quarta-feira, 2 de março de 2011

SIT – UMA INTERESSANTE ABORDAGEM DE CONTROLE BIOLÓGICO DE INSETOS



O biólogo Carlos Madeira, um amigo do Centro de Controle de Zoonoses de São Paulo, chama nossa atenção para um interessante estudo que está ocorrendo na UNESP de Botucatu/SP, sobre o controle biológico do Aedes aegypti (mosquito transmissor da dengue) através do chamado SIT – Sterile Insect Technique – uma abordagem que utiliza machos estéreis como fator de controle populacional. Resolvemos postar uma rápida revisão desse conceito para informação de nossos leitores.
A SIT não é propriamente uma coisa nova, pois foi concebida em 1950 por dois pesquisadores norte americanos Dr. Raymond C. Buschland e Dr. Edward F Knipling (esse aí da foto) que foram agraciados em conjunto com o prêmio World Food Prize de 1990 por suas descobertas. Para que nossos leitores se situem, lembramos que o controle de insetos tem, atualmente, três vertentes importantes: o controle químico (predominante atualmente) onde os insetos são eliminados através de compostos químicos sintéticos (inseticidas, larvicidas, formicidas, mosquicidas, pulicidas e outros mais, conforme a espécie a ser combatida); o controle bioquímico (ainda despontando e com futuro promissor) onde se emprega hormônios sintéticos que alteram o equilíbrio hormonal dos insetos em diferentes fases de seu desenvolvimento e o controle biológico, onde se utiliza um ser vivo para controlar outro ser vivo, bem exemplificado pelas toxinas de alguns bacilos que são mortais para algumas espécies de mosquitos.
A técnica SIT mostra inegáveis vantagens sobre o controle químico que é inespecífico e afeta indistintamente a maioria das espécies de insetos presentes em um dado meio ambiente onde foi aplicado. A técnica SIT pressupõe o uso de certos isótopos radioativos capazes de provocar a esterilidade em machos adultos de determinados insetos. Esses machos estéreis são então soltos na Natureza e ali vão competir com os machos selvagens na busca das fêmeas para fecundá-las, o que não ocorre, dado que esses machos irradiados foram incapacitados para a fecundação. A cópula ocorre, mas os óvulos não se transformam em ovos. Considerando que a fêmea só copula uma única vez, se essa cópula se der com um desses machos estéreis, ela não gerará descendentes. A médio e longo prazo a tendência dessa população será de progressivamente decrescer até se extinguir. Esse é o conceito da SIT.
Como isso tudo deve ocorrer na Natureza e com tantas variáveis, nem sempre essa técnica mostra-se eficaz a ponto de poder ser adotada indistintamente. A viabilidade do controle via SIT depende de diversos fatores, a saber: proporção de mosquitos estéreis liberados e a população nativa de machos selvagens, o período de tempo durante o qual os mosquitos inférteis são liberados; a competitividade dos mosquitos machos irradiados versus os mosquitos selvagens e outros fatores ambientais.
Entre as dificuldades e obstáculos que podem ser encontrados na adoção dessa técnica, pode-se ainda citar:
• Assim como na técnica do controle químico, às vezes, é necessário tratamentos repetidos para baixar a população do inseto alvo antes de se dar início à técnica SIT com emprego dos machos estéreis.
• A sexagem dos indivíduos capturados, nem sempre é fácil e rápida; a sexagem em laboratório é necessária para separar os machos, os quais serão esterilizados.
• O tratamento de irradiação pode, em certos casos, afetar a saúde do macho submetido ao processo, o qual pode não conseguir competir com machos selvagens na busca das fêmeas. Todavia, novos métodos de irradiação que não afetem a integridade dos machos tratados, estão sendo pesquisados por diversos grupos de cientistas em todo o mundo.
• A técnica SIT é específica por espécie do gênero considerado.
• Os procedimentos padronizados para uma irradiação em massa, não pode dar lugar a erros. Desde os anos 50, quando a SIT foi inicialmente empregada para controle de insetos, diversos erros foram cometidos em diferentes pontos do globo, onde machos tratados inadequadamente não se tornavam estéreis e eram soltos, provocando o fracasso dos programas de controle.
• A técnica tem que ser aplicada em grandes áreas, pois podem ocorrer migrações de machos selvagens a partir de áreas externas e as áreas tratadas serão repovoadas.
• O maior entrave ainda é o custo da produção de números expressivos de machos estéreis, um problema inegável para países do terceiro mundo.
• No caso do Aedes, como reconhecem os pesquisadores da UNESP, a distribuição heterogênea dos criadouros e certas características comportamentais do inseto, dificultam ainda mais a aplicação da SIT como método de eleição.
Portanto, a técnica SIT apesar de ser muito promissora, como aconteceu nos Estados Unidos no controle da mosca das miíases (bicheira), a Cochlyomia omnivorax, e também em Zanzibar no controle da mosca tsé-tsé, transmissora da wuchereriose (elefantíase) – Wuchereria bancrofti - ainda carece de estudos mais profundos e amplos até que possa ser uma alternativa prática para o profissional de controle de pragas e da Saúde Pública.
Abordagens biotecnológicas baseadas em artrópodes transgênicos continuam em franco desenvolvimento. A liberação desses organismos na Natureza não está completamente formalizada e regulada (normas oficiais), mesmo no Brasil. Há a necessidade de regras e limites estreitos para tanto, já que os impactos ambientais podem ser desastrosos. Os benefícios econômicos do SIT já foram demonstrados em vários casos no exterior: nos Estados Unidos, a miíase tem sido debelada através de um programa SIT, no México algumas moscas de frutas foram controladas da mesma forma, bem como no Chile, com custo/benefício bem interessante.
Quem viver... verá!

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