quinta-feira, 16 de setembro de 2010

CARACOL GIGANTE AFRICANO: ACABOU VIRANDO PRAGA


Há bastante tempo o homem consome nos melhores restaurantes franceses, com indisfarçável prazer, os famosos escargots, um caracol (Helix spp) delicioso. Eu, particularmente gosto quando preparado à Provençal. Comer caramujo é tipo “Ame-o ou deixe-o”, ou você gosta ou você detesta! Receitas à parte, por volta de 1988 em Curitiba/PR durante uma feira de agronegócios, um helicicultor (a palavra certa para designar o criador de caracóis), apresentou o produto que vinha cultivando para fins comerciais a partir de alguns exemplares contrabandeados da Europa, um grande caracol, bem maior que o escargot, de fácil manejo e excelente custo benefício: o Achatina fulica (pronuncia-se acatina fúlica), conhecido como caramujo africano gigante. A intenção daquele criador era o de vender matrizes para pequenos sitiantes como alternativa de renda, buscando fornecer a restaurantes e também de trazer ao nosso país uma nova fonte produtora de proteína animal muito barata. Essa perspectiva econômica que incluía até a exportação para outros países, aliada à intensa cobertura da mídia na época, fez do caracol africano um sucesso comercial. O achatina não era propriamente desconhecido neste lado do mundo, pois já na década de 40 havia sido trazido para os Estados Unidos (via Havaí) e sua criação em escala comercial já era adiantada. Esse caracol, originário da África (Tanzânia e Quênia) espalhou-se rapidamente pelo mundo, dando-se muito bem especialmente em países tropicais e semitropicais como o nosso. No Brasil, sua ocorrência já foi constatada em 23 Estados. Lá pelas tantas, surgiu a notícia (embora nunca comprovada cientificamente) de que o achatina poderia teoricamente ser também um transmissor de vermes metastrongilídeos ao homem e vários outros mamíferos, já que outras espécies de caracóis assim o faziam. Na verdade, tratou-se de apenas um caso clínico não confirmado. Nada ficou provado até hoje (segundo o Med.Vet. Maurício Aquino, ex Presidente da Associação de Criadores de Escargot do Rio de Janeiro em seu site), mas rapidamente o achatina tornou-se o bandido da vez! Passou a ser, equivocadamente, o principal responsável da temida zoonose denominada meningoencefalite eosinofílica. Então, o achatina passou a representar um “risco potencial” embora trabalhos científicos demonstrem que esse caracol tem baixa susceptibilidade ao Angiostrongylus costaricensis e o A.cantonensis, os principais vermes causadores daquela meningoencefalite.
OK! E daí? Daí que o Ministério da Saúde interveio e o Ibama o declarou proibida a sua criação e comercialização (Instrução Normativa 73 de 18/082005). De repente, criar o caramujo gigante africano tornou-se uma atividade ilegal. Certo ou errado, não é o caso de estar discutindo isso aqui e agora; o que interessa é o que aconteceu então. De repente, centenas e centenas de helicicultores que criavam o achatina para fins comerciais, tiveram que se desfazer de suas criações e sabem o que eles fizeram? Simplesmente liberaram seus caramujos na natureza, desejando-lhes boa sorte. Mal sabiam eles o que estavam fazendo. Cá entre nós, estavam liberando uma espécie exótica (não pertencente à nossa fauna) em ambientes onde não havia (como não há) inimigos naturais. Deu no que deu: a iguaria tornou-se uma praga! Já foram identificados mais de 500 vegetais que o achatina forrageia com apetite, inclusive farelos de cereais. Quer dizer, um animal resistente que vive cinco ou seis anos, muito prolífero, dotado de grande apetite, adaptado aos trópicos e sem inimigos naturais, pulou do prato para o purgatório onde vivem todos os animais que a espécie humana considera pragas. A lavoura passou a ser atacada, as cidades invadidas e os problemas crescentes. As tentativas de colhê-los manualmente como forma de controle deram em nada; sua capacidade de reprodução superou esse método. Enterrá-los e cobrir com sal, infrutífero. Introduzir em nosso país algum outro caracol inimigo biológico (Euglandina rosea) já foi tentado, mas o mal que esse predador causava destruindo outras espécies não alvos, levou ao rápido abandono dessa alternativa. Uma residência invadida por esses caracóis é apenas um dos problemas que causam. Solução: chamar uma empresa controladora de pragas. Sim, e daí? O que pode fazer um profissional contra os caramujos gigantes africanos?
Primeiro passo: identificar com certeza de que se trata do Achatina fulica e não alguma outra espécie autóctono de caramujo. Há algumas parecidas, mas nunca tão grandes.
Segundo passo: identificar todos os pontos onde haja concentração desses caramujos na área-alvo. Busque pontos de alta umidade.
Terceiro passo: coletar manualmente todos os caramujos existentes na área e dar destino final. Enterre-os em buraco ou vala misturando-os com cal virgem (sal não adianta, eles escapam) ou incinere-os em lata grande. No entanto, se fosse eu, eles iriam diretamente para minha panela, temperados com finas ervas e muito alho. Sim, antes, eu os manteria por uma semana em uma caixa com tampa perfurada, alimentando-se exclusivamente de certos temperos como salsinha ou cebolinha (essa dieta forçada faz com que sua carne adquira o gosto do tempero que lhes foi fornecido). Ficam deliciosos!
Passo alternativo: fazer uso de um produto comercial (registrado na Anvisa) no combate aos caramujos africanos gigantes. À base de um metaldeído (grupo: tetrocano), é um granulado que age dessecando o pé do caracol que assim fica desidratado (para de produzir o muco sobre o qual desliza para se locomover) e é eliminado. Portanto, o caramujo não ingere o produto, apenas sofre desidratação. Tanto quanto eu saiba, é o único saneante registrado contra o Achatina fulica. Nunca tive a oportunidade de utilizar esse produto (acho que se chama Metarex fabricado pela De Sangosse), de forma que não posso dar opinião sobre sua eficiência e eficácia.
Se eu não tenho medo de comer o achatina? Não, não tenho medo algum! Para mim, muita fumaça e pouco fogo! Mas, é só minha opinião pessoal. Cada qual deve formar a sua.

Um comentário:

  1. muito bem CONSTANCIO... então... agora já somos dois apreciadores. :-)
    quando puder visite nosso blog... www.CaracolAfricano.com
    e conheça no Face o caramujo africano.

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