito mais rápido.
• Fenoxicarb: introduzido no mercado nos final dos anos 80s, esse juvenóide foi utilizado para controlar baratas, pulgas e formigas fogo. Hoje é mais empregado apenas contra formigas.
• Piriproxifen: é um juvenóide de amplo espectro, ativo contra grande variedade de insetos (cupins, moscas, baratas, pulgas, mosquitos, etc). Tem longa vida residual. Pode ser associado a outros inseticidas quando se deseja um efeito mais rápido.
• Diflubenzuron: um inibidor de quitina, começou combatendo pragas agrícolas em 1976, é praticamente não tóxico para aves, mamíferos peixes e abelhas, mas é muito tóxico para invertebrados aquáticos. Hoje é muito utilizado na forma de iscas contra cupins.
• Hexaflumuron: outro inibidor da síntese de quitina, da família da benzoil-ureia descoberta em 1981 pela DowElanco. Não tem odor e apresenta alta solubilidade em água. Baixa toxicidade para mamíferos, aves e peixes, mas afeta invertebrados aquáticos. É empregado com sucesso contra cupins subterrâneos.
Neonicotinóides (ou clorocotinis): é um grupo moderno de inseticidas com mecanismo de ação diferente. No final dos anos 70s, químicos da Shell investigavam compostos denominados nitrometilenos que pareciam ser inseticidas potenciais e já em 1979, cerca de 2.000 compostos nitrometilenos estavam sendo estudados como inseticidas. Em 1985 a Bayer japonesa sintetizou a imidacloprid que mostrou-se ativa contra uma série de insetos. Na esteira, vieram outros neonicotinóides como o thiametoxan, o acetamiprid, o tiacloprid e o nitempiran.
• Imidacloprid:- essa molécula tem registro em mais de 120 países e é usada tanto em ambientes urbanos como agrícolas. Afeta grande variedade de insetos como moscas, besouros, cupins, pulgas, formigas e baratas. A imidacloprid é muito solúvel em água, não é volátil e é estável quando exposta à luz solar em terreno seco. É virtualmente sem odor nas formulações e atua nas sinapses nervosas do inseto, impedindo a acetilcolina de atuar no transporte do estímulo nervoso. No Brasil, foi introduzida no mercado na forma de isca contra moscas.
• Thiametoxan:- com mecanismo de ação semelhante ao imidacloprid, mas ocupando os dois sítios de acoplagem da acetilcolina que transporta o estímulo nervoso de neurônio para neurônio, esse composto apresenta resultados formidáveis no combate a moscas principalmente, embora possa ser empregado contra baratas. No Brasil já está sendo introduzido em diferentes formulações inseticidas com ótimos resultados, pela Novartis/Syngenta.
Sulfonamidas fluoralifáticas: por enquanto só há um composto representante desse grupo, muito utilizado contra formigas, baratas e iscas de cupins.
• Sulfluramida:- tem ação retardada o que permite que o biocida seja transferido de um inseto para outro na colônia (efeito dominó). É um inibidor metabólico para os insetos, de toxicidade oral e dermal baixa para mamíferos e levemente tóxico para peixes a artrópodes aquáticos.
Amidinohidrazonas: grupo representado pela hidrametilnona, sintetizada em 1977 pela American Cyanamid.
• Hidrametilnona:- entrou no mercado do controle de pragas em 1980 em várias formulações para o controle de baratas, formigas e cupins na forma de isca. Atua inibindo a formação do ATP (trifosfato de adenosina), responsável pela produção de energia dentro das células. Foi descoberto que a hidrametilnona encontrada nas fezes das baratas que ingeriram o produto, é capaz de eliminar outras baratas que ingerirem essas fezes (coprofagia é coisa corriqueira na Natureza). No mercado há formulações em pasta e gel.
Fenilpirazóis: outro grupo que tem apenas um representante já comercializado e que tem mostrado bons resultados contra mais de 500 espécies de insetos e ácaros (urbanos e rurais). Descoberto em 1987, começou a ser produzido comercialmente em 1993 e tem registro em mais de 100 países.
• Fipronil:- age por contato e/ou ingestão, afetando o sistema nervoso ao bloquear os canalículos de sódio do sistema nervoso central. Não sendo repelente aos cupins, o fipronil pode ser transferido a outros membros da colônia. Fluidos produzidos por baratas afetadas podem matar outras baratas que os ingerirem (efeito dominó). Também é bastante eficaz contra formigas e mesmo carrapatos. Disponível na forma de iscas de pronto uso, géis, pastas e líquidos para pulverização.
Avermectinas: são inseticidas derivados do fungo Streptomyces avermitilis, um microorganismo que vive no solo.
• Abamectina:- o fungo que a produz foi isolado em 1970 por pesquisadores da Merck a partir de solo coletado no Japão e dele foram isoladas quatro avermectinas de composições diferentes; a chamada abamectina tem 80% de avermectina A com 20% da avermectina B. Vida bem curta (24 horas) quando exposta ao sol, apresenta toxicidade baixa para animais não alvos e paralisa os mecanismos de alimentação do inseto, provocando-lhes a morte. É usada para controlar baratas, mas ainda não há nenhum produto domissanitário com esse i.a. disponível no mercado brasileiro.
Há outros compostos e outros grupos de menor importância no controle urbano de pragas que nao serao abordados neste post.
Não se pode falar de inseticidas sem abordar a questão das formulações, já que um determinado i.a. pode apresentar perfil bastante diferente conforme a formulação em que seja apresentado. Mas, isso será tema de outro post, OK?
Dá um tempo, meu!
Marcadores:
inseticidas
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário