sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

LA GARANTIA, SOY YO! (Parte I)


Dizia em bom “portunhol” um vendedor com um sorriso safado nos lábios, tentando passar um equipamento eletrônico em algum país vizinho, a um dos milhares de incautos turistas brasileiros que para ali vão exclusivamente para adquirir certos bens a preços notoriamente baixos. Assim era um comercial de TV que fez muito sucesso no Brasil, a uma década atrás. O objetivo do comercial era, com muito sucesso, sugerir claramente o risco que se corre ao adquirir um produto de baixa qualidade de origem duvidosa, só porque tinha um precinho convidativo. Essa inteligente propaganda (pena que não teve continuidade) explorou, com rara felicidade, a questão da garantia, seja para um produto, seja para um serviço. Esse comercial poderia ser aplicado a, literalmente, qualquer ramo de negócio. Somos bombardeados todos os dias por comerciais enganosos que nos cobrem de garantias de todos os tipos e para qualquer gosto. Ainda que a lei de defesa do consumidor tenha tornado séria essa questão, nada é mais desacreditado do que certas garantias. Dia desses, andando pela rua, esperava um semáforo dar passagem e, enquanto isso, me chamou a atenção um panfleto colado em um poste na altura de meus olhos. Dizia mais ou menos: “Pai Olaiê de Babaluê (sei lá o nome certo do pai de santo). Conquiste a quem você quer, amarração do amor, serviço garantido em duas semanas ou seu dinheiro devolvido”. - Caramba, pensei! Isso sim é que é garantia! Se eu não a conquistar em 14 dias, o Pai Babaluê devolve minha grana! - Mesmo sem precisão, fiquei com vontade de ir lá, só para ver se era verdade.
Mas, por que desconfiamos das garantias? Por que não sentimos firmeza? Muito provavelmente porque cada um de nós já passou por alguma experiência desagradável de precisar valer os direitos da garantia e...
Não pense que isso só acontece em outros ramos de negócios e não no ramo do controle de pragas. Ao contrário, ocorre e com grande freqüência começando por certos fabricantes de produtos e terminando em certas empresas controladoras. Existem bons e maus profissionais, aliás, em qualquer ramo de atividade humana. Com maior freqüência do que se poderia pensar, as relações com nossos clientes passam cada vez mais pela questão garantia. Estes se tornam progressivamente mais conscientes de seus direitos e ao contratar os serviços de uma empresa controladora de pragas, entre os itens fundamentais está a garantia dos serviços
SATISFAÇÃO GARANTIDA“- Não se preocupe, garantimos todos os nossos serviços”. Boa frase de efeito, mas o problema é que muitos dos concorrentes no mercado do controle de pragas usam essa mesma frase e, o que é pior, alguns deles usam somente a frase, nada de garantia real. Todo mundo escuta “Satisfação garantida”. É possível até que alguns de nossos leitores já tenham em algum momento pinçado uma frase dessas e a tenha empregado em algum folder ou folheto da empresa. Só há um problema: dar essa “garantia” faz com que sua empresa fique igualzinha a outras tantas empresas do mesmo ramo. Isso provavelmente levará o cliente a pensar que todas as empresas controladoras são mais ou menos a mesma coisa e, portanto, pode contratar qualquer uma que não vai fazer diferença mesmo. Vamos aclarar as coisas: se você quiser se destacar da concorrência nesse item, vai ter que dar uma garantia bem mais forte e sólida que eles. Há algum tempo atrás, boa parte dos profissionais controladores de pragas achava que dar uma garantia diferenciada era dar um prazo maior para a validade de seus serviços; era comum encontrarmos “garantias” de seis meses, até um ano! Um absurdo, se lembrarmos que os inseticidas de uso permitido dentro das edificações, mesmo os de efeito residual prolongado, não persistem no ambiente muito mais que oito a 12 semanas e, assim mesmo, em condições extremamente favoráveis, o que não acontece na maioria das vezes. Durante muito tempo, imaginava-se que competir era simplesmente esticar os prazos de garantia dos serviços. O foco da tal “garantia” estava inteiro no tempo de validade dos serviços e dentro desse prazo, se necessário, se necessário mesmo, a empresa voltava para executar um "repasse". Felizmente esse tempo já acabou e as empresas sérias e responsáveis não embarcam nessa canoa furada. Na verdade, essa conduta suicida foi uma das maiores responsáveis pelo descrédito que o ramo do controle urbano de pragas experimentou nestes últimos, digamos, 30 anos, até que o quadro começasse a ser revertido e a verdade e o conhecimento técnico finalmente prevalecessem.
Contudo, o que significa a tal “Satisfação Garantida” tão usada comercialmente? Será que ao dizer isso ao seu cliente você não estaria dizendo que ao invés dele ficar “encantado” com o serviço que você prestou, vai ficar apenas “satisfeito”? Será que esse cliente não estaria desejando ficar agradavelmente surpreso com sua presteza, sua capacidade de resolver o problema dele? Será que o cliente não estaria, na verdade, querendo ficar orgulhoso dele mesmo por ter feito a escolha certa ao lhe contratar? De ter gasto muito bem seu “rico dinheirinho”? De não ter feito (novamente) o papel de otário? No entanto, há quem ainda fique dizendo por aí: Satisfação Garantida. E se seu cliente não ficar realmente satisfeito, o que vai ser? Você volta e trata novamente a casa inteira sem qualquer custo adicional? O prédio de escritórios? A indústria ou o armazém? Ou vai “pular fofo” simplesmente alegando que ele (o cliente) fez alguma coisa que comprometeu o tratamento?
Em biologia, sabemos, não existem as palavras “sempre e nunca”. Existe o conceito de maiores probabilidades. Um controlador de pragas, em última análise, lida com seres vivos e não com porcas e parafusos. Seres vivos são capazes de criar e exibir respostas individuais e mesmo coletivas a determinadas pressões e condições , frequentemente nos surpreendendo. A dita “garantia” então, dada por uma empresa controladora de pragas menos atenta, não deveria nunca se referir ao prazo de tempo “livre de pragas” criado pela imaginação fértil de seus técnicos. A garantia a ser dada é a certeza que o cliente deve receber de que haverá monitoramento posterior dos resultados, de que será prontamente atendido caso o problema retorne dentro de um espaço de tempo adequado, de que receberá orientações de manejo ambiental para evitar o problema e coisas desse tipo. Nunca “garantia de seis meses, garantia de um ano, garantia de três meses, garantia de cinco anos, etc, etc”.
Se você pretende se destacar sua empresa nesse concorrido mercado do controle de pragas dando uma garantia para valer, então você precisa dizer claramente ao seu cliente o que fará se ele não ficar inteira e completamente satisfeito
Pense nisso (enquanto eu preparo a segunda parte desse fascinante tema).
Obs: este resumido post, fez parte de uma palestra sobre “Garantia” que dei recentemente em uma reunião de empresas controladoras. Tivemos muitos, muitos debates mesmo!

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