quinta-feira, 13 de maio de 2010

REVISÃO TÉCNICA: BARATAS - PARTE I

A julgar pelo volume de solicitações que recebemos após a postagem da Revisão Técnica Pulgas, parece que a forma (e/ou o conteúdo) agradou a nossos leitores. Então, para que não se diga que não falei de flores, aqui vai outra revisão, agora sobre as baratas. É resumo, mas mesmo assim vamos ter que dividir em partes e ir postando aos poucos, porque o assunto é vasto, grande mesmo!
Sabem qual a idade das baratas em nosso planetinha? Apenas 350 milhões de anos. Os hominídeos mais antigos datam em torno de 13 milhões de anos, mais ou menos (sabemos disso pela datação dos fósseis já estudados); quer dizer, as baratas já estavam na Terra muito tempo antes do surgimento da espécie humana, tal como a conhecemos. Eu diria que estão bem mais evoluídas que nós! São mais de 4.000 espécies de baratas que já foram cientificamente descritas em todo o globo, embora apenas uma meia dúzia acabou se sinantropizando (vivendo em torno do homem) e nos causando muitos problemas. Até hoje os estudiosos discutem onde seria a origem das baratas, mas a voz corrente é que provavelmente se originaram em regiões tropicais onde predominam o calor e altos teores de umidade ambiental. Eles também concordam ao dizer que a época onde as baratas mais se disseminaram em toda a Terra, foi na época das grandes navegações e descobrimentos, quando as espécies asiáticas e européias passaram a ser transportadas pelas caravelas, naus, bergantins, chalupas e assemelhados. Onde houvesse uma carga em um porão, as baratas também se acomodavam folgadamente. Porões fétidos, sem circulação de ar, úmidos por natureza, com alimentos mal armazenados para a marujada que ali mesmo fazia suas refeições, pratos e utensílios mal lavados, restos e migalhas por toda parte, um verdadeiro paraíso para as baratas. Sem inimigos naturais a bordo, proliferavam livremente aos montões. Desembarcavam nos portos no interior das caixas mal rejuntadas da carga, desciam ativamente pelos cabos de amarração das embarcações e encontravam um novo mundo pronto para ser infestado. Em terra firme, um porto imundo na maioria das vezes, casas e galpões insalubres, taperas comprometidas e esburacadas, esgotos a céu aberto (geralmente uma vala contínua no centro dos arruamentos), lixo doméstico por toda parte e pouca ou nenhuma noção e comprometimento com a limpeza por parte dos cidadãos da época. Foi provavelmente a época de ouro na história das baratas! Como se sabe hoje, as baratas são caçadoras vorazes de percevejos, principalmente os sugadores de sangue que teimam em se esconder em nossos colchões (hoje, esses percevejos –bedbugs- estão assumindo papel cada vez mais preocupante especialmente em países de clima mais frio). Em seu interessante livro Viagem (1885), E.Foster nos conta que ele e todos os demais passageiros a bordo de um navio passaram noites terríveis sendo sugados por verdadeiras hordas desses percevejos (Cimex lectularis), até que aportaram na Ilha de Santa Helena (aquela mesma que serviu de prisão exílio para Napoleão). Ali, junto com uma determinada carga, subiu a bordo um grande número de baratas americanas (Periplaneta americana) que, pouco tempo depois, havia crescido enormemente em número. A partir disso, o número de percevejos foi declinando até desaparecerem. Em 1969, Mallis confirmou em estudos laboratoriais que as baratas americanas eram violentas predadoras de percevejos, atacando-os e devorando-os, o que explicou o fato relatado por Foster quase um século antes. Bem, a barata não é tão boazinha como pode parecer. Na verdade ela está envolvida diretamente na disseminação de inúmeras bactérias, fungos e vírus, alguns patogênicos (causam doenças) ao homem e aos animais, embora até hoje não se tenha descoberto nenhuma doença onde a barata atue como vetor biológico. Centenas de estudos já ligaram as baratas a certas doenças como conjuntivites, gastroenterites, infecções urinárias, toxinfecções alimentares, gangrenas gasosas, infecções de ferimentos, pneumonias, alergias, certas verminoses, micoses, hepatites, amebíases, giardíases e a poliomielite, porque dentro ou fora de seus corpos já foram encontrados os agentes causais dessas doenças. Chega ou querem mais?
São onívoras (comem qualquer tipo de alimento), mas preferem alimentos amiláceos como os cereais em todas as suas formas, alimentos adocicados ou açucarados e derivados do leite. Na sua dieta, figuram queijos, cerveja, couro (como o dos sapatos, roupas, cintos e móveis), cabelos, papel de parede, papéis em geral, selos postais, cola de caixas de papelão e qualquer matéria orgânica em decomposição (isso inclui cadáveres, naturalmente); gostam de frutas, especialmente as carnudas como as bananas, mangas, mamões, abacaxis e morangos. Todavia, não se contentam em nos roubar alimentos. Elas tem o péssimo hábito de anunciar sua chegada e passagem através de um odor execrável e nauseabundo, alem de deixar uma grande quantidade de fezes atrás de si. Esse odor repugnante para a maioria das pessoas, é resultante da combinação de seus excrementos com um fluido secretado por suas glândulas abdominais de cheiro, mais um outro fluido escuro regurgitado quando estão se alimentando. Quanta porcaria junta, não?
No mundo atual, as baratas acabaram encontrando novas maneiras de nos aborrecerem. Esses fluidos corporais a que nos referimos, atacam e oxidam rapidamente circuitos impressos, cabeças de leitura ótica e fios de diferentes aparelhos eletro-eletrônicos. Equipamentos de som e computadores são suas vítimas cotidianas.
Bem, o tamanho da encrenca já está mais ou menos delineado. Os leitores já tem bastante munição para explicar a seus clientes o perigo potencial das baratas. Podemos ver agora as espécies sinantrópicas predominantes em nosso país. Agora não, porque este post já está grande demais. Em alguns dias continuamos, certo? Não percam a Parte II.

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