segunda-feira, 17 de maio de 2010

REVISÃO TÉCNICA: BARATAS - PARTE II

Retomando nossa sumária revisão do tema Baratas (para os leitores que estão acessando o blog pela primeira vez, a Parte I deste tema está logo aí abaixo; sugiro sua leitura antes de ler este post), das mais de 4.000 espécies distintas de baratas já descritas cientificamente (e provavelmente outro tanto jamais observadas), como dissemos anteriormente, apenas umas poucas se aproximaram do convívio com o homem nos núcleos e centros urbanos. No Brasil, não mais de três ou quatro espécies percorreram esse caminho, a começar pela notória barata alemanzinha (Blatella germanica), também chamada de francesinha ou mesmo paulistinha, devido à alternância de bandas escuras e claras longitudinais no seu pronoto (o escudo protetor da nuca, sob o qual a cabeça está fletida), lembrando as listras da bandeira francesa ou paulista, como queiram; também é chamada de germânica, obviamente devido ao seu nome científico. Na verdade são apenas duas faixas escuras sobre um fundo mais claro. As baratas alemanzinhas adultas não medem mais que 1,5cm de comprimento; cor marrom em diferentes tons, mas os machos são mais claros que as fêmeas e as ninfas são bem escuras; produzem proles o ano inteiro, o que é favorecido por ambientes úmidos e com temperatura ambiente acima de 21°C (ex; cozinhas); a fêmea carrega consigo a ooteca (estojo de ovos) durante todo o tempo de maturação das pequenas ninfas em seu primeiro estádio e só a deixa quando a ooteca está pronta para eclodir liberando em torno de 30 a 40 ninfas, podendo chegar a 48 ou 50. Cada fêmea pode produzir cerca de 4 a 5 ootecas ao longo de sua vida que dura em torno de 200 dias. Preste atenção nessa fantástica capacidade de reprodução e o leitor vai descobrir por que controlá-las não é tarefa fácil. Todas as baratas são insetos de desenvolvimento por metamorfose incompleta (ovo-ninfas-adulto) e, segundo Noland (1949), a barata alemanzinha pode ir de ovo à adulta em cerca de 36 dias (temperatura ambiente de 30°C); contudo, a média em condições normais (27°C com 40% de umidade relativa do ar), oscila em torno de 50 a 60 dias. A B.germanica não aprecia viver a céu aberto, mas sob certas circunstâncias pode ser encontrada no peridomicílio. Em 1982, o conhecido especialista Frishman, o americano que algumas vezes já esteve no Brasil encantando-nos com suas animadas palestras sobre baratas, relatou haver encontrado uma pesada infestação de baratas germânicas no interior de um grande e velho aparelho de rádio no vestíbulo de um dos andares de um hospital, onde não havia qualquer fonte de água em um raio de 18m; depois de muito investigar, descobriu, conversando com o pessoal do hospital, que as baratas aproveitavam a noite para matar a sede na urina produzida por pacientes que não podiam conter a micção! Grande Frishman esse, muito criativo... alem de ótimo palestrante!
As baratas alemanzinhas são, como as demais baratas, de hábitos noturnos e evitam grandes movimentos durante o dia; costumam esconder-se em grandes grupos em lugares sempre próximos à fonte de alimento e umidade, o que faz da cozinha seu habitat predileto. Seus alimentos preferenciais são fermentados e resíduos de bebidas que fermentem (leite e cerveja). Baratas adultas podem viver até um mês sem alimentos, desde que não falte água, mas morrem em duas semanas sem ela. Qualquer rachadura nas paredes, vãos entre azulejos mal rejuntados, azulejos quebrados, buracos, fendas, gretas em cozinhas residenciais, comerciais ou industriais, são pontos de eleição para seus abrigos.
A segunda espécie sinantrópica de importância em nosso país, é a barata americana (Periplaneta americana) também chamada de barata dos esgotos (já perceberam, não!), cujos fósseis mais antigos datam de 6 ou 7 milhões de anos atrás, encontrados em cavernas ao lado de utensílios domésticos ancestrais. Essas danadas têm o péssimo hábito de voar e o fazem muito bem e alto (podem entrar por janelas abertas em prédios de 10 ou 12 andares), daí ganhando também o nome de baratas voadoras. Quem já escutou uma barata americana em pleno vôo, não se esquece jamais, pois parece um minihelicóptero; além do que, ela quase sempre termina seu vôo nos cabelos ou nos braços de alguma pessoa! É ruim, hem! É a maior das espécies domésticas podendo atingir até 5cm de comprimento; os machos são um pouco menores. De cor marrom-pinhão, têm uma característica banda amarela circundando o escudo protetor da cabeça e têm quatro asas, duas pesadas de proteção e sob estas, duas bem mais finas para vôo. Ao contrário das alemanzinhas, logo que forma a ooteca (estojo de ovos), a barata americana a deixa em algum ponto protegido e colada à superfície através de uma substância pegajosa produzida pela mãe. Depois de aproximadamente 38 a 49 dias (dependendo das condições ambientais de temperatura e umidade) a ooteca eclode liberando de 6 a 16 ninfas (média de 9); a barata americana pode produzir cerca de 90 ootecas durante sua vida que pode chegar a 2,5 anos. Preferem habitar lugares quentes, úmidos e escuros (ex: rede de esgotos, porões, caixas de gordura, fossas, ralos e drenos, embaixo das pias e ao redor de canos de água, armários de cozinha, etc. Foi considerada o inseto mais rápido da Natureza. São fascinadas por líquidos fermentados (dica: pão com cerveja é uma isca irresistível!). Os escorpiões fizeram dessa barata, seu alimento preferencial nas cidades.
A terceira espécie sinantrópica mais prevalente em nosso país é a barata oriental (Blatta orientalis) que não consegue voar porque suas asas são muito curtas; nas fêmeas são tão curtas que o terço distal do abdômen fica exposto, o que nos permite identificar essa espécie facilmente. Das espécies domésticas, é mais vagarosa e menos cautelosa, expondo-se com freqüência. Vive em grandes grupos misturados entre adultas e ninfas e são muito encontradas em monturos de lixo e esgotos. Têm cor marrom bem escuro e medem cerca de 3cm de comprimento. A fêmea carrega sua ooteca por cerca de 30 horas para depois depositá-la em lugar quente e protegido, sempre próximo a uma fonte de água. No interior da ooteca, 16 ovos se desenvolvem por um período aproximado de 42 a 81 dias, dependendo das condições ambientais. A fêmea pode produzir cerca de 18 ootecas ao longo da vida que termina em torno dos seis meses. Essa espécie é a que causa mais repulsa porque seu contato corporal com a pele das pessoas é total (as fêmeas encostam seu corpo inteiro na superfície onde param) e seus movimentos são lentos. Quem já passou por essa experiência, não se esquece!
Há ainda mais uma espécie a citar, a Pycnoscellus surinamensis, a barata do Suriname, uma espécie não autóctone que está entrando em alguns pontos de nosso país. Alimenta-se principalmente de raízes (atenção aos vasos ornamentais no interior das residências!).
OK, agora podemos pensar em abordar a questão do controle das baratas domésticas. Só pensar, porque comentar fica para um próximo post! Não perca neste mesmo batblog!











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