sábado, 20 de março de 2010

O MISTÉRIO DO FRANGORRATO

Minhas andanças como profissional controlador de pragas nestes últimos 40 anos, me levaram para as mais diferentes regiões do país e sempre tive novas oportunidades de me deparar com problemas verdadeiramente intrigantes e desafiadores. Toda a base teórica do conhecimento desse ramo de especialidade, muito valeu para a busca de solução de cada caso e raramente uma situação ficou sem explicação. Vou lhes contar um “causo” sem final feliz, onde a verdade nunca apareceu. Chamei esse “causo” de - O Mistério do Frangorrato. Vamos lá!
Fui chamado até uma cidade de Sta.Catarina para tentar resolver um incidente no mínimo intrigante. Uma dona de casa foi ao supermercado onde habitualmente se abastecia e adquiriu um frango inteiro frigorificado. O frango congelado adquirido estava devidamente lacrado em sua embalagem original e assim foi levado para a casa dessa senhora que havia planejado um solerte frango com farofa para o almoço dominical da família. Aliás, ela, na verdade, havia comprado dois frangos da mesma marca, ambos de porte avantajado, já que a irmã, o cunhado e dois sobrinhos também estariam presentes no ágape dominical. No dia previsto, a senhora mentalizou o que faria com os frangões (não consegui saber qual a receita que seria usada) e logo cedo os retirou para descongelar. Algumas horas depois, carcaças já descongeladas, essa senhora rompeu a embalagem de um dos frangos, removeu cabeça, pés, fígado e moela que muitos frigoríficos produtores inserem dentro da carcaça, e lavou as peças deixando-as reservadas. Pegou o segundo frangão e já ia proceder da mesma forma quando notou um apêndice estranho apontando do interior da carcaça. Era algo um pouco comprido, cilíndrico, da grossura de um dedo mindinho e com certos anéis em sucessão. Já meio horrorizada, ela aproximou a vista e notou que esse apêndice tinha alguns pelos hirsutos como se fosse uma cauda de algum animal desprovido de penas. Lembrem-se, o filme plástico transparente da embalagem original não havia ainda sido rompido. Parecia uma cauda... e era! Ela, com um grito de espanto e horror, identificou uma cauda de rato! Como? Uma cauda de rato? Que espécie de frango seria aquela que teria uma cauda parecida com a de um rato? Confusão na cozinha, ela chama a empregada e o marido como testemunhas. Pânico geral, por via das dúvidas o frangão retorna rapidamente à geladeira até segunda ordem e a família sai para comer pizza no almoço. Obviamente na segunda feira essa senhora e seu indignado marido iriam ao supermercado para exigir satisfações, levando o frangorrato embaixo do braço. O gerente examinou o réu com muito cuidado e sentenciou que, se a embalagem original estava intacta, como de fato estava, o supermercado não poderia ter culpa no cartório e assim a queixa deveria ser levada ao frigorífico que produziu o frangorrato. Mais ainda, o gerente afirmou que o estabelecimento sentia-se igualmente lesado e que iria pedir ao departamento jurídico um acompanhamento pessoal ao assunto. Dois dias depois desaba no frigorífico que, por sinal, localizava-se na mesma cidade da queixosa, uma verdadeira comissão de injuriados constituída pela vítima principal, seu solerte marido, seu advogado adrede nomeado, o cunhado que queria porque queria servir de testemunha ocular (ou talvez antecipando uma parcela do butim), o Gerente Geral do Supermercado e seu advogado e, obviamente, o frangorrato meio congelado. Recebidos formalmente pelo Gerente de controle de qualidade e dois de seus assistentes, devido à gravidade da situação, e foi realizada uma solene reunião de discussão do assunto. De um lado, o Frigorífico achando, a uma primeira análise, que era "armação" e que a Dona Maria estava querendo dar um golpe; de outro, as vítimas já achando que tinham tirado a sorte grande, e para completar a turma do supermercado querendo ficar de fora nesse "embroglio"! Conversa vai, conversa vem ficou claro diante da prova corporal que o caso do frangorrato era digno de crédito e merecia maiores cuidados. Foi feito um acordo inicial entre as partes, pelo qual o corpo de delito deveria ser submetido a provas e testes laboratoriais e periciais, envolvendo muma polpuda soma em dinheiro que passou rapidamente às mãos da queixosa, de seu marido e, por que não dizer, do cunhado. Sim, o advogado dela também levou uma fatia. Pois bem, agora o frigorífico conseguiu recuperar o frangorrato incriminador e foi à luta. Como e por que esse rato abelhudo havia se introduzido na carcaça do frango?
E foi aí que eu entrei na história, mas que deixarei para contar numa próxima postagem. Não percam!

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