quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

POSSO USAR FEIJÃO CRU COMO RATICIDA?

Novamente recebo outra consulta sobre o possível uso de feijão cru como raticida. Tenho respondido essa questão repetidamente e até preparei uma nota a respeito que foi veiculada pelo site pragas.com.br há alguns meses atrás. Tudo começou com um trabalho científico publicado em 1994 de autoria do Prof. Pedro Antunes e outros pesquisadores em conjunto da Universidade Federal de Pelotas/RS, FAEM / Depto. de Ciência e Tecnologia Agroindustrial. Eles estavam analisando na época o valor nutricional de quatro cultivares de feijões similares entre si comumente encontrados no comércio brasileiro (Rico 23, Pirata 1, Rosinha G2 e Carioca) e também os fatores antinutricionais como a antitripsina e a lectina (duas proteínas tóxicas existentes em todos os feijões). Nesse ensaio, ratos brancos de laboratório (albinos da espécie Rattus norvegicus) foram submetidos a uma dieta obrigatória e exclusiva desses cultivares de feijão cru e os pesquisadores apresentaram suas conclusões. Sucede que todos os ratos do estudo morreram depois de comer bastante feijão cru, aliás, como seria de se esperar dada à presença daquelas substâncias tóxicas no feijão ainda cru. Eis que 14 anos depois dessa publicação, alguém pensou que se o feijão cru matou os ratos de laboratório, poderia matar também ratos selvagens a um custo, digamos, bem mais barato! E, confundindo de maneira desinformada as coisas, imaginou que em sendo feijão (coisa que o brasileiro come quase todos os dias), havia “descoberto a pólvora”: um alimento barato que seria tóxico só para os ratos. Nada poderia ser mais ecológico e seguro! De maneira totalmente desinformada a tal “novidade” começou a circular pela Internet dando o resultado como certo e promovendo o “novo raticida” como ecológico, atóxico e seguro para seres humanos. Alguns sites e blogs até técnicos reproduziram o refrão, de forma precipitada e sem maiores verificações.
Vamos, mais uma vez, aclarar essa questão. Primeiro, o feijão cru está longe de ser seguro e atóxico para seres humanos! Ao contrário, é bastante tóxico e pode levar um ser humano à morte se ingerido em certa quantidade. A razão é a presença de duas proteínas tóxicas (lectina e antitripsina) no feijão cru que são desnaturadas durante o cozimento, razão pela qual o feijão cozido não causa efeitos tóxicos em quem o ingere. Se aqueles ratos do ensaio tivessem comido feijão cozido ao invés de cru, estariam vivinhos da silva até hoje! Provavelmente, mais gordinhos. O Prof .Pedro Antunes inquirido sobre essa versão apócrifa que circula na forma de post na Internet, mostrou-se horrorizado com o desvio dado à sua pesquisa, pois a intenção dos pesquisadores era apenas demonstrar o efeito nocivo do feijão cru que desaparecia quando o feijão era cozido.
Em segundo lugar, claro que podemos oferecer a uma população de roedores o feijão cru para que eles comam e morram. Contudo, o difícil, para não dizer impossível, será convencer esses roedores a ingerir feijão cru como alimento! Milhões de anos de evolução tornaram os roedores (e uma enorme gama de outros mamíferos monogástricos - aqueles dotados de um só estômago - como o homem, os cães, os gatos e os ratos), avessos à ingestão de feijão cru. Quem comia, morria! Quer melhor aprendizado do que esse?
Portanto, vamos esclarecendo essa balela monumental: feijão cru mata rato se fosse teoricamente ingerido de forma voluntária, mas jamais pode ser adjetivado como atóxico, ecológico ou seguro para a espécie humana. Sócrates não sabia disso, se não, talvez não optasse pela cicuta!

Um comentário:

  1. Boa tarde!


    Meu nome e ivone

    e gostaria de tirar duvida sobre o oleo de neem como produto natural e atoxico ao ser humano e natural ecologico tem algumas empresa que estão usando o mesmo para enganar pessoas/ clientes mais na verdade usam outro produto, e colocam em sua publicidade que usam oleo essencial etc...

    (011) 4031-1990

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