Ivone, uma colega e leitora deste blog, postou um comentário na matéria do feijão cru como raticida (vide abaixo) citando o pretenso uso do óleo de nim como inseticida por parte de empresas de controle de pragas. Como eu já havia recebido uma outra consulta sobre esse tema, resolvi transformar minha tréplica em um breve sumário desse tema, para conhecimento de leitores que ainda não ouviram falar do óleo de nim, que aqui segue.
Na Índia, possível local de sua origem, existe uma árvore frondosa que vive em média 200 anos que é um espanto: dela tudo se aproveita: frutos, sementes, folhas e caule. Naturalmente, o maior produtor de nim no mundo é a Índia, onde é conhecida há mais de 5.000 anos, mas o Brasil vai muito bem obrigado no cultivo do nim, introduzido em 1990, contando hoje com mais de 6 milhões de árvores plantadas. O nim tem propriedades notáveis em diversos tipos de uso que hoje dela se faz. Chama-se cientificamente de Azadirachta indica e é internacionalmente conhecida como árvore neen, aportuguesado para nim. A principal substância extraída do nim, é a azadiractina que nos interessa nesta abordagem como inseticida. Essa proteína vegetal tem sido amplamente estudada no mundo todo e a cada dia descobre-se um novo uso para proveito humano. Por exemplo, ela é usada até em cosméticos como shampoos (tônico capilar), sabonetes (sarnicida, antimicótico e outras afecções dermatológicas), pasta de dente (bactericida), etc. Na agricultura, a azadiractina é amplamente utilizada no combate e controle de uma grande variedade de insetos e outras pragas comuns (mais de 400 pragas). Na pecuária, tem sido utilizada com sucesso como carrapaticida e no controle da mosca dos chifres (o gado recebe folhas trituradas misturadas ao sal e o ingrediente ativo passa a circular no sangue do animal, de onde é sugado por certos ácaros e insetos hematófagos, onde vai atuar). Portanto, a azadiractina é extremamente versátil. Mas, vamos ao que nos interessa no momento.
A azadiractina, muito empregada na forma de óleo (conhecido como óleo de nim), é um inseticida botânico do grupo dos tetranortriterpenóides (da classe liminóide) extraído da árvore Azadirachta indica e é compatível com muitos inseticidas (onde atua como sinergista) e fungicidas. Aliás, esse estudo de compostos botânicos como adjuvantes e sinergistas para inseticidas, tem produzido inúmeras substâncias muito interessantes como a salanina, a gedunina, o azadirone, a nimbina, a nimbidina e o nimbirol, para citar apenas algumas. Desde o antigo e muito empregado butóxido de piperonila, muita coisa nova surgiu efetivamente!
A azadiractina já foi registrada nos Estados Unidos como inseticida geral com classificação toxicológica de grau IV (relativamente não tóxico). Portanto, é falsa a afirmação de seja “atóxico”, fazendo então companhia ao feijão cru! Essa substância é similar a um hormônio natural dos insetos chamado de ecdisona, o hormônio responsável pela mudança de estágio durante seu desenvolvimento. Quando chega o momento da larva (ou ninfa) mudar de estadio juvenil, o nível do hormônio ecdisona sobe provocando inibição dos hormônios juvenis e assim ocorre a mudança de fase. A cada novo estadio o fenômeno se repete até que finalmente chega a forma adulta do inseto. Pois, a azadiractina bloqueia a síntese da ecdisona que não é produzido mais no organismo do inseto depois da ingestão da azadiractina, resultando uma severa interferência no seu desenvolvimento, levando-o à morte por inviabilidade biológica. A azadiractina tem uma atividade inseticida bastante curta de 7 a 10 dias, mas pode se prolongar dependendo da concentração em que foi utilizada e do inseto alvo. Sua DL50 (toxicidade) está entre 3.540 e 5.000 mg/kg e é preciso que o inseto ingira a azadiractina para que ocorra o efeito adverso; não há registro de absorção através da cutícula e, portanto, não tem efeito de contato. Dessa forma, aranhas, por exemplo, não são afetadas por esse inseticida. Aliás, a maioria esmagadora dos estudos de controle de pragas com o óleo de nim, aborda pragas agrícolas e não domésticas. Há um estudo sobre baratas americanas (Periplaneta americana) onde foi demonstrado seu efeito como redutor de desenvolvimento e diminuição dos ovos férteis. Em pulgas retarda o desenvolvimento, tem efeito repelente e provoca a produção de ovos inférteis. Em certas moscas, retarda o desenvolvimento e é tóxico para larvas. Ah, sim, não é fitotóxico (não afeta plantas).
Então, com tal perfil, por que não usamos mais o óleo de nim no controle de pragas aqui no Brasil? Poderia, mas seu custo ainda é alto e não há muitos estudos mais profundos sobre seu efeito prático em insetos domésticos. Algumas empresas desinfestadoras estão adicionando o óleo de nim a seus inseticidas como sinergista, mas ainda de forma um pouco empírica. Outras estão tentando utilizá-lo substituindo inseticidas químicos, em uma abordagem de menor risco ambiental. E há, infelizmente, outras que dizem empregá-lo (embora não o façam) como mero apelo de marketing, Tradução = propaganda enganosa!
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
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Bom dia!
ResponderExcluirSr. cONSTANCIO
Quero registrar aqui que o sr. está de parabéns por este blog qua nos ajuda em muito a tirar nossa duvidas e ficar atualizados.
Muito obrigada por ter respondido minhas duvidas sobre o oleo de neem.
Desculpe por não ter respondido antes.
Gostaria de tirar mais uma duvida sobre a RDC 52 de 22/10/09 inciso V ref. licença ambiental.
Pois na portaria 9 de 16/11/200 não tenmho certeza mais parce qua não tem nada sobre esse assunto.
Já liguei na vigilancia sanitária da minha cidade e eles não sabem, de nada, liguei também na cetesb e ele também nem sabiam disto. achei estranho o senhor mode me orientar quanto a isso ou algum lugar que eu poderia me informar.
Grata Ivone Deus abençôe
Prezada Ivone
ResponderExcluirImaginando que sua dúvida sobre a RDC 52 seja também de outros leitores deste blog, aproveitei e a respondi em um post (vide acima), OK?