Há tempos que estou querendo desfazer um erro muito comum: confundir a mosca dos banheiros (ou dos ralos) com a mosca das latrinas (Fannia scapularis ou F.scalaris). Estamos falando da Clogmia albipunctata, uma mosca verdadeira (díptero) de pequenas dimensões, cor escura quase negra, mas se olharmos mais de perto, vamos enxergar pequenos pontos brancos nas asas, de permeio com um aparente pelame. De forma triangular, ela lembra uma pequena mariposa porque suas asas em repouso são bem abertas. Frequentam as paredes dos banheiros e por isso são também conhecidas como mosca dos ralos e têm hábitos noturnos. Não fazem nenhum mal exceto o incômodo visual e provêm dos ralos; na verdade originam-se nos esgotos e nas caixas de gordura mesmo onde o teor de oxigênio seja baixo, onde colocam seus ovos na borra sobrenadante e aderida às paredes. Eventualmente, podem subir pelos canos dos esgotos e, encontrando um ralo seco, penetram nos banheiros. Do que vivem? Alimentam-se de fungos e liquens muito comuns nas úmidas paredes dos banheiros e lavabos, sejam públicos ou privados. Não são tão rápidas no vôo como suas primas maiores, a mosca doméstica. É complicado eliminá-las porque a maioria dos profissionais limita-se a aplicar seus biocidas diretamente nas paredes dos banheiros, esquecendo-se que esses locais normalmente são muito úmidos e quentes, especialmente se ali for o local de banhos e duchas. Toda essa umidade vai rapidamente atacar os inseticidas aplicados hidrolisando-os e tornando-os ineficazes. Para resolver o problema, é preciso localizar e tratar a fonte do problema, a caixa de gordura, a fossa séptica ou outro ponto onde haja gordura (proveniente de fezes ou restos alimentares) acumulada de alguma forma e aderida às paredes. E não basta somente aplicar inseticidas nessa borra endurecida porque as moscas dos banheiros introduzem seus ovos no interior da gordura, de forma que as larvas ficarão protegidas de algum inseticida que tenha sido aplicado na superfície. Minha recomendação é que essa borra gordurosa seja eliminada da caixa por sucção (limpa fossas). Só isso já vai atacar diretamente a causa. Cessará a conseqüência!
Acredite! Vi esse problema em muitos hotéis e assim resolvi. Bom trabalho!
Constâncio, gostaria de parabenizá-lo pelo texto.
ResponderExcluirÉ bastante esclarecedor e enriquecedor.
Admiro e aprecio muito seus textos há tempos e este foi mais um exemplo da sua elevada capacidade de sintetizar dizendo tudo.
Um abraço.
Amigo Bruno
ResponderExcluirObrigado pelo comentário elogioso. Na verdade, quando criei este blog, minha intenção primeira era a de postar (olha só o galicismo!)textos técnicos sumários de fácil leitura. Se estou conseguindo, já me dou por satisfeito. Grato pelo seu "feed back" (aqui já não é galicismo, pois coloquei o termo entre aspas).
Constancio
PS: se vc quiser, sugira um tema que vc acha interessante ou duvidoso, e podemos discuti-lo no blog. Para isso ele existe.
Amigo Constâncio,
ResponderExcluirCom a famigerada "correria" do dia a dia, me ausentei e acabei esquecendo no pouco tempo livre, de visitar este brilhante blog.
Aproveito para agradecer a enriquecer meu vocabulário, pois desconhecia o tal "galicismo" que, para quem por ventura possa estar lendo agora, trata-se de um vício de linguagem em que se usa uma palavra ou frase derivada diretamente do francês.
Falando em palavras menos usuais, me lembrei de uma palavra que acredito que talvez 2 ou 3% dos PCO´s [chute!] devam conhecer e que seria importante para compor eu vocabulário e, também acredito que seria um tema interessante a ser exposto por você, Constância, uma vez que é muito pouco discutido. Trata-se da palavra "Tanatose".
Em uma busca há pouco tempo li que era um caso bastante comum sobretudo nas aranhas (no que diz respeito {às pragas urbanas); porém recentemente encontramos um escorpião que estava se movimentando próximo à madeiras e após ser cutucado com uma vassoura, parou de se mover. O arrastamos com a vassoura e nada de movimentos. O pegamos pela cauda e o animal ainda sem esboçar qualquer movimento. Então o colocamos em uma garrafa pet, a mexemos e... nada! Realmente qualquer um que não o tivesse se mexendo antes de o icomodar, diria que estivesse morto.
Então passamos a colocar álcool na garrafa, aí, inevitavelmente o aracnídeo começou a se contorcer.
Talvez fosse um tema a se tratar, até mesmo pois pode acarretar em algum aciente. Já vi essa tanatose ser aplicada por uma armadeira também (que aí no caso, pensei que estivesse morta, pois havíamos aplicado grande quantidade de produto sobre ela e, ao virarmos as costas, a "pilantra" havia escafedido!
Não querendo me alongar mais, pois já abusei, gostaria de tirar uma dúvida logo após ter lido este tópico Constâncio. Você diz que esta Mosca dos Banheiros leva o nome científico Clogmia albipunctat. Porém, no Manual Ilustrado de Pragas Urbanas (do IB) a tal praguinha foi inclusa na área de Mosquitos, com nome popular: Mosca-de-banheiro, mosca-dos-filtros e mosca-de-ralos. Já no nome científico está como: Psychoda sp.
Segue um parte da descrição dela:
"apesar do nome comum, a mosca-de-banheiro não é uma mosca verdadeira, sendo filogenéticamente mais próxima dos mosquitos."
Agradeço desde já a atenção dispensada.
Grande abraço.
Amigo Bruno. Desculpe-me pela demora me responder, mas, como não sou entomologista, tive que ir atrás da informação. Descobri que o nome atual da tal mosca dos banheiros é realmente Clogmia albipunctata, anteriormente chamada de Psychoda albipunctata. Portanto, considere como sinônimos. Por outro lado, pernilongos picam (têm o aparelho bucal em forma de agulha, sempre), enquanto que moscas lambem (a maioria, embora haja moscas picadoras). A probóscida da Clogmia é lambedora. Portanto...
ResponderExcluirPara tirar qquer dúvida, seria bom consultar o pessoal do IB, vc não acha?
Sobre "tanatose" obrigado pela sugestão. Vou preparar um post, OK?
Abx
Ok Constâncio!
ResponderExcluirMais uma vez obrigado pelas informações.