quarta-feira, 30 de março de 2011

SOBRE OS TANQUES DE DESATIVAÇÃO DE INSETICIDAS


Quando se fala de meio ambiente, a atividade de controle de pragas é um exercício profissional que está constantemente em foco, uma vez que se trata de um trabalho executado mediante o emprego de substâncias químicas aplicadas sobre o ambiente. Não é somente isso, sabemos, mas o uso de inseticidas assusta as pessoas, cada vez mais preocupados com sua integridade física pessoal e de seus familiares e com a preservação do meio ambiente. Vivemos em uma sociedade cada vez mais quimiofóbica (medo de substâncias químicas), ainda que sejamos, até hoje, extremamente dependentes de compostos químicos de toda sorte.
O profissional controlador de pragas é legal e inteiramente responsável pelo ato do emprego de biocidas, razão pela qual tem a obrigação e o dever de saber (e muito) o que está fazendo, conhecer (mais que as pessoas comuns) dados sobre os instrumentos que usa (equipamentos e produtos químicos), conhecer e seguir rigorosamente as instruções contidas nos rótulos e esclarecer aos usuários de seus serviços, todos os aspectos de segurança ligados ao trabalho que está executando.
Essa preocupação deve se estender ao meio ambiente. Nesse particular, há uma grande quantidade de itens e temas que poderiam ser discutidos, mas, neste post, vamos comentar sobre o que deve ser feito com relação aos restos e resíduos de inseticidas que restou nos equipamentos utilizados. Vamos falar dos tanques de desativação. Tudo o que teve contato com os inseticidas utilizados deve ser lavado ao final da jornada. E esta água resultante da lavagem, ralo abaixo direto para a rede pública de esgoto? Nem pensar! Isso só causaria aumento da carga poluidora dos esgotos que, de um jeito ou outro, vai sempre acabar no mar! É aí que entra o sistema de tanques de desativação, uma interessante alternativa para diminuir substancialmente a carga de inseticidas que temos que nos desfazer diariamente. Propusemos essa alternativa pela primeira vez em 1989 quando publicamos um manual sobre o controle de insetos urbanos, promovido por uma indústria produtora de insumos para a qual trabalhávamos na época.
Por esse sistema, qualquer água de lavagem dos equipamentos, embalagens e/ou utensílios que estiveram em contato com inseticidas, será recolhida em um primeiro tanque aberto colocado em plano acima de um segundo tanque idêntico. Observe o desenho acima para melhor compreender a proposta. O tanque aberto recebe diretamente de um tanque de lavar destinado exclusivamente à essa função ou ali despejado de equipamentos ou utensílios, os restos dos inseticidas empregados no trabalho. Sendo um tanque aberto, essa água de lavagem ficará diretamente exposta aos raios solares e os inseticidas presentes sofrerão progressiva desativação por “fotólise” (rompimento das moléculas por ação da luz) e por “hidrólise” (quebra das moléculas pela ação da água). Aceleramos essa decomposição adicionando a esse primeiro tanque um pouco de soda cáustica que vai alcalinizar o conteúdo, rompendo as moléculas por álcalineutralização (inseticidas permanecem íntegros somente em meio ácido). Em outras palavras, os restos dos inseticidas presentes nesse primeiro tanque sofrerão a ação dos três processos de destruição. Essa calda residual deve permanecer nesse primeiro tanque por no mínimo sete dias (quanto mais tempo, melhor). Passado esse lapso de tempo, a calda será passada para o segundo tanque por gravidade, já que este se encontra baixo do nível do primeiro. Ali deve permanecer por outro período mínimo de sete dias, onde a desativação vai continuar. Decorridos esse tempo, o conteúdo desse segundo tanque poderá ser descartado na rede de esgoto pois, muito provavelmente, já não há mais nenhuma carga inseticida ativa presente.
Quais as dimensões que devem ter esses tanques? Depende do volume da calda poluidora a ser desativada. Há empresas que duas pequenas caixas d´água já resolvem a questão e há empresas que vão precisar de recipientes bem maiores.
Alguns comentários finais sobre esse sistema de desativação:
• Para efetiva comprovação desse método, seria necessário que praticássemos sucessivas análises laboratoriais para a verificação dos níveis de inseticidas ainda íntegros na calda. Essas análises são bastante custosas e provavelmente deveriam ser praticadas diariamente até a liberação final da calda na rede de esgoto. Como eu não pertencia a nenhum laboratório capacitado a executar tal análise ou instituição científica de pesquisas e, como eu não tive suporte financeiro para arcar com os custos, não consegui comprovar cientificamente a eficácia do sistema. Foi pena! Quem sabe alguém o faça.
• Contudo, algumas empresas controladoras de pragas em busca de solução para o problema, instalaram o sistema. Alguns serviços públicos também o fizeram.
Afinal, é apenas uma proposta bastante razoável.

3 comentários:

  1. Muito legal sua proposta Constâncio.

    Aí esta um ótimo tema para ser estudado. São idéias assim que merecem uma dissertação de mestrado ou estudo aprofundado no caso.

    Abraço

    Marcelo Marques

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  2. Pois é, tambèm acho. Quem sabe algum pesquisador de instituição pública ou professor ou mesmo doutorando com amparo financeiro queira estudar mais a fundo esse tema!

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  3. Constâncio... muito bom comentário sobre o tanque de desativação... instalamos o tanque na empresa em que trabalho e, saiba que tenho muita vontade de tocar algum trabalho nesse aspecto. Não sou pesquisador de carreira mas, tenho acesso á alguns do I. biológico e quem sabe, né? Qualquer novidade te aviso...
    Mudando de alhos para bugalhos seria possível você postar algo sobre traças?
    Abraço!
    Flavio Souza

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