terça-feira, 8 de março de 2011

AEDES AEGYPTI TRANSGÊNICO: ALGO NOVO EM SAÚDE PÚBLICA NO COMBATE À DENGUE NO BRASIL


Mais uma vez, o amigo e leitor deste blog Carlos Madeira, biólogo do Centro de Controle de Zoonoses de São Paulo nos dá um toque sobre o início dos estudos a campo do emprego de Aedes aegypti transgênicos para controlar populações desse mosquito, responsável pela transmissão da dengue em nosso país.
Conceito bastante divulgado e muito difundido pela mídia falada, escrita e televisada, a transgênese vem sendo amplamente estudada desde 1970 quando foi desenvolvida a técnica do DNA recombinante. Em resumo, a transgênese estuda organismos que, mediante técnicas de engenharia genética, recebem materiais genéticos de outros organismos, imprimindo nos primeiros, características novas ou melhoradas. Essa manipulação genética altamente sofisticada recombina características que provavelmente não ocorreriam na Natureza. Esse conceito é revolucionário na agricultura, pois cria certos produtos com características anteriormente impensáveis. Por exemplo: abóboras e melancias gigantes, vegetais com tempo de vida substancialmente prolongados, plantas resistentes ao ataque de certos parasitas ou mesmo doenças, etc. No mundo animal, o melhor exemplo data de 1970 mesmo, quando cientistas conseguiram produzir uma cepa da bactéria Escherichia coli transgência, a qual passou a produzir a insulina humana. Não é fantástico? Em 2007, na África transsaariana, pesquisadores conseguiram produzir mosquitos bobucha, uma variedade transgênica completamente imune ao parasita da malária, deixando de ser o transmissor dessa doença. A transgênese é, sem dúvida, uma nova porta aberta para o futuro. Tudo o que é novo desperta interesse de uns e desconfiança de outros; alguns reveses, efeitos colaterais indesejáveis e perguntas não respondidas surgem como obstáculos no caminho da aceitação universal dessa nova abordagem. Discute-se muito, baseado até em conceitos religiosos, se seria ético ou moralmente aceitável a criação artificial de um novo ser. Contudo, por ser um capítulo novo na ciência, ainda há que se fazer muitos estudos e avançar um bocado no conhecimento, até que possamos confiar plenamente na transgênese.
Pois bem, em Juazeiro na Bahia, há um grupo de pesquisadores de uma organização privada (Moscamed) que, com o apoio oficial da Universidade de São Paulo, do governo baiano e do Ministério da Saúde, está trabalhando com o Aedes aegypti, o mosquito transmissor da dengue, para modificá-lo por transgênese produzindo uma cepa que transferiria um gene mortal à sua prole, criando-se assim mais um método de controle desses mosquitos e, por consequência, na transmissão daquela zoonose. Falando assim, parece formidável e o assunto estaria resolvido. Claro que não é bem assim, pois são necessários muitos estudos laboratoriais e a campo para que se verifique a viabilidade do método, como também seu custo/benefício. A boa notícia é que desde 21 de fevereiro último, eles começaram a liberar os Aedes transgênicos no ambiente e vão monitorar os resultados.
O método consiste na utilização de mosquitos machos de uma linhagem transgênica do Aedes aegypti (mosquitos RIDL OX513A geneticamente modificados) para combater a própria população dessa espécie. Cientistas ingleses introduziram um gene (unidades de características hereditárias) nesse mosquito, gene esse que é responsável pela produção de uma proteína. Em altas doses, essa proteína impossibilita o desenvolvimento da prole (filhos) desses mosquitos, ou seja, eles não serão capazes de chegar à fase adulta. Com isso, não havendo a formação de adultos, a população de Aedes no local tratado iria progressivamente decrescendo até sua extinção e, em consequência, a doença tenderia ali a desaparecer. Os testes em campo compreendem três etapas distintas e sucessivas: estudos ambientais da região teste (estimativas populacionais dos mosquitos selvagens, conhecer criadouros e demais espécies que ali vivem); a segunda etapa é conhecer as condições naturais (nível de dispersão dos transgênicos, sua capacidade de competir pela fecundação das fêmeas) e a terceira etapa seria a de supressão quando os machos transgênicos seriam liberados e os resultados monitorados.
Portanto, aguardemos. Quem sabe boas notícias virão!

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