sexta-feira, 11 de junho de 2010

UM POUCO SOBRE ARANHAS

Tenho sido, com certa freqüência, perguntado sobre o tema aranhas em seus mais diferentes aspectos. Quais os riscos, que espécies são perigosas, como controlar, etc. Então, achei que seria interessante fazermos uma revisão superficial sobre esse tema, dividindo em duas partes, OK?
As estatísticas dizem que 50% das mulheres e 10% dos homens sofrem de aracnofobia (medo de aranhas). Pois é! Pode ser uma resposta instintiva ao risco de ser ferroado, herdado de nossos antepassados. Quem são elas, as aranhas? Já foram cientificamente identificadas mais de 40.000 espécies diferentes de aranhas em todo o mundo. São artrópodes peçonhentos (produzem e têm ferrões injetores de veneno), quatro pares de pernas, os segmentos do corpo (cabeça, tórax e abdome) fundidos em dois: cefalotórax e abdome, geralmente quatro pares de olhos, não possuem antenas e são produtoras de seda (glândulas localizadas no interior do abdome). Os fósseis de aracnídeos mais encontrados e estudados, datam do período Devoniano, ou seja, cerca de 386 milhões de anos atrás! Contudo, existe um exemplar de aracnídeo (Palaeotarbus jerami) que data do periodo Siluriano, com 420 milhões de anos e que já possuía uma forma bastante parecida com a forma das aranhas atuais! Vejam como as aranhas são evoluídas.
Praticamente todas as espécies de aranhas são carnívoras e caçadoras (algumas poucas são herbívoras), se alimentando geralmente de insetos, mas as de maior porte como as caranguejeiras, podem capturar filhotes recém nascidos de roedores e aves; não se alimentam de cadáveres. Na verdade, as aranhas só podem se alimentar de alimentos pastosos ou liquefeitos; algumas injetam na vítima enzimas que predigerem os órgãos internos e depois sugam esse conteúdo; outras rompem o tegumento da vítima e ingerem a hemolinfa (o que seria o sangue do inseto).
De uma maneira geral as aranhas vivem isoladas e só se agrupam nas épocas do acasalamento; em muitas espécies esse é um ato terminal, com a fêmea devorando o macho após o coito! Algumas espécies demonstram comportamento social formando colônias, o que é bastante útil quando se trata da defesa da prole. Algumas espécies tecem teias dos mais diferentes modelos, outras produzem tufos de seda apenas para forrar seu ninho. As fêmeas, segundo sua espécie, pode produzir de 1.000 a 2.000 ovos que geralmente ficam protegidos dentro de uma bolsa de seda até o momento da eclosão, quando saem as primeiras ninfas já dotadas de ferrão e glândulas de veneno.
Determinadas espécies são potencialmente perigosas devido à potência de seu veneno. Apenas alguns venenos de aranhas já foram estudados em detalhes. Esses venenos já estudados mostraram uma estrutura molecular complexa e contêm enzimas (e outras proteínas) que causam, no ser humano ferroado, diferentes sintomas e com diversos graus de severidade. Podemos citar dentre as aranhas mais perigosas em nosso país: a armadeira, a marrom, a viúva negra e as caranguejeiras.
Phoneutria (várias espécies): chamada de aranha armadeira, aranha saltadeira, aranha da bananeira. As armadeiras são de hábitos noturnos e não constroem teias, fazendo seu ninho em pequenas escavações e buracos na terra. Locais mais freqüentados: cantos escuros e isolados, escondidas em galhos secos caídos ao solo, pilhas de taboas de madeira, folhagens, em cachos de bananas, restos de materiais de construção. São bastante sensíveis à variação de temperaturas e, quando isto ocorre, buscam refúgio em ambientes mais quentes como, por exemplo, o interior das casas onde, com freqüência, se escondem dentro de sapatos. Quando ameaçadas, tornam-se agressivas e levantam e esticam verticalmente as patas anteriores preparando-se para dar o bote e ferroar. Os sintomas na pessoa picada se caracterizam por dor intensa no local da picada, náuseas, salivação abundante, suores frios e tremores no corpo todo. É preciso tratar com soroterapia em unidade hospitalar especializada.
Loxoceles (oito espécies no Brasil): conhecida como aranha marrom, com cerca de 5cm de tamanho incluindo as pernas, representa um dos maiores problemas de saúde pública no sul do país. Não é uma aranha agressiva (imagine se fosse!), mas seu veneno é muito potente e tem um efeito necrosante (produz deformações) na musculatura do ponto da picada. Eu vi pessoalmente uma menina que havia sido picada na coxa há algumas semanas por uma aranha marrom; coisa feia! Faltava um grande pedaço que havia necrosado e teve que ser extirpado cirurgicamente. No momento da picada, a dor parece à da queimadura de cigarro, o local começa a inchar e algumas horas depois o tecido em volta começa a necrosar. Pode produzir sintomas gerais como náuseas, febre, mal estar e urina de cor achocolatada. O tratamento exige soro antiloxoceles.
Latrodectus (três espécies no Brasil): chamada de viúva negra, essa pequena aranha (até 1 cm de circunferência), costuma habitar o solo em teias bem simples, principalmente onde haja vegetação rasteira, muito comum no litoral. De corpo escuro quase negro, tem uma característica marca vermelha em forma de ampulheta em seu ventre. Não dá para errar. Seu veneno não é muito potente e provoca sintomas moderados, como sudorese, mal estar, agitação e contrações musculares involuntárias.
Lycosa (várias espécies): são as conhecidas e temidas tarântulas (ou caranguejeiras) que, ao contrário do que se pensa, têm um veneno pouco potente. Figurante indispensável nos filmes de terror, a tarântula pode atingir grandes dimensões chegando a um palmo ou mais de diâmetro incluindo as pernas com muitos pelos. A maior aranha do mundo é uma tarântula que ocorre na região amazônica da Venezuela e do Brasil; é a Theraphosa blondi que chega a pesar 150g e ocupa uma área de 30cm de diâmetro incluindo as patas. É um bicharoco de meter medo. Quem quiser conhecê-la, ao vivo e a cores, basta visitar o Instituto Butantan de São Paulo. Lá tem cada uma! A bicha vive sozinha em buracos que escava na terra, forrados com sua seda. Algumas espécies constroem uma armadilha tipo alçapão capaz de capturar insetos que nela pisem (na armadilha, não na aranha, meu!). Alimentam-se de insetos, mas têm clara preferência por pequenos lagartos, filhotes de roedores e de pássaros. As tarântulas, defendem-se girando a traseira de seu corpo para o inimigo e com as pernas traseiras, executam rápidos movimentos de raspagem do terço final das costas, atirando seus pelos contra o animal ou a pessoa que a ameaça; esse pelos são urticantes e alergênicos. Se não conseguir espantar a ameaça, então prepara-se para defender-se com os ferrões, levantando suas patas dianteiras na vertical e preparando um bote, que é curto, diga-se de passagem. Nesse momento, ela dobra de tamanho! Lá mesmo no Butantan, quando ainda era estudante, fui observar mais de perto uma tarântula das cabeludas, devidamente encerrada dentro de um frasco de vidro grosso, o que me pôs mais à vontade. Essa aranha tinha nada menos que 8 olhos, dois dos quais bem grandes e eu podia jurar que ela também me observava, olhos no olho! Girei meu corpo um pouco à esquerda e ela voltou a cabeça para aquele lado; na dúvida, girei para o outro lado e a danada também girou o corpo, continuando a me encarar de frente. Dei a volta no frasco e ela também me acompanhou dando um giro completo. Quer dizer, tive a sensação que ela estava me avaliando como uma refeição em potencial! Tá bom, confesso, eu estou naqueles 10% dos homens que têm aracnofobia. Isso me fez lembrar uma cena do filme “Aracnofobia” (nome muito sugestivo) que fez um certo sucesso há uns 10 anos atrás. Havia um personagem, um Zé Bombinha americano (lá nos Estados Unidos também tem disso, ora se tem!) que levava duas pistolas em coldres na cinta, ligadas a dois pequenos tanques portados às suas costas e ele saia atirando nas aranhas, possivelmente um ácido porque as aranhas atingidas explodiam! Uma pândega, vale à pena ver buscar esse filme (quem ainda encontrar nas videotecas, um comércio em extinção). Pois é, esse coleguinha quando conhecia alguém, logo disparava a pergunta: “- Rato, cobra ou aranha?” A pessoa não entendia e ele explicava: “- Você tem medo do que?” Não é que o carinha tinha razão! Anos mais tarde, trabalhei com um técnico de laboratório na Seção de Vigilância Sanitária da Prefeitura de São Caetano do Sul; bom cara, competente e trabalhador, oriundo do Instituto Biológico, apelidado de Barba por motivos óbvios. Lá pelas tantas, horrorizado, descobri que ele mantinha escondida numa de suas gavetas, uma enorme tarântula como bichinho de estimação e que ela era alimentada com filhotes de camundongos albinos que eram criados no nosso biotério para serem usados no diagnóstico biológico da Raiva. Aproveitando minha condição de chefe, dei um ultimato: ou ele levava a monstrenga embora ou eu mandaria desinfestar o local. Um dia, ainda me informaram que as tarântulas têm vida longa, mais de 10 ou 15 anos! Quer dizer, a tarântula de estimação do Barba deve estar viva até hoje! Gorda, bem tratada! No Livro Guinness de recordes há o registro de uma tarântula que viveu 49 anos! Tô fora! A verdade é que há muita gente que cria as dóceis tarântulas como bichinho de estimação (já vi à venda em PetShops). Mas, tem cada uma!
De novo isso já ficou longo demais. Continuo outro dia.


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