Nessa vida de mais de 40 anos controlando pragas urbanas e rurais, fui observador testemunhal, ou muito de perto, de uma porção de “causos” interessantes e que ficaram guardados na memória. Em postagem anterior (veja abaixo) contei um causo do mistério da panela de arroz. Hoje vou contar o “mistério da goiabada”.
Um dia, recebi um chamado de uma grande indústria paulista solicitando uma consultoria urgente em sua fábrica de enlatados, pois havia aparecido um rato dentro de uma lata de goiabada, cheia! Ouvindo o relato inicial, de imediato denominei o assunto de “o mistério da goiabada” e lá fui eu me sentindo um verdadeiro Sherlock Holmes tupiniquim. Resumindo a história, uma senhora havia comprado uma lata de goiabada daquela marca em um Supermercado e, ao abri-la em casa, deparou-se com um camundongo inteirinho mergulhado no doce. É, um Mus musculus de cabo a rabo! Entre horrorizada e irritada, voltou ao supermercado para reclamar e exigir reparações. Naturalmente o estabelecimento comercial negou qualquer responsabilidade ou envolvimento no problema e igualmente posicionou-se como vítima, recomendando que a senhora reclamasse seus direitos junto ao fabricante. Foi o que ela fez em seguida. A indústria recebeu a denúncia com enorme preocupação, pois uma eventual divulgação pela imprensa desse fato causaria um prejuízo de enormes proporções à sua imagem, que seria arranhada, com reflexos imediatos no volume de vendas. Após algumas reuniões com a interessada e seu advogado (naturalmente ela já havia constituído um representante legal), houve acordo entre as partes envolvendo uma certa compensação financeira (não fiquei sabendo quanto, mas deve ter sido bastante) mais o fornecimento de uma linha completa dos produtos dessa Indústria por um ano. Em troca, a senhora entregou a famigerada lata de goiabada temperada com o nefasto camundongo e assinou um termo de confidencialidade. Pois bem, a partir desse momento entro na história. Logicamente a indústria precisava saber como o camundongo terrorista havia se infiltrado na goiabada sem ser convidado, para evitar a repetição do fato. Resumindo, no processo de fabricação do doce enlatado, a goiabada era preparada a quente (muito quente) em caldeirões de mistura e de lá, através de tubulações, a massa era empurrada para bicos que injetavam quantidades predeterminadas em cada lata aberta que passava abaixo em uma esteira rolante, numa determinada velocidade. Mais à frente, na mesma esteira rolante, as latas eram recolhidas por outra máquina que cravava as respectivas tampas e elas seguiam para o empacotamento em caixas de despacho, tudo automatizado. Fui verificar e observei que o bico de injeção tinha um diâmetro por onde nenhum camundongo poderia passar, mesmo empurrado. Verificando a lata em questão, notei que o tal camundongo estava completamente incluído na massa, evidenciando que ele ali entrara quando a massa ainda estava quente e na forma pastosa. Verifiquei também que havia goiabada sob seu corpo, o que demonstrava que ele não estava na lata quando a massa foi depositada. E assim fui tentando eliminar as possibilidades, já que a explicação não era tão aparente. Claro, minha primeira suspeita havia sido de uma infestação por camundongos naquela área da indústria. Pois, por mais que eu procurasse as evidências de infestação murina, não encontrei absolutamente nada. Ademais, a indústria mantinha sob contrato uma empresa controladora de pragas (boa, por sinal), que sustentava um programa permanente de controle, com visitas quinzenais. Excluídas as possibilidades de queda acidental do camundongo dentro da lata, naturalmente a suspeita seguinte era que ele poderia ter sido “plantado” por algum operário. Difícil dizer, pois não havia qualquer evidência que pudesse comprovar essa teoria! Quebrei a cabeça e não conseguia inicialmente encontrar um meio de comprovar ou não essa hipótese. Essa suspeita era importantíssima para a indústria, pois o mesmo operário poderia repetir a façanha, com conseqüências imprevisíveis. Que mistério danado, esse. Felizmente, tive um lampejo: se o estômago do infeliz contivesse alimento (teria, se ele houvesse se alimentado logo antes de finar-se), eu poderia mandar examinar esse conteúdo gástrico para apurar se era de alimentos encontrados na indústria ou não. Em caso positivo, a evidência seria de que o camundongo era residente na indústria. Em caso negativo, obviamente ele teria sido trazido de fora e “plantado” na lata de goiabada. Entrou aí um golpe de sorte, havia conteúdo estomacal! A vida me ensinou que um pouco de sorte ajuda um bocado! O instituto Adolpho Lutz de São Paulo efetuou essa análise e o laudo mostrou que o conteúdo estomacal era de alimentos tais que... não existiam na indústria. Tradução: o camundongo havia sido trazido de fora e introduzido na lata de goiabada de forma criminosa, com intenção específica de prejudicar a indústria. Assim, fechei meu relatório final para o que havia sido contratado. Não havia muitos operários nessa linha de produção, de sorte que a indústria prontamente tinha seus suspeitos. Mais tarde fiquei sabendo que, de fato, um determinado operário julgando-se prejudicado em alguma questão com a indústria ou mesmo uma desavença com seu chefe, planejara o crime trazendo um camundongo apanhado por uma ratoeira em sua casa e do bolso de seu uniforme, havia sido transferido para a tal lata de goiabada.
O mistério da goiabada acabara de ser resolvido. “- Elementar, meu caro Watson!”
Um dia, recebi um chamado de uma grande indústria paulista solicitando uma consultoria urgente em sua fábrica de enlatados, pois havia aparecido um rato dentro de uma lata de goiabada, cheia! Ouvindo o relato inicial, de imediato denominei o assunto de “o mistério da goiabada” e lá fui eu me sentindo um verdadeiro Sherlock Holmes tupiniquim. Resumindo a história, uma senhora havia comprado uma lata de goiabada daquela marca em um Supermercado e, ao abri-la em casa, deparou-se com um camundongo inteirinho mergulhado no doce. É, um Mus musculus de cabo a rabo! Entre horrorizada e irritada, voltou ao supermercado para reclamar e exigir reparações. Naturalmente o estabelecimento comercial negou qualquer responsabilidade ou envolvimento no problema e igualmente posicionou-se como vítima, recomendando que a senhora reclamasse seus direitos junto ao fabricante. Foi o que ela fez em seguida. A indústria recebeu a denúncia com enorme preocupação, pois uma eventual divulgação pela imprensa desse fato causaria um prejuízo de enormes proporções à sua imagem, que seria arranhada, com reflexos imediatos no volume de vendas. Após algumas reuniões com a interessada e seu advogado (naturalmente ela já havia constituído um representante legal), houve acordo entre as partes envolvendo uma certa compensação financeira (não fiquei sabendo quanto, mas deve ter sido bastante) mais o fornecimento de uma linha completa dos produtos dessa Indústria por um ano. Em troca, a senhora entregou a famigerada lata de goiabada temperada com o nefasto camundongo e assinou um termo de confidencialidade. Pois bem, a partir desse momento entro na história. Logicamente a indústria precisava saber como o camundongo terrorista havia se infiltrado na goiabada sem ser convidado, para evitar a repetição do fato. Resumindo, no processo de fabricação do doce enlatado, a goiabada era preparada a quente (muito quente) em caldeirões de mistura e de lá, através de tubulações, a massa era empurrada para bicos que injetavam quantidades predeterminadas em cada lata aberta que passava abaixo em uma esteira rolante, numa determinada velocidade. Mais à frente, na mesma esteira rolante, as latas eram recolhidas por outra máquina que cravava as respectivas tampas e elas seguiam para o empacotamento em caixas de despacho, tudo automatizado. Fui verificar e observei que o bico de injeção tinha um diâmetro por onde nenhum camundongo poderia passar, mesmo empurrado. Verificando a lata em questão, notei que o tal camundongo estava completamente incluído na massa, evidenciando que ele ali entrara quando a massa ainda estava quente e na forma pastosa. Verifiquei também que havia goiabada sob seu corpo, o que demonstrava que ele não estava na lata quando a massa foi depositada. E assim fui tentando eliminar as possibilidades, já que a explicação não era tão aparente. Claro, minha primeira suspeita havia sido de uma infestação por camundongos naquela área da indústria. Pois, por mais que eu procurasse as evidências de infestação murina, não encontrei absolutamente nada. Ademais, a indústria mantinha sob contrato uma empresa controladora de pragas (boa, por sinal), que sustentava um programa permanente de controle, com visitas quinzenais. Excluídas as possibilidades de queda acidental do camundongo dentro da lata, naturalmente a suspeita seguinte era que ele poderia ter sido “plantado” por algum operário. Difícil dizer, pois não havia qualquer evidência que pudesse comprovar essa teoria! Quebrei a cabeça e não conseguia inicialmente encontrar um meio de comprovar ou não essa hipótese. Essa suspeita era importantíssima para a indústria, pois o mesmo operário poderia repetir a façanha, com conseqüências imprevisíveis. Que mistério danado, esse. Felizmente, tive um lampejo: se o estômago do infeliz contivesse alimento (teria, se ele houvesse se alimentado logo antes de finar-se), eu poderia mandar examinar esse conteúdo gástrico para apurar se era de alimentos encontrados na indústria ou não. Em caso positivo, a evidência seria de que o camundongo era residente na indústria. Em caso negativo, obviamente ele teria sido trazido de fora e “plantado” na lata de goiabada. Entrou aí um golpe de sorte, havia conteúdo estomacal! A vida me ensinou que um pouco de sorte ajuda um bocado! O instituto Adolpho Lutz de São Paulo efetuou essa análise e o laudo mostrou que o conteúdo estomacal era de alimentos tais que... não existiam na indústria. Tradução: o camundongo havia sido trazido de fora e introduzido na lata de goiabada de forma criminosa, com intenção específica de prejudicar a indústria. Assim, fechei meu relatório final para o que havia sido contratado. Não havia muitos operários nessa linha de produção, de sorte que a indústria prontamente tinha seus suspeitos. Mais tarde fiquei sabendo que, de fato, um determinado operário julgando-se prejudicado em alguma questão com a indústria ou mesmo uma desavença com seu chefe, planejara o crime trazendo um camundongo apanhado por uma ratoeira em sua casa e do bolso de seu uniforme, havia sido transferido para a tal lata de goiabada.
O mistério da goiabada acabara de ser resolvido. “- Elementar, meu caro Watson!”
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