terça-feira, 1 de dezembro de 2009

OS RATOS E A TERRÍVEL HISTÓRIA DA PESTE BUBÔNICA

Nenhuma outra doença influenciou tanto a história da humanidade quanto a peste. Causada por uma bactéria hoje denominada Yersinia pestis, a doença é transmitida principalmente pelas chamadas pulgas dos ratos (Xenopsylla cheopis) e tem curso mortal tanto para roedores, quanto para humanos. Muito se aprendeu sobre essa temida doença desde que Alexandre Yersin em 1894 descobriu o bacilo responsável. Ninguém sabe como e quando esse bacilo apareceu na Terra; provavelmente evoluiu junto com outros microorganismos em distantes eras geológicas. Mas, evoluiu mal porque causa a morte do hospedeiro onde se aloja, forçando o bacilo a buscar continuamente outros hospedeiros para garantir a perpetuação de sua espécie, o que é feito através de uma pulga. Só lembrando: a bactéria penetra em um roedor (via pulga) onde se multiplica rapidamente fluindo no sangue do hospedeiro. A pulga desse hospedeiro ao se alimentar do seu sangue infectado, suga o sangue carregado de bacilos que, no interior do inseto, vão se multiplicar, localizando-se especialmente no esôfago onde acabam formando uma "rolha" que o tampa. Enquanto isso, o roedor infectado acaba morrendo da doença; o sangue do hospedeiro para de circular e suas pulgas não conseguem mais se alimentar no cadáver. Com fome, as pulgas abandonam esse cadáver e procuram outro roedor a quem vão picar para se alimentar. As pulgas com o esôfago tamponado, não conseguem se alimentar e regurgitam o sangue sugado de volta para o novo hospedeiro, levando os bacilos. Resultado: o novo hospedeiro se infecta e está condenado à morte. No entanto, quando a maioria dos roedores dessa colônia morrer, as pulgas infectadas buscam outros tipos de hospedeiro e pode acontecer que seja um humano passante a quem vão tentar picar. O sangue humanos não lhes agrada e elas desistem , mas aí, o infeliz já estará contaminado e aproximadamente dentro dos seguintes seis dias, estará severamente adoentado (vômitos, dores de cabeça, febre muito alta). E assim, sucessivamente, acontecem as epidemias de peste.
Pois bem, a história da peste é uma história de bactérias, pulgas, ratos e homens. A seda começou a penetrar na Ásia Central por volta do século 3 A.C. vinda da China, trazida por longas caravanas no lombo de camelos. Na bagagem, a caríssima seda, mas também roedores possivelmente infectados com o bacilo da peste. Os romanos conheceram a seda durante sua expansão para a Ásia e seu sucesso foi fantástico entre patrícias e patrícios romanos. Esse rendoso comércio foi fortemente afetado por volta de 270 A.C., porque muitas caravanas simplesmente desapareciam no caminho devido à morte de todos os caravaneiros acometidos pela peste. Assim mesmo, o avanço da peste foi lento e alcançou a China somente sete séculos depois (610 A.C.). Contudo, para a Europa, o caminho foi mais rápido devido às embarcações romanas que traziam roedores infectados da Ásia. Já em 161 D.C. ratos pretos (R.rattus) haviam invadido a Itália e com eles a primeira epidemia ocidental de peste grassou por 15 anos dizimando a população romana e de todo o Mediterrâneo, despovoando a faixa litorânea. Outra epidemia estourou em 542 em todos os países mediterrâneos provocando a morte de cem milhões de pessoas em dois séculos. Com tamanha perda de vidas, instalou-se uma era que hoje chamamos de obscurantismo, porque a estrutura social (e cultural) foi desmantelada completamente. Morreram os cidadãos comuns, mas também morreram os nobres, os militares, os professores, os médicos, os religiosos, os engenheiros, os comerciantes, os lavradores e os produtores, causando a estagnação do conhecimento humano e de sua transmissão à gerações seguintes (a cultura foi preservada no interior de monastérios e clausuras pelos monges católicos). Em 1346, por exemplo, os tártaros que haviam invadido a Europa, durante o assédio à cidade de Caffa (um posto avançado genovês) às margens do mar Negro, catapultaram cadáveres de pestosos para o interior dos muros disseminando a peste entre os cidadãos que abandonaram a cidade (levando involuntariamente roedores e suas pulgas para toda a região). As consequências da Peste Negra foram profundas e indeléveis. Os historiadores nos contam as epidemias terríveis de peste que sucessivamente golpearam a Europa: 1348(a mais violenta), 1363, 1374, 1383, 1389, 1410, 1528, 1652, 1720 e 1771, ceifando milhares de vidas.
Quer dizer, nunca uma doença epidêmica fez tanto estrago na história da humanidade quanto a peste! Transmitida por quem? Uma pulga e um rato.
E no Brasil, tem peste? Tem sim, mas está restrita a algumas regiões do norte e nordeste do país, com dois microfocos em Teresópolis e Petrópolis no Estado do Rio de Janeiro, mas em caráter meramente endêmico. Já não chega os sérios problemas de saúde que temos e ainda mais esse? Xô, gururu!

2 comentários:

  1. isso é gigantesco ,deveriam por em resumo para os estudantes fazer com facilidade

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  2. Prezada Vik. Embora tenha realmente ficado grande para um blog, não escrevi nem 0,00001% do que existe sobre esse tema na literatura. O post não foi escrito para pesquisa estudantil, mas é apenas como um sumário para informação dos profissionais controladores de pragas.Posso tentar resumir, vamos lá: "A peste bubônica é causada por uma bactéria que ataca roedores e o homem, transmitida por uma pulga. Na Antiguidade causou milhares de mortes na Europa, mas hoje já tem tratamento".
    Está bom assim, Vik?

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